Noite de Margaritas

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• Pov Dul •

Eu e a May chegamos em casa no fim da tarde. Matt e Eleanor como sempre, estavam preocupados comigo, mas tratei de tranquiliza-los e dispensá-los dos afazeres para que pudessem descansar um pouco. Subi para tomar um banho enquanto a May revirava o meu closet a procura de um pijama decente para que ela pudesse vestir.
Tirei a roupa, joguei-a no cesto e entrei no box. Soltei o cabelo e liguei o chuveiro. Enquanto a pressão da água morna se desfazia sob o meu corpo, minha mente insistia em reviver os acontecimentos da noite passada. Aqueles momentos com ele que fizeram meu coração sair do compasso por alguns segundos.
Despejei um pouco do shampoo em minhas mãos e massageei lentamente a raiz dos fios.
Eu simplesmente não conseguia digerir o fato de que há poucas horas eu estava nua com ele, pra ele. Não conseguia entender como pude passar tantos anos repelindo qualquer aproximação, para que num estalar de dedos ele chegasse fazendo uma bagunça e eu permitisse que ultrapassasse todas as barreiras, todos os limites estabelecidos com tanto esforço...
Muito esforço...
As barreiras...
Os limites...
Estava exausta. Um suspiro escapou pelos meus lábios. Me permiti ser embalada pela temperatura agradável da água e fechei os olhos.
Deslizei os dedos ainda ensaboados pelo meu corpo, pelos meus braços... Minha mente de imediato resgatou o que havia fotografado daquele toque... O toque dele... Tão suave e eletrizante ao mesmo tempo... Há tempos eu não me sentia tão aquecida, tão segura, tão protegida, desejada... Havia me esquecido da sensação e agora aqui estou eu numa tentativa irracional de mapeá-la outra vez, mesmo sabendo que não devo. A sensação do meu corpo relaxado e aninhado ao dele, enquanto ele cantava. Suas mãos a deslizar pelos meus cabelos, minhas costas nuas...
Aqueles olhos castanhos perdidos em meu corpo. Seus lábios deslizando sob meu pescoço, meus ombros... O contato da pele, os arrepios... A energia trocada durante o ato... Os gemidos saindo abafados da minha garganta num impulso involuntário de prazer, a vontade de extravasar aquele sentimento...
Por que tão contraditório? Como um homem pode tão facilmente passar de um completo imbecil para um cara doce, sexy, carinhoso e para um imbecil outra vez?
Eu estava perdendo o foco. A entrega e as fotos... Não posso ignorar isso.
Já era de se esperar que num cenário em que ele finalmente parecesse seguro, o caráter sujo dele uma hora ou outra viria a tona.
Mas e se foi um mal entendido? E se...
Ah, qual é... Um álbum de casal e uma entrega no apartamento dele para uma mulher com o mesmo sobrenome? Quer dizer, quais as chances? Que prova maior do que essa eu poderia querer de que eu não devia ter me envolvido com ele?
Estava em um labirinto, buscando a saída mais assertiva entre minha mente e o meu coração e naquele momento, nenhum dos dois parecia me poupar do estrago e do sofrimento que tudo isso me traria. Fui fraca. E não sei se vou me perdoar por isso.
E o pior é que por mais que eu tente negar, eu sentia falta. Do toque, do beijo, da voz... mesmo depois de tudo que esse canalha me fez e depois de todos esses anos, eu ainda sentia a falta dele. Eu não consigo entender como... Passei os últimos 10 anos me treinando em força e autossuficiência para que jamais me faltasse nada. Mas as lembranças e a saudade dele estavam ali, escondidas em algum lugar, cavando um buraco silencioso em meu peito e deixando que o vazio aos poucos tomasse conta de toda a minha essência.
Mas tenho que pensar em mim. No meu bebê, que se estivesse vivo, não teria um pai. Nas noites que passei em claro chorando pela partida dele, me perguntando o que iria fazer para cuidar daquela criança sozinha antes de perdê-la. Na perda. Na dor. Que dor... Naquela maldita carta de despedida. "Não posso me responsabilizar por isso, não consigo."
Senti a ira formando-se em meu peito outra vez. Ergui a cabeça, deslizei as mãos pelos meus cabelos úmidos e desliguei o chuveiro. Engoli em seco.
Não vou me perder por uma noite de fraqueza em meio a tantas noites de resistência. Foi um deslize. Só sexo. Já passou.
Me enrolei na toalha, sequei o cabelo e saí do banheiro em direção ao closet.

Dul: May?
May: Aqui!

May estava agachada em um compartimento no fim do closet com uma lingerie preta de renda transparente em mãos.

Dois LadosOnde histórias criam vida. Descubra agora