Eu, Matt e Eleanor jantamos. Fora uma noite agradável e tranquila entre amigos, o que não acontecia há um bom tempo. Pela primeira vez eu me sentia longe de toda aquela complicação... Mas evito pensar nisso porque a cada vez que penso há um retorno de tudo que ocorreu, como um flashback de memórias soltas e acabo num looping dos meus desequilíbrios emocionais.
Eu: Gente, agradeço pelo jantar, pela recepção acolhedora de hoje e pelo apoio de vocês, mas agora vou subir, preciso trabalhar.
Eleanor: Sei que está focada nesse projeto, mas tente não exagerar. Me preocupo com a sua saúde. Não se desgaste tanto, um passo de cada vez, lembra?
Eu: Fique tranquila Elle, estou bem. Boa noite, Boa noite Matt! - Disse acenando para ambos.
Matt: Boa noite Dul!Peguei meu celular, que havia posto para carregar, meu notbook que estavam em cima do balcão da cozinha e subi as escadas em direção ao meu quarto. O clima aqui era bem frio em relação ao antigo apartamento. Me ajustei na cama com os meus edredons e travesseiros de forma que dessem o suporte que a minha coluna precisaria pelas próximas horas, abri o notbook e voltei à minha história.
Precisava continuar a desenvolver, preciso entregar esse projeto em 2 meses... Tinha várias idéias, mas não eram o que eu queria exatamente. Depois de tudo o que aconteceu, ainda tenho medo de nunca mais trabalhar como antes...
E assim horas se passaram, uma ideia surgia, eu escrevia, lia, relia e apagava. Várias vezes. Liguei o celular, eram 2:30 da manhã, graças a Deus, o barulho relaxante da chuva voltara com ela, o silêncio absoluto já estava ficando ensurdecedor.
Sinto falta de trabalhar no meu escritório, com as minhas coisas... estar trabalhando num espaço novo ao qual ainda não me habituei estava sendo complicado.
Antes eu tinha uma rotina, tinha um planner bem organizado, eu acho, mas extrapolei no meu último projeto, passei noites sem dormir, confesso que sabia que não estava bem, mas pelo menos, algo estava saindo disso. Consegui entrega-lo antes de surtar. Eu jamais havia me sentido daquela forma, mas tinha algumas questões pendentes há alguns anos e sabia disso. Uma hora ou outra eu ia ter que colocar isso pra fora e fiz isso da pior maneira possível. Na adolescência, tive crises de ansiedade, depois veio a síndrome do pânico... Para o meu pai, essa coisa de terapia, na época, era perda de tempo, então quem me ajudava com as crises eram minha mãe e meu irmão. O que deu certo, algumas vezes. As crises pararam, as sensações diminuíram conforme fui amadurecendo, mas resquícios do que passei ainda existem aqui dentro.
E acho que isso influenciou de várias formas na minha carreira e vida pessoal atual, mas sempre foi uma parte de mim, sempre fui muito intensa, não só com as coisas positivas. A bagagem de negatividade era enorme e ainda pesava bastante. As vezes me pegava retornando às situações incômodas que aconteceram há 10 anos com um ex namorado babaca ou com a minha família... Eu digo a mim mesma "Você agora é uma mulher, tem 28 anos, é independente, conquistou seu espaço, passou por muitas coisas e ainda está aqui, não existe motivo para isso agora!", mas a outra parte de mim, que ainda se enxerga como a mesma garota assustada e insegura insiste em relembrar o passado e em achar maneiras de se culpar por isso. O que me leva à impulsividade.
Ainda não havia tocado nesse assunto na terapia, mas pretendia, na tentativa de me entender melhor e às minhas atitudes. São pendências que deixei acumuladas por muito tempo, eu devo isso à mim mesma.
Voltando à escrita, dei uma olhada geral em tudo, sabia que não conseguiria passar daquilo por enquanto. Minha cabeça estava cheia com todo esse processo de mudança e o dia estava amanhecendo, então coloquei o notbook na escrivaninha e deitei-me na cama. Olhei o celular e outra vez, reli a mensagem enviada a minha mãe e vi que não estava nem perto de receber notícias dela... Mas tudo bem, sabia que uma hora isso se resolveria. Fechei os olhos e adormeci.Continua...
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Dois Lados
FanfictionDulce Maria é uma escritora de sucesso, tem muito dinheiro, poucos amigos, é responsável e atarefada, raramente consegue um tempo livre e quando o tem, opta por trabalhar em novos projetos. Escrever é a sua paixão, sua motivação diária, Dulce se ded...