Homens

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Acordei as 7:00 da manhã do dia seguinte. Fiz minhas higienes, tomei um banho, coloquei uma roupa confortável e desci para a cozinha. Matt estava preparando o café.

Matt: Bom dia Dul! Conseguiu dormir bem essa noite?
Eu: Bom dia... Na verdade passei a noite escrevendo e me revirei na cama a madrugada inteira. Tudo é muito diferente, não sei dizer exatamente o quê, mas não é apenas o ambiente. Com o tempo me acostumo. Onde está a Elle?
Matt: Ela está no jardim, o jardineiro veio hoje. Só um minuto que o café está quase pronto, me atrasei um pouco hoje.
Eu: Entendi, não tenha pressa, vou dar umas voltas por aqui.

Fui até a sala de estar, ainda estava frio e nublado, mas não estava chovendo. Olhei pela janela, o carro ainda estava parado em frente a casa ao lado. Como pensava, de fato era um Mustang GT500 azul. Não havia sinais de movimento pela casa, as janelas estavam todas cobertas pelas cortinas. Estava intrigada... Não que fosse da minha conta ou do meu interesse, mas uma ponta de curiosidade surgiu com a chegada daquele homem misterioso no meio da noite. De certo deve ser muito rico, com um carro desse porte e vestes daquele estilo. Mas como disse, não é da minha conta.
Me dirigi até a cozinha, abri a porta ao lado do balcão e fui ao jardim, Elle estava conversando com o jardineiro. Era um homem moreno, tinha olhos claros, usava uma calça rasgada nos joelhos, uma camisa de mangas compridas vermelha, uma bota de jardinagem e um boné preto. Estava agachado aparando uns pequenos arbustos quando cheguei.

Eleanor: Ah, bom dia senhora, que bom que acordou! Este é Zack o nosso jardineiro, combinamos que ele viria aos sábados pela manhã e nas quartas à tarde para cuidar das plantas, se não for incômodo.
Eu: Imagine incômodo algum! Prazer em conhecê-lo! - Disse estendendo a mão para o mesmo.
Zack: O prazer é todo meu! - Respondeu-me retirando uma de suas luvas, pegando a minha mão e beijando-a.
Eleanor: Precisa ver como ele mexe com as plantas, parece ter mãos mágicas, de uma delicadeza que jamais tive na vida.
Eu: Ah, você tem formação em botânica?
Zack: Na verdade não, meu pai era jardineiro, tinha uma paixão pelas plantas, apesar de não ganhar muito com isso, era o que ele mais gostava de fazer e bom... Foi uma das poucas coisas que ele me ensinou dentre as quais eu conseguia fazer direito, então aqui estou. No início não tinha muito apreço, mas com o tempo fui me identificando. Mas gostaria de cursar botânica algum dia, se tiver dinheiro o suficiente para pagar uma faculdade.
Eu: Entendo, de qualquer forma espero que um dia consiga, você me parece levar jeito.
Zack: E a senhorita, o que faz?
Eu: Ah, sou escritora.
Zack: Que incrível, além de bonita é inteligente e boa com as palavras.
Eu: Ah... Bem, obrigada! Fique à vontade, se me dá licença, vou entrar. Elle, você vem?
Eleanor: Sim, estou indo. Zack, qualquer coisa estarei aqui na cozinha, pode me chamar se necessário!
Zack: Chamo sim D. Eleanor, muito obrigado!

Eu e a Elle entramos.

Eu: Ele é meio esquisito não acha?
Eleanor: Por que diz isso?
Eu: Não sei, tinha um olhar estranho.
Eleanor: Sabe que ele estava te cantando não sabe? E é tão gentil, aposto que daria um bom namorado. - Disse dando um sorriso para mim.
Eu: Oh, por favor Ele...
Matt: Odeio interromper esses papos tensos de vocês, mas o café está pronto. - Disse Matt terminando de colocar a mesa.
Eu: Tudo bem, Matt, sei que estava ouvindo. A real é que não preciso de homens, já tenho problemas de mais e no fim todos eles só nos limitam e nos esgotam... Além do mais, só o que me importa no momento é a minha carreira, já tenho tudo que preciso. - Disse sentando-me.
Matt: Nem todos te limitam e te dão trabalho. Existe uma parcela de homens, assim, tipo eu, que estão ali pra somar, que te fazem se sentir completa. Talvez você é que nunca tenha se metido com os caras certos.
Eu: Mulheres não precisam de homens para se sentirem completas, meu querido. E se você fosse tão incrível assim, não levaria fora de todas as tuas namoradas... a última foi o quê? 2 semanas de relacionamento? - Disse dando uma risada meio abafada e derramando calda sobre as panquecas.
Matt: Valeu, Dul, não superei ainda, mas tudo bem. Eu sou um cara sensível ok? Nem todas as mulheres sabem lidar com isso.
Eu: Sei, sensível...
Eleanor: Só acho que deveria ser um pouco mais aberta a novas pessoas, novas experiências... Desde que a conheço, nunca a vi sair com ninguém. Faz bem se permitir as vezes, não é fraqueza e não há problema nenhum nisso.
Eu: Não acho que seja um problema ou fraqueza, só não estou disponível ok? Vamos encerrar esse assunto e comer antes que o café esfrie.
Eleanor: Ah... - Suspirou. - Está bem.

Desde que criamos uma certa intimidade a Elle pega no meu pé com esse assunto... Homens, novas experiências... Já tive experiências o suficiente com uns caras por aí para saber que são todos iguais e nenhum está a minha altura. Digo com firmeza, que não há homem neste mundo que me faça tirar os pés dos chão, que me impressione, que chegue sequer perto de me fazer sentir alguma coisa. E jamais haverá. Eu definitivamente não sou uma mulher que se derreta com qualquer coisinha. Eles acham que é só dar flores e oferecer chuvas de elogios pelas primeiras semanas para conquistar uma mulher que está tudo certo, então levam elas pra cama e tudo some, a máscara cai... e quando ficam e "assumem compromisso" (Se é que homem algum sabe do que isso se trata), depois de um tempo as tratam como lixo e a maioria aceita ser tratada assim porque já se tornou algo natural. Para minha sorte, eu me basto sozinha, jamais precisei de homem algum para nada nesse mundo e me sinto muito bem com isso.

Eleanor: Mas e então, esse tal vizinho que você disse que viu chegar, quem deve ser?
Eu: Não faço ideia, só espero que não me cause dor de cabeça. Parece ser um desses almofadinhas ricos que adora uma farra, bebida, música alta e estar cercado de mulheres interesseiras.
Matt: Soube de tudo isso por causa de um vulto que enxergou no meio da noite?
Eu: Não, mas já viu o carro dele? Quem é que anda com um carro chamativo desses por aí?
Matt: Ah sei lá, vai ver é questão de gosto...

Terminei as minhas panquecas enquanto Eleanor e Matt conversavam, tomei um pouco do café e me retirei da mesa.

Eleanor: Você só vai comer isso? Já vai subir?
Eu: Sim, preciso conseguir escrever alguma coisa até o almoço, à tarde irei a cidade fazer umas coisas e terei pouco tempo para trabalhar.
Eleanor: A senhora vai querer que eu a acompanhe até a cidade? Vou separar uma roupa e...
Eu: Não, tudo bem, eu vou sozinha, é coisa rápida.

Subi as escadas, peguei o meu notebook e fui até o escritório. Já tinha entrado lá antes de me mudar, quando o corretor me apresentou a casa, mas ainda não havia organizado minhas coisas no cômodo desde que me mudei. Seria mais confortável e eu me sentiria mais disposta do que no meu quarto em cima da cama e seria o mais próximo do meu ambiente de trabalho que poderia achar aqui.
Não havia muita coisa, apenas um carpete preto no piso, uma cadeira giratória executiva, uma mesa com várias gavetas, um porta canetas em cima e algumas pastas organizadoras. Havia uma janela com uma persiana ao lado, com a mesma vista para o jardim, um aquecedor embutido na parede, uma poltrona preta confortável, uma estante com alguns dos meus livros e outros dos meus autores favoritos e algumas prateleiras com algumas peças decorativas.
Sentei-me à mesa com o notebook e comecei a escrever. Precisava terminar a tempo, planejava ir ver a Titi hoje, a saudade já se tornara insuportável e uma das coisas mais difíceis em morar aqui era estar tão distante dela...

Continua...

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