• Os dedos da mão não são iguais •

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Verão

Há quem diga que aprecia os dias ensolarados, essa maravilhosa época do ano, piscina, praia e sorvete.

Eu não, eu odeio verões. Pois, geralmente eles vêm carregados de tempestades, tempestades essas... que causam enormes estragos.

Se não fosse pelas discussões no andar de baixo, vozes altas e coisas indo de encontro ao chão, eu certamente teria perdido o horário de comparecer a ONG. Sim, eu era voluntária em uma ong para crianças órfãs e todos os sábados eu ia até lá realizar atividades e dar um pouco de atenção e carinho, crianças totalmente encantadoras.

— O que está acontecendo aqui? – questiono ainda no primeiro degrau encarando a situação.

Minha mãe tinha seu cabelo curto e liso todo desgrenhado, enquanto seus olhos mais pareciam olhos de um panda devido ao borrado causado pela famosa máscara de cílios. Ao contrário de mim minha mãe respirava maquiagem.

— Não é nada filha. Suba para o seu quarto. – meu pai ordenou sem nem me olhar.

O seu pai tem uma amante.

Soltou o ultimato e eu senti minhas vistas escurecerem um pouco, me apoiei no corrimão e olhei para o meu que permanecia de cabeça baixa.

— Isso é verdade pai? – questionei descendo degrau por degrau até estar de frente a ele e poder olhar em seu rosto. — Me diga que isso que a mamãe falou não é verdade, por favor...

Para apenas dezessete anos eu já possuía problemas demais, não queria e nem precisava de mais um como a separação dos pais. Eu não suportaria aquilo.

— Não é nada disso. – ele disse por fim suspirando. — Mas a sua mãe já decidiu no que quer acreditar.

Minha mãe sorriu debochada e negou com a cabeça fechando os olhos, ela estava se segurando para não explodir, mas era inevitável.

— Você se atreve a mentir na frente da sua filha? – questionou em um tom mais alto. — FALA A VERDADE! – extrapolou.

— Não há verdade Márcia! A verdade é que você está equivocada! Eu não estou te traindo, eu não tenho nenhuma amante! – respondeu e pude ver sua voz vacilar um pouco. E então algo surpreendendo aconteceu, meu pai chorou, na nossa frente.

Ele nunca havia chorado antes, não para nós vermos.

— Então por quê gastou uma boa parte do nosso dinheiro sem me consultar? Gastou com o quê? – disse se levantando e caminhando até nós. — Tem vezes que você sai cedo e não vai trabalhar, mas também não dá nenhuma satisfação, fica o dia todo fora e...

— Meu pai está morrendo.

De repente um silêncio se estendeu por toda casa, Roger que havia acabado de acordar parou no meio da escada, estático.

— O vovô... – não tive forças de continuar.

Meu pai era brigado com o pai dele há mais de vinte anos, por algo idiota, mas que ele não se atreve a contar. Os dois não conversam, e meu pai age como se não tivesse um, e aquilo sempre foi intrigante para mim, mas a minha mãe parecia entendê-lo perfeitamente.

Apesar de meu pai não querer ver o vovô, ele nunca proibiu a mim e o Roger de vê-lo. Augusto Mendez, morava na roça sozinho desde que a vovó (mãe do meu pai)  faleceu, e foi mais ou menos nessa época que ocorreu toda a confusão. Eu me lembro dos fins de semana com o vovô quando era criança, das histórias, das tardes nos lagos, o vovô é incrível.

*Finalizada* Os Clichês não Existem Onde histórias criam vida. Descubra agora