All For Us (JUKE)

C A P Í T U L O 2

Julie Molina

Carrie e eu somos melhores amigas desde o oitavo ano, quando ela e Luke Patterson se mudaram para a nossa escola. Ao contrário do que muita gente pensa, nós não ficamos amigas de imediato, muito pelo contrário, eu e ela não nos demos muito bem no início. Não me lembro direito porque, mas sei que todo mundo do oitavo ano achava que a qualquer minuto iríamos sair na porrada.

Isso só mudou graças a Kayla, que começou a agir como uma vaca com a Carrie só por causa do Luke - o garoto causava tragédias hormonais nas garotas desde os treze anos, vai entender.

Era uma tarde quente e tediosa, e quase o oitavo ano inteiro estava enfornado no refeitório, para o almoço. Eu estava sentada em uma mesa, ouvindo música enquanto comia, foi quando vi Kayla empurrando Carrie para o lado, porque ela queria ficar perto de Luke. Ele até tentou fazer alguma coisa, mas Kayla não deu ouvidos - como sempre. Como eu era uma mini-curiosa-de-maria-chiquinhas eu fui até lá e me meti na briga, perguntando o que estava acontecendo. Foi assim que Kayla me respondeu:

- Não é da sua conta, sai daqui magrela.

Isso não me ofendeu, é claro, - tipo, ela me chamou de magrela e tá tudo bem, afinal eu sou mesmo - mas ofendeu Carrie. Ela se colocou na minha frente e disse a seguinte frase:

- Você é uma vaca! Deixa ela em paz!

É claro que fiquei surpresa, afinal, Carrie e eu não nos dávamos muito bem na época e nem falar comigo ela falava. Na verdade, acho que todos os seres humanos que estavam ao nosso redor, observando, ficaram surpresos.

E então, logo depois de dizer o que disse, Carrie empurrou Kayla de volta. Não sei o que aconteceu direito, mas as duas começaram a brigar, arrancando gritos de euforia de todo mundo naquele refeitório. Era um puxa de cabelo pra lá, um tapa aqui, e até rolar no chão elas rolaram. Kayla ficou com um arranhão enorme na bochecha, enquanto Carrie ficou com um olho roxo. E quem separou a briga foi Luke, que puxou a irmã para longe da futura "amiga colorida".

Foi divertido.

Enfim, desde daquele dia em diante, Carrie e eu somos inseparáveis. Até hoje ela odeia a Kayla, que nem olha mais na minha cara e provavelmente já se esqueceu que um dia fomos amigas. Eu não a odeio, apesar de tudo, apenas não entendo o que aconteceu com a gente. Mas, por sorte, o destino colocou Carrie na minha vida e agora tenho alguém com quem dividir fofocas e rosquinhas recheadas.

- Ele é muito gosto. - Carrie apoia os cotovelos nos joelhos, inclinando a coluna para frente.

Sigo seu olhar até o meio da quadra, onde Nick e Scott Lewis se alongam para a *EF. Scott Lewis é outro gostosão, e não estou nem falando de corpo, porque ele é um tanto magro, mas estou falando de beleza. De face. De rosto. De voz. De cabelo. De tudo! O cara é lindo, toca violão, canta e joga baseball no time da nossa escola. Ele é aquele cara da qual todas as garotas já tiveram um crush, mas que hoje em dia só acham ele bonitinho e um bom amigo - excerto Carrie, que está decidida de que quer se casar com ele, ter três filhos, um cachorro, um gato e morar em Nova York.

- Soube que ele está namorando Amanda Baker, do South High. - South High é a escola do sul, e é a maior rival da nossa escola quando o assunto são competições. Tipo, todas as competições.

- Não tá nada, ele tá namorando comigo. - Carrie faz bico. - Só não sabe disso ainda.

Dou risada, voltando a prestar atenção no restante dos alunos na quadra. Eu não faço EF, e já faz anos que eu estou nessa mesma. A culpa disso é da Doença Arterial Coronariana (DAC) - para resumir bem, essa doença basicamente interrompe o fluxo sanguíneo nas artérias que levam sangue ao coração. É algo muito comum entre gente velha, mas eu nasci toda errada, então é claro que eu tinha que ter algum problema no coração. E, quando eu tinha 11 anos, eu literalmente quase morri por causa dessa doença idiota, então fiz um transplante de coração. Naquela época, minha vida mudou de ruim para pior, e eu comecei a sentir como se não fosse eu mesma, afinal, o coração não era meu. Conforme fui crescendo, aceitei o meu destino de ser a garota com uma doença que poderia voltar a qualquer momento. Eu tenho muita sorte por ter conseguido um coração novo e, ainda melhor, continuar fazendo com que ele funcione direito, já não tenho problemas faz anos.