C A P Í T U L O 30

398 34 10
                                    

• Para uma melhor experiência deste capítulo, ouça Teenagers - My Chemical Romance.


Julie Molina

Minha primeira aula do dia é de história, com o professor Daniel, de vinte e poucos anos. Ele é legal, não julgo, mas a aula dele é um porre. Quando não estou dormindo, estou tentando fazer os exercícios, ou conversando por bilhetinho com a Carrie, ou desenhando alguma coisa no final do caderno. Desenhar agora parece ser a melhor opção, porque não me sentei no fundo da sala o suficiente para dormir em paz.

Enquanto Daniel fala e fala sobre a colônia inglesa no território que hoje chamamos de Estados Unidas da América, eu apoio o caderno na barra da minha mesa e rabisco nossa sala de aula com uma caneta azul. Uso meu ponto e vista, - da onde estou sentada - para desenhar. As pessoas são apenas silhuetas; deitadas com a cabeça na mesa, olhando para frente, escrevendo no caderno ou viajando na maionese enquanto olham pela janela. Até o professor é apenas uma silhueta de cabelos grandes, sentado em cima da mesa enquanto olha para nós e fala. Os mínimos detalhes tão na sala ao redor, como nas mesas, nas janelas, os pôsteres de incentivos ridículos colados nas paredes. Estou tão absorta no que estou fazendo, que nem entendo o que Daniel fala.

Olho para Luke, que teve de sentar lá na frente depois que chegou atrasado na aula. Ele está com uma mão apoiada na cabeça, entre os fios castanhos do cabelo, o bíceps flexionado e apertando a manga da camiseta branca. Parece distraído enquanto escreve no caderno com a outra mão. Uma correntinha de prata balança em seu pescoço a cada escrita bruta, como se ele estivesse passando para o papel palavras de raiva. Mal consigo ver seu semblante daqui, porque o braço cobre o rosto, mas vez ou outra há um ângulo que me permite a visão perfeita, ainda mais porque a luz do sol da manhã está batendo direto nele.

Penso em como eu adoraria desenha-lo agora, tão distraído, tão natural e bonito. Eu o manteria nessa mesma pose concentrada, e a luz do sol entrando pela janela iluminaria completamente o espaço atrás dele. Eu usaria um lápis fino, e seria uma das minhas obras mais delicadas.

De repente, Luke levanta o rosto e seu olhar vira-se para trás. Ele me encara e eu encaro de volta, mordendo a ponta da minha caneta. Por causa da luz do sol, seus olhos estão mais para verdes, um verde claro e intenso. Sustento o olhar por tempo suficiente, até lembrar de que estou com raiva por ele ser um idiota, então volto a prestar atenção no meu caderno.

Respiro pela boca entreaberta, sentindo as batidas do meu coração tão fortes que é como se ele fosse sair para fora do meu corpo.

...

O professor Daniel me chama para ir até a mesa dele, quando a aula chega ao fim.

- Percebi que você não tem prestado muita atenção na minha aula desde o início do ano letivo. - ele diz, mas não olha para mim porque está mexendo num monte de pastas e papéis. - O que está acontecendo?

Nesse minuto, me vejo presa a um dilema: contar pra ele que a aula é chata pra caralho, ou mentir e dizer que eu só não estou num bom momento. Se bem que eu não estaria mentindo, de qualquer jeito.

- Olha, eu sei que seus pais se separaram no início do ano, certo? Lá pra março, se eu não me engano. - continua o professor. É claro que ele sabe disso, é o conselheiro da escola. - Se estiver precisando conversar sobre alguma coisa, eu estou aqui. Só peço para que não se deixe perder durante as aulas.

- Ah... Ok. Obrigada.

Abro um meio sorrisinho, e me viro para ir antes que eu receba uma palestra grátis sobre como lidar com um pós-divórcio. Eu sei lidar com isso muito bem, obrigada.

All For Us (JUKE)Onde histórias criam vida. Descubra agora