4 - Jonatas

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Depois que Fabiola foi embora a rotina continuou, fingi que ela nunca tinha passado por aqui, que nunca a conheci, era mais fácil mentir para mim mesmo do que pensar no que poderia ser se

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Depois que Fabiola foi embora a rotina continuou, fingi que ela nunca tinha passado por aqui, que nunca a conheci, era mais fácil mentir para mim mesmo do que pensar no que poderia ser se...

Os "ses" eram muitos.

Ela tinha ido de boa comigo, me desculpou agora seria mais fácil para mim e para ela seguir adiante, não era?

Camila merecia me ter inteiro então me dediquei a ser quem sempre fui para ela. Deixando de lado as inseguranças e a atração por desconhecidas.

Eu, Camila, Gustavo e Vivi fomos a uma vaquejada que acontecia nas redondezas. Lá minha noiva armou o maior barraco porque outra mulher se aproximou de mim e me tocou.

Obviamente não dei trela, a mulher já chegou se oferecendo e pegando em mim, que me afastei no ato, Gustavo estava do meu lado e viu.

Só que deu tempo da Camila ver aí ela avançou na mulher. Ela era meio que... indomável, quando sentia algo colocava para fora antes mesmo de pensar.

Não a culpava, era seu jeito, e não que não tivesse razão, eu ficaria louco se visse algum homem tocando nela. Se ela soubesse que constantemente as mulheres me faziam isso e eu tinha que ficar me desviando.

Tinha ido para me divertir, beber umas cervejas, dançar, mas acabamos voltando logo por conta da confusão.

Fui deixar Camila em casa e dentro do carro me declarei.

Lhe disse o quanto a amava e tinha medo de perdê-la.

Era verdade, Camila era um porto seguro para mim. Alguém que eu tinha encontrado no momento mais vulnerável da minha vida e que tinha me dado forças para continuar sem nem saber que estava dando.

O fato de ela ter traumas e problemas talvez até piores que os meus me fez querer me dedicar a cuidar dela e fazê-la feliz esquecendo assim dos meus próprios fantasmas.

Camila era linda e apesar de eu não a desejar tanto quanto a Fa... Eu a desejava muito.

No escuro do carro nos beijamos e minha mão entrou na lateral da sua saia onde permaneceu brincando com a tira da sua calcinha.

Minha outra mão pegou na sua e colocou em cima do meu pau duro.

Seria tão fácil apenas acabar com aquele sofrimento. Ela queria, eu queria. O problema eram meus receios, e mais um tinha surgido: Eu agora tinha a dúvida se queria tanto assim.

Antes que pudesse esquentar mais meu pequeno cunhado bateu no carro e me deixou saber o quanto me detestava.

Ele destruiu o clima e Camila acabou entrando com ele.

Fui para casa sozinho, se é que aquilo podia ser chamado de casa, com a sensação de que tudo estava errado na minha vida, como sempre esteve.

Ao voltar pela estrada passei em frente a casa que um dia morei com minha mãe. Onde meu pai hoje vivia com sua mulher e três filhos.

Sempre que passava ali o passado começava a voltar com força como num filme eu vivia cada cena e sensação novamente, podia garantir que não eram nada boas.

Agora vinha à minha cabeça a forte lembrança da minha/nossa última noite ali.

A noite tinha sido infernal, meu pai bebeu muito e chegou tarde e embriagado como sempre, fiquei tremendo enquanto ouvia gritos e coisas quebrando.

Meu medo nem era por mim, ele nunca tinha me batido, mas pela minha mãe, eu sempre pensava que ele poderia lhe fazer mal, pois ela não era do tipo passiva, se é que tinha alguém nesse caso que conseguiria ser, ver seu marido chegar todo dia de madrugada do trabalho, sem um tostão porque gastou tudo em bebida.

E para acabar de completar eu ouvi quando uma vizinha veio fofocar para ela que meu pai estava de caso com uma mulher da região. Ele não dava conta nem da gente. Por essa razão a discussão de hoje estava ainda pior.

Eles faziam tanto mal um para o outro que eu tinha medo que a qualquer hora se matassem. Apesar de tudo eu não queria meu pai na cadeia ou morto. Por mais que às vezes eu o odiasse.

Durante o dia todo só tínhamos comido pão com ovo. Um apenas, foi o que conseguimos. Minha mãe mandou que eu arranjasse dinheiro emprestado com uma vizinha, porém ela não tinha e fui na mercearia comprar fiado, só que já não tínhamos muito crédito devido a demora para pagar das outras vezes.

O amanhecer foi um alívio, pois tudo parecia ter mais peso à noite, só que nem tanto. Eu estava com olheiras e mamãe também, ela me olhou com olhos vazios e pediu que eu arrumasse minhas coisas.

No fim ela mesma acabou por arrumar duas trouxas, uma minha e uma dela. Não tínhamos muitas coisas, eu tinha alguns brinquedos de plástico e madeira, os de madeira papai tinha feito.

Apesar de pouco eu não queria me desfazer do que tinha, muito menos da minha casa. Ela era muito humilde, um sofá velho na sala, móveis de segunda mão e algumas paredes da casa nem eram rebocadas, mas eu não queria ir para nenhum lugar que não fosse ali, pois era tudo que eu conhecia, nem queria ficar longe do meu pai, só que eu não tinha coragem de dizer a minha mãe isso, pois ele a tinha magoado muito.

Meu pai ficou dormindo de ressaca, ele sempre chegava atrasado no seu trabalho de pedreiro, isso quando não faltava, enquanto íamos embora. Eu segurei minhas lágrimas para não entristecer ainda mais minha mãe que não as controlava. Nunca senti tanto medo em minha vida e esse sentimento era muito presente nela, mas o desconhecido me aterrorizava.

Nós pegamos caronas em traseiras de caminhões pelo que pareceram anos para mim, eu estava exausto e faminto.

Quando chegamos ao destino pretendido foi uma tremenda decepção para mim. Quando falavam em cidade eu pensava num lugar incrível como nos filmes de ação que eu amava, com carros e casas bonitas, prédios e ruas asfaltadas.

O lugar onde chegamos tinha barracos uns em cima dos outros, morros e becos estreitos e assustadores e até casas em buracos. Casas realmente piores que a nossa.

Eu expressei meu descontentamento a mamãe e ela me explicou que a cidade era dividida entre ricos e podres e aquilo era uma favela.

A partir dali minha vida mudou completamente e infelizmente não para melhor.


A partir dali minha vida mudou completamente e infelizmente não para melhor

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