Eu domino

8 - Jonatas

Fabiola saiu deixando para trás aquela bomba, apesar do meu choque eu não pensei duas vezes fui correndo resolver tudo para regressar à cidade.

Eu não esperava jamais por aquela notícia apesar do meu descuido, estava há muito tempo sem sexo e não tinha uma camisinha, mas isso não era desculpa, a verdade era que no momento não estava nem aí para nada.

E também não queria de forma nenhuma que isso tivesse acontecido, como falei para ela eu não tinha nem onde cair morto, como iria criar um filho?

Mas ela me tranquilizou, ou não, dizendo que era muito rica e que isso nunca seria um problema, só que ela nem imaginava minha bagagem e que eu tinha mil razões a mais para abominar aquela ideia.

Porém já estava feito e não havia nada que eu pudesse fazer. Achei muito bonito da parte dela vir me avisar.

Ela pediu por minha ajuda, fez questão, isso me comoveu muito, tanto que eu faria um esforço sobre-humano mesmo não entendendo nada de crianças para ser o melhor pai e digno dessa confiança dela.

Uma garota como ela rica veio atrás de um Zé ninguém para criar o filho juntos. Ela nem por um momento pensou em se livrar dessa criança. Fabiola me surpreendeu de forma positiva.

O primeiro que fiz foi ir atrás do senhor Jairo para me demitir.

O homem muito acessível me recebeu de primeira, ele estava em seu escritório na fazenda.

— Boa tarde! Posso, Seu Jairo? — Perguntei à porta.

— Boa tarde! Entre rapaz, fique à vontade.

— Obrigado, com licença.

Respirei fundo e falei, detestava ter que fazer isso porque ele não merecia depois de ter me trazido de volta e facilitado tanto para mim.

— Eu vim aqui para pedir demissão.

Ele me olhou com aqueles olhos de conhecimento, sabendo que era estranho eu pedir demissão se tinha acabado de ser readmitido.

— O que houve?

Tive que contar, eu devia isso a ele.

— Tenho que regressar a cidade porque engravidei uma garota de lá.

Ele colocou a mão no queixo pensativo.

— Isso não tem a ver com a visita repentina da Fabiola, tem? — Ele era muito perspicaz.

— Sim, é ela. — Ele arregalou os olhos.

— Vocês jovens não perdem tempo, não é?! — Abanou a cabeça sorrindo.

— Mas você me orgulha, garoto, assume suas responsabilidades.

— É o mínimo que eu tenho que fazer.

— Muito bem, o que você precisa para ir?

— Nada, só sua compreensão e que aceite minhas desculpas por falhar com o senhor.

— Que nada, garoto. Você me deixa feliz por fazer o certo e ir assumir suas responsabilidades, sua nova família. — O peso daquela palavra "família" afundou meu peito.

No fundo foi o que sempre quis, não?

— De quanto precisa?

— De nada, senhor.

— Como vai encarar essa nova realidade sem dinheiro? Deixe de orgulho, diga.

— De maneira nenhuma aceitarei seu dinheiro. Mas agradeço por tudo.

— Orgulhoso como um homem deve ser. Precisando de ajuda não hesite em me contactar. De qualquer forma receberá seus direitos pelo tempo que trabalhou para mim.

— Muito obrigado por tudo. — Me aproximei e o abracei. Além dele me lembrei que ali me restava poucas pessoas para me despedir, alguns amigos, Gustavo, Vivi, minha tia, meus irmãos.

No mesmo dia consegui encontrar com todo mundo, meus amigos do alojamento; minha tia na fazenda; fui na casa dos meus amigos; encontrei meus irmãos na vila no final da tarde.

Resolvi tudo num dia só e ainda consegui carona com um amigo num caminhão de carga que partiria para a cidade antes do amanhecer.

Seu Jairo ainda insistiu em me transportar em alguns de seus veículos inclusive helicóptero, mas não aceitei.

Vivi ficou surpreendida com o fato de a Fabiola estar grávida, ela era do seu meio social, a conhecia bem e não a imaginava assim.

Os garotos ficaram arrasados quando eu falei que voltaria a morar na cidade. Como que era possível aqueles moleques gostarem tanto de mim? Isso me emocionava.

Eu não fiz promessas que não poderia cumprir, mas falei que eles voltariam a me ver para deixá-los mais tranquilos.

No dia seguinte levando apenas uma mochila nas costas parti novamente para a cidade que me trazia milhares de más recordações, mas para uma nova experiência que eu esperava ser mais positiva.