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"tudo em ti foi naufrágio!" - Pablo Neruda.

TAEHYUNG 

Bibliotecas têm cheiro de vida. 

Em frente a uma prateleira, o abrir de um livro é equivalente a abrir uma vida. Deve ser por isso que elas curvam tanto quando estão velhas, carregar tantos mundos nas costas não é nada fácil. 

Me considero um viajante. Contudo, não gasto tanto quanto alguns que saem de suas casas para conhecerem mares e árvores por aí. Para mim a coisa é mais simples, mas tão prazerosa quanto. Folhear um livro e deslizar os dedos por cima das palavras é como viajar e acompanhar as aventuras e desventuras de pessoas que sequer existem.

Seguro nas mãos um livro repleto de poesias. Um professor nos passou o trabalho de escolher três poesias de um poeta a nossa escolha, e fazer análises literárias sobre eles. Me animei com isso por ter liberdade para escolher o que eu quiser, e quem eu quiser. 

Contudo, minha animação se foi quando me lembrei que não sou tão familiarizado com poesias. Vasculhei as prateleiras à procura de um poeta que me chamasse atenção, mas nenhum me atraiu tanto quanto Pablo Neruda. 

Suas poesias eram tão intensas e cheias de paixão que não consegui segurar um suspiro a cada verso lido. 

Há um verso seu, da poesia intitulada de A Canção Desesperada, que diz assim: 

"Meu desejo de ti foi o mais terrível e curto, o mais revolto e ébrio, o mais tenso e ávido." 

Foi o verso mais lindo que já li na minha vida. Com poucas palavras, ele conseguiu descrever um desejo tão intenso que pode se tornar arrebatador. Mesmo que curto, como num piscar de olhos, é tão intenso que te deixa inerte, zonzo, bêbado. 

Um suspiro escapou pelos meus lábios ao terminar meu trabalho. Bem, metade dele, ainda faltam duas poesias. 

— Taehyung! 

Assustei-me ao ouvir meu nome e sobressaltei na cadeira, olhando para o lado e vendo Jeongguk com um sorriso no rosto. 

— Caramba, Jeongguk. Que susto! — exclamei, levando minha mão ao peito, sentindo o coração acelerado. 

Ele soltou uma risadinha e se sentou na cadeira ao meu lado, olhando para as diversas folhas espalhadas e livros abertos sobre a mesa. 

— Desculpa, não queria te assustar. O que está fazendo? Te procurei pelo campus todo. 

Suspirei. Meus batimentos suavizaram. 

— Ah... um trabalho. Escolhi analisar algumas poesias de Pablo Neruda. 

— Oh, sério? — exclamou, admirado — Gosto tanto das obras dele. 

Claro que gosta, pensei, enquanto sorria. Jeongguk pegou o livro com todas as obras do poeta e folheou, parecendo determinado a achar alguma coisa. Parou em uma página, molhou os lábios e proferiu os versos que lia. Sua maneira firme e suave de ler as palavras me causaram arrepios, e me hipnotizaram de tal forma que não consegui tirar os olhos dele. Nem dos seus olhos escuros, que corriam pelas palavras, nem dos seus lábios, que se moviam ligeiramente e majestosamente. 

até o último suspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora