11. Ponderações Noturnas

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Os flocos de neve dançavam no ar como pequenos bailarinos feitos de gelo, fustigando as bochechas de Lana. As lanternas espalhadas ao longo do caminho se provavam pouco eficientes para iluminar a noite, pois o vento selvagem sacudia seus corpos de vidro e fazia com que suas chamas tremessem. Apesar da iminência da nevasca, Lana conseguiu chegar ao lugar combinado e estava de pé na porta na hora devida.

Como todos os outros nobres importantes, a família Maldravos dispunha de sua própria residência. A fachada do palacete era muito bela e toda construída no padrão imperial: tratava-se de uma grande casa de madeira encimada por um telhado elaborado, com janelas de arcos aguçados e uma pequena escada que dava numa faustosa porta de entrada. A despeito da suntuosidade do exterior, a parte de dentro exibia incontestável simplicidade. Os móveis eram muito belos, de fato, mas não eram especialmente elaborados e nem estavam rodeados pelos artefatos que os ricos gostavam de manter perto de si. As poucas peças decorativas se encontravam bem distribuídas e ornavam perfeitamente com as cortinas azuladas. Todos esses detalhes compunham um ambiente muito aconchegante, no qual era possível repousar com elegância. Lana encantou-se automaticamente.

A porta da frente desembocava em um pequeno ambiente próprio para a recepção de convidados e, logo depois dele, havia uma sala de jantar. Ainda seguindo a moda da cidade imperial, a mesa principal era baixa e não contava com cadeiras, de modo que era necessário sentar-se no chão para comer. Isso não era nenhum incômodo, pois tapetes felpudos haviam sido colocados sobre as esteiras. Em um canto, chamas ardiam no interior de uma lareira arredondada, e belas pinturas decoravam as paredes. Sobre a lareira havia um mostruário todo feito de prata, que ostentava três espadas guardadas em bainhas belamente ornamentadas. Quando Lana entrou no recinto, seu olhar se dirigiu diretamente para elas e ela não pode evitar parar para admirá-las.

— Duas delas pertenceram ao meu avô, mas a outra era do meu pai.

Lana sobressaltou-se ao ouvir aquela voz e virou-se para dar de cara com o general Heng. Ele parecia ainda mais belo quando não estava usando sua armadura. Naquela noite, ele envergava um gibão verde bordado com fio de ouro e calças que combinavam, tudo acolchoado para resistir ao frio do inverno. Lana sustentou o olhar dele, mas tudo que conseguiu oferecer de volta foi uma reverência desajeitada e um sorriso tomado pela vergonha.

— São muito belas, Lorde Heng.

Ele sorriu de volta. Lana sempre se surpreendia quando ele fazia isso, pois Heng não havia sido uma pessoa sorridente nem mesmo em sua vida anterior. Ela desejava que ele fosse. Aquela visão sempre despertava algo indefinível dentro dela.

— Me disseram uma vez que é o adereço perfeito para a residência de um general. — com um gesto suave, ele indicou a mesa. — Por favor, fique à vontade. É um prazer recebê-la. Minha irmã fala bastante de você.

— Obrigada, senhor. — com igual suavidade, Lana tomou um lugar à mesa. — Eu também ouço falar bastante ao seu respeito. Quer dizer, todos na corte conhecem sua proficiência na arte da guerra.

— São apenas ossos do ofício, minha cara. — Heng disse enquanto se sentava de frente para ela, sorrindo.

Nina adentrou no ambiente esvoaçando em sua beleza. Naquela noite, ela havia posto de lado os trajes de assistente e envergava um belo vestido de seda sob um roupão de inverno. Aproximou-se de Lana com um sorriso escancarado, e tomou as mãos da amiga em uma saudação afetuosa.

— Eu não tinha certeza que você conseguiria vir. — ela disse. — O Palácio está uma confusão tremenda por causa do príncipe Ivan e eu temi que o Médico Imperial não te liberasse para estar conosco.

Lana deu um suspiro cansado.

— Eu não imaginava que o Salão da Chama Eterna pudesse ficar tão caótico. Fazia tempos que eu não corria tanto assim...

O Despertar da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora