A noite caía e uma chuva grossa obscurecia a estrada. Lana estava molhada e com frio, e começava a se sentir um pouco irritada. Aquele clima era tão incomum naquela época do ano quanto o caminho que se desenrolava a sua frente.
— Você tem certeza de que estamos no caminho certo, senhor?
Lana podia contar nos dedos os minutos que havia ficado desmontada desde sua partida. Apesar de a fuga ter sido facilitada por causa da Ordem de Partida (uma espécie de autorização emitida pelo próprio Imperador) que Heng trazia consigo (o que era bastante estranho!), a estrada se mostrou muito menos clemente do que os guardas do portão. A dupla tinha cavalgado a noite inteira e uma boa tarde da manhã, almejando ultrapassar a cidade de Proteia antes que alguém desse falta deles. Chegaram a fazer uma pequena pausa no meio da tarde, mas ela nem sequer foi o bastante para que pudessem descansar os ossos. Agora havia aquela terrível chuva, que só deixava tudo pior. Não havia nada no mundo que Lana não estaria disposta a trocar por uma cama, especialmente quando os dois pareciam estar tão perdidos.
— Devo admitir que não reconheço nenhuma dessas estradas. — o general respondeu. — Ainda sim, suponho que devemos estar muito próximos de Ariko quando considero a distância que percorremos... A não ser que, de algum modo, tenhamos nos perdido na neblina e dado a volta.
Considerando que estavam no começo da primavera, a neblina não deveria estar tão densa. Era impossível enxergar mais do que um palmo diante dos olhos e Lana e Heng tinham que ficar muito próximos para evitar se perder. Consternado, o general manobrou o cavalo, girando-o em seu próprio eixo, enquanto perscrutava o ambiente ao seu redor. Estava bastante frustrado devido à ausência de visão.
— Eu já fiz essa viagem mais vezes do que eu me recordo e mesmo assim...
— Talvez seria bom ter trazido um mapa. — Lana tentava omitir toda a sua irritação e cansaço. Não era culpa de Heng ter se perdido no meio de toda aquela neblina.
— Talvez. — Heng assentiu. Ele também parecia cansado. — Não parecia ser muito adequado. Quer dizer, todos os mapas do palácio têm aquele símbolo gigantesco do poder imperial gravado neles. Não acho que valeria a pena abrir algo assim em um lugar comum e ameaçar que descobrissem a nossa identidade. Preferi obter um em uma cidade próxima.
— Com razão, senhor. Ainda sim, estamos perdidos.
— Ainda sim.
— Talvez devêssemos dar a volta e tentar achar um caminho fiável do outro lado. — Lana sugeriu de modo acanhado.
Heng apenas concordou.
Retroceder parecia ser a única opção viável, mas já estava escurecendo. Lana puxou o capuz do seu manto puído de soldado sobre o rosto e atiçou a égua em direção ao sol minguante. Mesmo com toda aquela cerração, era esperado que houvesse pelo menos mais uma hora de luz. Apesar disso, tudo que restava do sol era um brilho tênue na linha do horizonte. Depois de algum tempo de caminhada, Heng parou e apontou.
— Lana, veja. Aquela rocha meio inclinada... Topei com ela nas vezes anteriores em que fiz esse caminho. Da última vez que passei por ela, o mundo ainda estava gelado e havia um monte de neve em seu entorno. A estrada imperial deve estar próxima.
Coisa nenhuma.
Não havia sinal da estrada imperial e nem de qualquer outra. Por mais que eles andassem, permaneciam presos sempre no mesmo descampado, sem nenhum sinal de uma cidade próxima ou de outras pessoas.
— Talvez seja melhor voltar. — Heng disse.
Lana preferiu não retrucar. Se ela fosse obedecer a seus próprios desejos, teria que se lançar do cavalo e começar a chorar. O corpo todo doía sob o peso da armadura e seus olhos pesavam. Ainda havia toda aquela chuva, que continuava a cair como tinha caído no início do mundo e continuaria a cair, ao que tudo indicava, até o fim dos tempos.
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O Despertar da Fênix
Fantasia🥇 CLASSIFICADA COMO UMA DAS MELHORES HISTÓRIAS DE FANTASIA PELO WATTPAD FANTASIA LP EM 2022 🥇 Lana Altharian chegou a ser líder do maior Império do mundo, mas perdeu tudo o que mais importava depois da terrível traição de seu marido. Após de ser c...