13. A Consorte

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— Você não imagina do que eu fiquei sabendo. — dizia Nina em tom alegre. — Aquele velho caquético do Magistrado Simas vai finalmente se aposentar. Vem alguém de longe assumir o seu lugar e dizem os boatos que é um rapaz muito bem apessoado. Jovem, rico e, o melhor de tudo, solteiro.

As duas estavam sentadas no Jardim Imperial e dividiam alguns damascos suculentos. Embora os mestres de Lana permitissem que ela provasse carne ocasionalmente, as frutas eram proibidas para grande parte dos servos, especialmente no inverno, quando eram tão raras.

— Lana! Você sequer está me ouvindo?

Uma parte dela escutava, mas o restante da sua atenção estava fixa no coreto do outro lado do jardim, bem onde o Príncipe Herdeiro se sentava. Apesar da recuperação milagrosa, Ivan ainda exibia uma terrível aparência de doente. Havia emagrecido muito e a pele estava amarelada e flácida, com longas marcas roxas estampando a linha sobre os olhos. Ninguém entendia como ou por quê, mas ele estava vivo e a cada dia parecia ficar melhor. Lana tinha visto com seus próprios olhos a longa linha branca que agora traçava seu abdômen, uma cicatriz superficial frente a ferida de outrora. Diziam as más línguas que ele só havia se recuperado graças a um estranho ritual que roubara a alma de Otto e a transferira para ele, mas Lana custava a acreditar. Mesmo assim, o Segundo Príncipe tinha desaparecido e o herdeiro do reino parecia florescer a cada novo dia...

— Ouvi sim. — Lana disse. — Rico e bonito, além de solteiro.

Nina assentiu positivamente, mas ainda parecia meio insatisfeita.

— Pelo amor dos deuses, você não pensa em se casar?

Nina estava naquela idade em que as meninas só pensavam em casamento. Lana, que vivia aquela época pela segunda vez, não conseguia pensar em nada que gostaria de evitar mais.

— Na verdade não, senhora.

— Existem muitos bons pretendentes no Palácio Real. — Nina saboreou a fruta por um momento antes de continuar, e Lana teve a sensação de que ela também saboreava a ideia que se formava em sua mente. — Como o meu irmão, por exemplo.

Lana apenas levantou a sobrancelha e Nina encarou esse sinal como um incentivo para continuar.

— Nossos pais morreram quando éramos crianças e ele sempre cuidou muito bem de mim. Logo após ficarmos órfãos, fomos mandados para partes muito distintas do país. Meu irmão não desistiu de mim. Ele descobriu qual era a casa de moças que me abrigava e andou mais de três mil quilômetros para me resgatar. — Nina abriu um grande sorriso. — Você não adoraria ter um marido tão dedicado a você?

Lana sorriu, constrangida.

— Seu irmão é um nobre de alto escalão, senhora, e eu sou apenas uma serva. Mesmo que houvesse interesse, não seria possível.

Nina entendeu como uma resposta positiva, mesmo que não fosse essa a intenção de Lana.

— Nem sempre fomos ricos, querida, então não se preocupe. Pode apostar que meu irmão está interessado. — Nina então puxou uma carta de dentro da manga. Desenrolou-a rapidamente e apontou para um parágrafo específico. — Envie saudações para Lana quando a vir. — ela leu. — Saudações, Lana! — e caiu na gargalhada.

Os olhos de Lana varreram o pergaminho, mas ela desistiu de entender qualquer coisa. As cartas que Nina e seu irmão trocavam costumavam estar todas criptografadas em um código que só os dois sabiam decifrar. Essa medida era adotada porque Heng costumava informar a irmã de sua posição e seria muito problemático se tais referências caíssem nas mãos dos inimigos.

Lana intentou uma resposta, mas nesse instante sua atenção foi capturada por uma nova figura que chegava ao coreto. Era uma mulher de estatura média e pele de porcelana, cujos cabelos dourados pareciam brilhar tanto quando o sol. O pesado manto de inverno que ela usava sobrepunha seus trajes inferiores, mas Lana percebeu quando ela o afastou ligeiramente e deixou antever o pequeno volume em seu ventre. Então tudo aconteceu rápido demais. Foi como uma breve faísca, mas estava lá, bem presente no olhar que os dois trocaram. A mão do Príncipe Herdeiro tocou a dela rapidamente e, por fim, ela se foi.

O Despertar da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora