18. Irreconhecível

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NINA

Nina colocou pousou delicadamente a bandeja sobre a mesa e puxou o pano que a encobria, desvelando a seleção de nobres doces que ela havia preparado para a sua senhora. A consorte Alina pegou um rolinho de amendoim e o girou nos dedos com desdém. Quando o doce tocou sua língua, sua face se crispou em uma expressão de desgosto.

— Intragável! — ela disse engasgada.

No mesmo instante, Nina sentiu seu coração afundar.

— Como ousa servir uma coisa nojenta como essa para a esposa de um Imperador? — a consorte inquiriu, irritada. — Eu devia mandar cortar seus dedos, já que eles parecem não ter nenhuma utilidade!

Sem saber como reagir, Nina rapidamente se inclinou numa referência profunda e assim permaneceu, assumindo uma postura servil e arrependida. Ao contrário do esperado, isso serviu apenas para deixar Alina ainda mais irritada.

— Ora, levante-se! — disse ela enquanto gesticulava apressadamente. — Você nunca vai aprender se não olhar nos meus olhos enquanto eu estiver falando com você!

— E-eu sinto muito por ter desagradado a senhora. — Nina titubeou, forçando-se a manter a própria voz firme. — Prometo que não vai mais se repetir.

As bochechas da consorte encheram-se do tom vivaz do ódio e, em um movimento impensado, ela arremessou a bandeja com os doces direto no chão, transformando o trabalho de Nina numa massa grudenta e disforme.

— Não ouse! Não importa quantas vezes você repita isso, você nunca, nunca melhora! — e deu um pontapé na bandeja caída, lançando-a para longe. — Não sabe alinhar minhas roupas nem deixar o quarto em ordem, além de ser uma desgraça nas artes culinárias. Eu juro, criança, se não estivéssemos presas uma a outra, eu teria te lançado as cobras há muito tempo!

Nina sentiu o corpo todo tremer. Queria ter podido conter as próprias emoções, mas, quando deu por si, as lágrimas já escorriam por sua face e salgavam seus lábios. Quis muito vocalizar um pedido de desculpas, mas tentar dizer algo naquele momento apenas invocaria soluços. Então, sem ter escapatória, ela se limitou a ficar em silêncio e com a cabeça baixa, ouvindo e sentindo todo o peso da reprimenda sobre si.

Alina limitou-se a soltar um suspiro longo.

— Ótimo, agora eu sou a vilã! — exclamou irritada. — Olha o que me fez passar, ainda mais na frente de um príncipe!

Ivan, que estava sentado na outra ponta da mesa esse tempo todo, sequer deu sinal de estar interessado na confusão. Bebia tranquilamente o seu chá enquanto fitava as árvores do jardim imperial, alheio a toda cacofonia das mulheres.

— Ande, aprume-se e limpe toda essa bagunça. Não quero ver um farelo! — Alina apontou irritadamente para o chão. — Por culpa sua, meu filho vai nascer de cara amarrada...

Era uma superstição comum acreditar que a criança nasceria feia se os desejos alimentares da grávida não fossem prontamente atendidos. Nina havia dado seu melhor para satisfazer sua senhora, mas ela sabia que sua própria ausência de talentos era um fato conhecido. Nina não sabia bordar, cozinhar e nem recitar poesias. Não servia para dona de casa. Sua única utilidade eram os segredos que guardava.

Quando se levantou, Alina parecia muito mais desajeitada do que furiosa. Sua barriga parecia ter um peso descomunal e o rosto, magro e abatido, lembrava o de um doente. Ela deixou a mesa sem pedir permissão para o príncipe, como seria polido, e desceu as escadas do coreto atrapalhadamente. Enquanto via sua mestre se afastando, Nina não pôde deixar de pensar que quando o vento levava seus cabelos, outrora tão sedosos, eles pareciam palha sob o sol, finos e prestes a se quebrar.

O Despertar da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora