Capítulo 4

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Gwen observou a mulher adormecida, sentindo o coração pressionar-lhe o peito. Com um longo suspiro, deixou a magia escorrer pelo seu corpo, dissipando-se, a beleza e os feitiços que escondiam a verdade desaparecendo. Quando encarou o seu reflexo, prensou os lábios, sentindo uma raiva consumi-la. Incomodada, virou a cara, afastando-se. Com um gesto, removeu as cordas que prendiam Rapunzel à cadeira, o corpo levitando até pousar suavemente numa cama que ali se encontrava, escondida pela escuridão.

        A jovem aproximou-se, observando por alguns minutos o rosto adormecido da Rainha de Corona. Recordava-se vagamente da bebé dos cabelos dourados que a mãe raptara, crescera com ela e costumava observá-la, nas raras vezes que Rapunzel passava perto do seu quarto, escondido numa das paredes da torre. Recordava-se da sua voz; a rapariga passava o dia a cantarolar e a falar sozinha, nunca se cansando do som da própria voz. Recordava-se das vezes que lhe quisera dizer que não estava sozinha, quando a ouvia chorar à noite.

         Não tinha nada contra Rapunzel. Na verdade, acabara por vê-la como uma irmã, prisioneira pelos desejos loucos de Gothel, tal como ela. Passou às mãos pelos cabelos castanhos da mulher, lembrando-se da sensação de tê-los dourados contra a sua pele, os olhos verde-musgo de Gothel fixos nos seus enquanto lhe dizia:

"Olha para este poder, Gwen. Sente a magia percorrer-te o corpo, garantindo a tua juventude, a tua beleza. Um dia, irás agradecer-me pela dádiva que partilho contigo."

A filha de Gothel rangeu os dentes, largando-nos fios de cabelo de Rapunzel. Nunca iria agradecer aquela bruxa o que ela lhe fizera. Prendera-a num corpo que não refletia a sua idade, alterara o seu curso natural da vida e agora Gwendolyn sofria as consequências do que a mãe lhe fizera. Olhou para o rosto de Rapunzel, tão pacífico enquanto o seu corpo travava uma batalha contra o veneno que Gwen a forçara a beber. Era tão má como a mãe. Tão egoísta como Gothel fora. Contudo, havia algo que tinha de admitir: por causa de Gothel, era agora uma bruxa muito mais poderosa do que a mãe alguma vez fora.

Pestanejou, sentindo o coração apertado. Rapunzel. Rapunzel estava ali deitada, adormecida por um veneno que ela lhe dera, a única pessoa que alguma vez poderia compreender o que ela sofrera às mãos de Gothel. Seria aquilo mesmo necessário? Não poderia ter simplesmente pedido ajuda a Rapunzel ou até mesmo a Rhiara?

Gwen abanou a cabeça, afastando aqueles pensamentos para longe.  Era tarde demais para arrependimentos. Rapunzel era nada mais do que um meio para atingir um fim, a forma que tinha para conseguir o que queria, a prova de que maçã podre nunca cai longe da árvore.

Ela era filha de Gothel. Ninguém tinha dúvidas disso e não estava na hora de Gwen duvidar de si mesma. Como dissera a Rhiara...

Ela era uma vilã.

         Gwendolyn lançou um último olhar a Rapunzel, por quem um dia sentira algum tipo de afeto. Depois, virou-lhe as costas, fechando a porta atrás de si e deixando a Rainha sozinha, fechada a sete chaves no quarto que criara para ela.

        Desta vez, era Gwen quem teria o seu final feliz.

        Desta vez, era Gwen quem teria o seu final feliz

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