Gwendolyn endireitou os ombros, ouvindo o ruído do chocalhar de chaves a aproximar-se. Ergueu os olhos, fitando com surpresa disfarçada a jovem que abria a porta da cela com um sorriso singelo, deixando-a aberta.
- A que devo o prazer da visita de Sua Alteza? - provocou a mais velha, vendo a outra revirar os olhos.
- Sua Alteza tem nome. - ripostou Rhiara, com uma careta - Já me basta o resto das pessoas me tratar assim. E o que achas que estou aqui a fazer? Trazer-te um cafezinho e uns biscoitos?
- Não era mau pensado. Gosto de café.
- Estou aqui para te libertar, Gwen. O teu tempo encarcerada terminou.
A mulher dos olhos verde-musgo encarou a Rainha, baixando um pouco a guarda e permitindo que Rhiara a lesse com mais facilidade. Viu o alívio nos seus ombros descaídos, a esperança no seu olhar... e viu o medo. Aquele medo que Gwen escondia por baixo de respostas tortas, frieza, paredes que erguera sobre si mesma. Questionou-se se que tinha ela tanto medo, embora suspeitasse. Vira a forma como Gwen fitara Gothel, meses antes. O desprezo que sentia, a necessidade de se arrepender e corrigir os seus erros, o desespero para salvar Rapunzel.
Ou Rhiara estava muito enganada ou Gwen tinha receio de ser igual à mãe.
- Quais são as condições? - questionou a vilã, com uma ponta de sarcasmo na voz.
- Conversei com o meu Conselho. - fez um gesto com a mão ao ver o olhar de confusão de Gwen - Juntei algumas pessoas da minha confiança para formar o Conselho Real. Os meus pais, Audrey, Harry, Uma... Entre eles, chamei algumas pessoas do povo, mulheres e homens de confiança que sei que me dirão a verdade em relação ao que o povo pensa e precisa. Concordamos que estava na altura de te deixar ir mas...
- Há sempre um "mas".
- Não podes ficar em Corona. - continuou Rhiara, ignorando-a - Foi difícil convencer o meu pai sequer a deixar-te ir, depois de quase teres morto o amor da vida dele. Para o tranquilizar, a ele e ao povo que te receia, decidi... Bem, de certa forma, estás banida de Corona por tempo indeterminado. Lamento, foi tudo o que consegui fazer. - fez um trejeito entristecido - Para além disso... Se decidires regressar para a Ilha dos Perdidos, estás proibida de praticar Magia Negra e Necromancia. O Ben e a Mal estarão de olho em ti e não serão piedosos se te apanharem.
- Maravilha. Ou seja, não posso regressar ao lugar onde nasci e estou desempregada. - Gwen suspirou, abanando a cabeça - Mais alguma coisa?
Rhiara assentiu, estendendo-lhe a mão para ajudá-la a levantar. De sobrolho franzido, Gwen observou-a, vendo o brilho travesso iluminar os olhos esmeraldas da nova Rainha de Corona.
- Quando é que me ias dizer que continuas doente?
- Nunca. Porque achas que me deves alguma coisa?
A mais nova abanou a cabeça, soltando uma risada seca.
- Eu não te devo nada. Mas, querendo ou não, salvaste a minha vida... depois de a teres colocado em risco, obviamente. - Rhiara encolheu os ombros - Não me chamam "Rainha Benevolente" ou "Defensora dos Vilões" por nada. - sorriu abertamente, mostrando o seu contentamento com aqueles nomes - Todo o vilão tem uma história e tu não és exceção. Quero dar-te uma segunda oportunidade.
- Eu...
- Por favor não digas que não queres porque senão terei de fazer chantagem e usar a cartada de "tu puseste a minha vida e a da minha mãe em risco, o mínimo que podes fazer é tudo o que eu quiser."
A filha de Gothel prensou os lábios, sem saber o que dizer. Toda a vida desejara apenas ter o reconhecimento da mãe. Em adulta, aceitara a sua Morte com facilidade, não vendo qualquer utilidade na vida. Não tinha família, sonhos, amores ou amigos. Vivera encarcerada por demasiado tempo, presa à doença do seu corpo, demasiado fraca para fazer mais do que usar magia para ganhar dinheiro e comer alguma coisa pelo caminho.
Nunca quisera mais porque não havia mais. Ela estava a morrer. Lentamente. O corpo viciado no poder da Flor Dourada passara mais de vinte anos sem a sua droga, perecendo a cada dia, cada suspiro seu retirando a pouca energia que restava.
A jovem à sua frente estava a oferecer-lhe tudo o que uma pessoa normal quereria: mais tempo. Mas para fazer o quê? A única coisa que ambicionara não acontecera como imaginara. Ressuscitar Gothel não lhe trouxera nada mais do que dor. Não houvera o amor que procurara. O orgulho. O reconhecimento. Nem mesmo as respostas que queria ouvir.
Tudo o que Gothel lhe fizera fora para seu próprio benefício... até o seu nascimento.
- Tu podes encontrar a felicidade. - ouviu Rhiara dizer, como se lhe lesse os pensamentos - A minha mãe está disposta a conhecer-te. Até convenceu o meu pai a dar-te uma oportunidade. Auradon e a Ilha dos Perdidos estão diferentes, mais unidos, com mais ofertas de emprego, estudos, uma melhor qualidade de vida para toda a população. - fez uma pausa, inclinando ligeiramente a cabeça para a fitar com um sorriso contido no rosto - Eu tenho um trabalho para ti. Não tenho ninguém que perceba de magia e por vezes pode ser necessário para resolver alguns problemas. Ben tem a Mal a perceber de feitiços e encantamentos mas a Rainha de Auradon tem outros afazeres também por isso... Pensei em ti. Depois de conquistares a confiança de toda a gente, claro.
Gwen mordeu o lábio para controlar as emoções. Não queria mostrar as suas fraquezas e ficava horrível a chorar. Gothel ensinara-a a ser bela, forte, a esconder emoções para não vacilar. "Homens aproveitam-se das fraquezas das mulheres",dizia-lhe ela, nas poucas horas que passavam juntas, "Uma lágrima no teu rosto e nunca mais terás poder novamente".
Mas Gothel já não estava ali e a Feiticeira da Lua nunca se sentira tão perdida. Não tinha nada para voltar. Nada para lutar. Nada para ambicionar.
Ela era uma folha em branco. Podia escrever a história que quisesse. Ser o que quisesse e não o fruto de uma mulher louca.
Ergueu o rosto, aceitando a mão que Rhiara lhe estendera. A rapariga bondosa sorriu, vendo a decisão nos olhos dela. Ainda assim, Gwen queria verbalizar. Queria dizer as palavras que mudariam a sua vida.
- Cura-me, Rainha Rhiara.
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MOONLIGHT [2] - Descendentes ✔️
FanficLivro 2 🌙 Rhiara é a filha adorada de Rapunzel e Eugene, princesa de Corona, futura rainha do Reino do Sol. Herdeira dos poderes curativos da Flor Dourada, permaneceu fechada a vida toda... até fugir para salvar a sua melhor amiga e tudo mudar. Um...