Prólogo

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Era uma manhã fria e chuvosa,assim como todos os outros aqui em Londres.O céu se dispunha de nuvens acinzentadas e carregadas.O sol permanecia escondido, ocasionando um clima álgido e melancólico, incapaz de aquecer corpos encolhidos e bem agasalhados. Minha epiderme queimava a medida em que o ar gélido adentrava a recepção, causando calafrios por todo meu corpo.

Enquanto batucava os dedos contra o mármore do balcão e encarava a porta de entrada como se magicamente alguém fosse aparecer,aproveitei para checar minhas mensagens.Peguei o celular com certa dificuldade no bolso de trás do jeans apertado e analisei todas as notificações.Ao me certificar que Adam não havia me mandado nada desde a noite passada,resolvi tomar uma iniciativa.

"Precisamos conversar."

Foi tudo que consegui digitar no momento, visto que minha mãos tremiam e meu coração batia freneticamente dentro do peito,por ao menos cogitar a ideia de terminar um relacionamento tão duradouro.

Infelizmente nos últimos meses,nossa relação havia esfriado um pouco.E após ficar esperando por horas no meu apartamento por sua chegada que não aconteceu, percebi que aquilo já havia acabado há um bom tempo.

— Querido, você trancou a porta? — a voz da minha mãe soou, despertando-me dos meus devaneios – deixei o celular sobre o balcão e observei quando ela correu até a porta de entrada e a destrancou para um casal de idosos que adentrava o hotel — Bom dia,fiquem a vontade.

— Eu não tranquei, mãe. — digo baixinho,assim que minha genitora se aproxima com uma expressão séria — Eu juro.

— Tudo bem,vou verificar a disponibilidade dos quartos.Você pega as malas? — assinto,dando a volta no balcão e caminho até o lado de fora,onde as malas se encontravam.

Os dois novos hóspedes conversam com minha mãe, enquanto eu me esforço para pegar as malas que parecem pesar uma tonelada.Minha mãe está animada e o sorriso não desaparece de seus lábios um segundo sequer.É bom vê-la feliz assim.

Ela comprou o prédio quando completei cincos anos de idade.Ela trabalhou duro e com muito esforço transformou o local em um hotel que fica localizado próximo ao aeroporto da cidade,o que acaba sendo lucrativo.

As ruas estavam completamente cobertas por uma neblina.Um fina garoa caia sobre a cidade, deixando rastros úmidos pelos meus fios de cabelo.

Passei pela porta com dificuldade pelas grandes malas e inspirei fundo devido ao esforço excessivo.Apoei as mãos na cintura e observei quando um rapaz saiu de um táxi do outro lado da rua e correu na direção do hotel.A chuva se intensificava o que ocasionou em um homem adentrando o local com as vestes levemente unidas.

O homem era alto.Ombros largos,pernas compridas e cabelos volumosos,com cachos castanhos que deslizavam por seus ombros cobertos por uma camisa social branca.Ele passou uma das mãos,repletas de anéis pelos fios molhados e olhou diretamente para mim com seus olhos verdes e intensos.

— Bom dia,preciso de um quarto. — diz de forma educada, aproximando-se com cautela — Precisa de ajuda? — aponta para as mala,sem tirar seus olhos dos meus.

— Bom dia.Alguma bagagem? — pergunto assim como todas vezes – sou um bom recepcionista quando quero,claro.

— Apenas essa mala. — diz,se referindo a mala de mão que carrega — Por enquanto.

— Quarto individual? — ergo as sobrancelhas e fico na ponta dos pés no intuito de espiar por cima do seu ombro – o rapaz de olhos verdes franze as sobrancelhas e nega.

— Com cama de casal,por favor.

— Pretende ficar quanto tempo? — ele parece ponderar sobre minha pergunta — Ou ainda não sabe?

— Um mês mais ou menos.

— Okay,pode ir até o balcão, minha mãe irá fazer seu cadastro. — digo sorrindo de maneira simpática,me inclinando para pegar as malas outra vez.

— Tem certeza que não quer ajuda? — seu olhar preocupado paira sobre mim, causando-me uma espécie de curiosidade.

Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, minha mãe se aproxima do rapaz, cumprimentando-o com seu jeito extrovertido e animado.O rapaz de olhos verdes me encara uma última vez antes de segui-la até o balcão.

Solto um suspiro cansado e pego as malas novamente, levando-as em direção ao elevador.
Aperto firme no botão número 02 e me viro para o espelho, ajeitando a franja que insiste em cair sobre meus olhos.Antes que as portas se fechem, consigo visualizar pelo reflexo quando o rapaz de cachos e sotaque forte adentra no mesmo cubículo que eu.

Seu olhar me avalia de cima a baixo,sem qualquer tipo de discrição.Seus olhos verdes capturam os meus pelo espelho, deixando-me levemente estagnado.

— O senhor me parece sofisticado demais para um hotel como esse. — comento ainda o observando pelo reflexo – sua mandíbula bem estruturada se contrai e seu olhar encontra o meu mais uma vez — Não conseguiu encontrar um cinco estrelas?

— Aqui tem tudo que preciso para minha estadia. — o rapaz disse,com um pequeno sorriso nos lábios cheios e avermelhados — Aqui é perfeito.

Virei-me em sua direção ao notar que se aproximava do andar onde eu deixaria as malas.
O homem a minha frente desviou o olhar no mesmo instante, fixando as orbes verdes em seus próprios sapatos.

— Há um panfleto sobre a mesinha de cabeceira onde o senhor pode estar verificando o horário de funcionamento da academia e da lavanderia. — eu disse, ganhando sua atenção mais uma vez.Suas bochechas e a pontinha do seu nariz se encontravam avermelhadas pelo frio.

— Academia? — um lampejo de excitação atravessou seus olhos — Como eu disse,esse é o hotel perfeito.

Ele malha?Oh que grande novidade.
Com todos esses músculos e essas curvas bem delineadas, já era de se esperar.

— Posso ajudar o senhor em algo? — pergunto assim que as portas do elevador se abrem no meu andar.

— Me chame de Harry. — sua voz soou ainda mais rouca que o normal e eu apenas assenti, acenando com a cabeça e saindo com dificuldade do cubículo com aquelas malditas malas pesadas.

Turning PageOnde histórias criam vida. Descubra agora