Capítulo 21 - Onde é traçado o limite.

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O clima nos céus estava frio. 

Não era frio de congelar, pessoas tremendo ou algo assim. A tensão no ar era palpável e fria. 

Uma reunião no salão marcial com a presença do mestre do fogo e todos perceberam que ele não estava em bons termos com sua Majestade. 

O imperador ficaria quieto e evitaria falar com o ruivo se não fosse necessário, deixando todos angustiados pelo o que pode ter ocorrido. E com isso, foi notado que o limite foi ultrapassado. 

Algo aconteceu e com isso a relação já quase inexistente dos dois se tornou nula, sem muitas chances. O que alegrou aqueles que queriam ter uma chance com o ruivo ou os novos deuses marciais que queriam se aproximar do imperador. 

Fora que durante a uma semana que se seguiu após Wang flagrar o imperador saindo do motel, ele iria ao seu templo e ficaria no quarto do sacerdote-chefe por um bom tempo, apenas deitado na cama enquanto observava o outro trabalhar em documentos na mesa que havia no quarto, de frente para a lareira. 

"... Jovem mestre, aconteceu algo?" O sacerdote perguntou, de início pensou que o outro estava fazendo aquilo para lhe pressionar, mas ficou claro que não era isso. Ele ficaria ali, deitado e quieto olhando-o trabalhar.

"Hm… o amor é uma merda."

"Não nego." Se permitiu rir, a imagem do moreno de olhos dourados dançou em sua mente e em seguida, a imagem de seu irmão morto seguiu ao fundo. Já havia se acostumado com aquela imagem lhe vindo à mente. Ainda doía, mas não como antes. 

"Hm, o imperador é um idiota. Eu pensei que ele estava sério sobre mim e até iria me aproximar mais…"

"Sim… pera, oi? Imperador? Pei Ming?" Olhou a pequena bola vermelha de tecidos sobre sua cama. De dentro dela você podia ver duas íris azuis cristalinas brilhando, lágrimas querendo descer. "Tantos deuses… logo ele?" Se aproximou da cama e se sentou ao lado dele, com o pequeno Deus engatinhando para seu colo e deitando a cabeça em sua perna. 

"Eu sei, tá? Eu tentei me afastar, mas ele começou a investir sobre mim, não me deixando em paz… Eu pensei que daria certo, só que não foi… no primeiro fraquejar, ele desistiu."

"Bom, ele é orgulhoso da masculinidade dele. De conseguir o que quer quando quer, não será fácil no início pois ele vai estar lutando contra si mesmo."

"Hm… mesmo assim… eu quero um relacionamento estável, me casar e ter filhos. Não ter que me preocupar em dividir."

"Eu não ligaria em dividir se fosse dos dois." O ventinho diz, uma risada escapando por seus lábios. 

"Devemos nos casar então? He-xiong vira nosso pet." O ruivo olhou para cima, pensando em como aquela pessoa era bonita com sua aura brilhante. 

"É tentador. Quem sabe?" 

O clima estranho se dissipou ao vento, os dois ficaram conversando e dividindo suas histórias até a manhã seguinte. Se tornando mais próximos e mais companheiros. 


O tempo passou rapidamente. Wang continuaria a ir ver Qing Xuan quando não tivesse trabalho e os dois ficaram conversando por horas e horas. Um ouviria o outro falar, para depois inverterem as posições. 

"Sua mãe era diferente? Como assim?"

"Sim, papai uma vez me falou que conheceu a mamãe em uma missão ao leste, no Reino de Yor. Ela era diferente. Seus cabelos castanhos pareciam brilhar dourados na luz do sol e seus olhos eram a mistura de cores, entre azul, verde e cinza. Mudariam de cor de acordo com o humor dela, então o papai sempre sabia como ela estava no dia pelos olhos da mamãe." O jovem sorriu ao lembrar de seu pai se gabando de como conseguia decifrar a esposa. "Ela era pequena, quando se conheceram, papai achou que ela fosse uma criança, mas ela apenas era menor que a média."

"Parece que você puxou isso da sua mãe." O jovem de olhos verdes passou as mãos nos fios vermelhos, um sorriso brincalhão em seus lábios. 

"Todos que são altos demais… o mundo é absurdamente grande… Não sou baixinho." Um fofo bico se formou nos delicados lábios vermelhos, os olhos azuis desviando de direção. 

"Sim, claro. Continue."

"Bem, mamãe seria gentil, mas crítica em alguns quesitos e não haveria pessoas que a odiasse de fato. Até a primeira esposa gostava dela no início e se dava bem, até ela ser consumida pelo medo de perder seu posto." Suspirou, observando as chamas da lareira. "E, certo. Minha mãe não sabia falar a nossa linguagem. Ela parecia entender, mas não conseguia se comunicar."

"Era a linguagem de outro Reino?"

"Os estudiosos do Reino nunca ouviram aquela linguagem, chegando a conclusão que não pertencia a nenhum. Alguns acharam que a mãe seria um fantasma ou um ser imortal de eras passadas, mas ela se mostrou humana quando ficou doente um dia. E quando ela aprendeu a nossa língua, nunca falou nada de sua origem, apenas afirmando ser de um lugar distante."

"Oh, já pensou se é de outro mundo? Isso explicaria sua beleza que ultrapassa os limites." Trançou os fios vermelhos, fazendo uma longa trança e a prendendo com uma fita verde que antes prendia os cabelos castanhos do jovem sacerdote. 

"Eu pensei isso quando me contaram a história."

O silêncio se estendeu, agradável e confortável. Era estranho, os dois eram pessoas quebradas por diferentes motivos, traídos ou sozinhos ao seu modo, mas que pareciam juntar os pedaços e colá-los de novo a cada interação que tinham. Se aproximavam e criavam juntos uma camaradagem e amizade que não parecia real. 

"Terminei. O que acha?" Deslizou os dedos por cima da trança, indo até o cabelo que teimava em cobrir as orelhas do menor, as trazendo para atrás da orelhas e as tocando carinhosamente, apenas para sentir o corpo menor se contrair e um baixo gemido escapar pelos lábios avermelhados.

"Hmmm~"

Aquele som era agradável, na verdade ascendia algo dentro do maior, que continuou a tocar as pequenas orelhas com delicadeza, elas esquentavam e foram ganhando uma coloração avermelhada. 

"S-senior… por favor, pare…" O corpo menor ofegava, perdendo suas forças perante os estímulos que recebia. 

"Isso… é seu ponto fraco? Suas orelhas são regiões erógenas?" Queria parar, realmente queria. Só que se viu continuando a tocar ali e ouvindo os doces gemidos e os baixos pedidos para parar, que o excitava. 

Então percebeu o que fazia e parou, o corpo menor se chocando contra o seu, tremendo e ofegante, sem qualquer força. 

"A-Wang, me desculpe. Não fiz por maldade, tá? É que você estava tão fofo e isso foi excitante e-!!!" Sua mente ficou uma confusão, sentiu a pequena mão pousar sobre seu braço e abaixou o olhar para ele, encarando os nublados olhos azuis que brilhavam mais que qualquer luz. Eram tão puros e sedutores. 

"Tome a responsabilidade por seus atos, Qing-xiong." O menor conseguiu se pronunciar após se acalmar um pouco. As bochechas coradas, um fofo bico em seus lábios e seus olhos ainda nublados pelo prazer e lacrimejando. 

Aquela era a visão da real tentação. Da real perfeição. 

Shi Qing Xuan se perguntou como infernos Pei Ming não agarrou esse pequeno ser antes. E então se decidiu, antes de qualquer vingança, antes de qualquer dor, seguir em frente era necessário e ele não ligaria se fosse com aquele pequeno, fofo e lindo deus ruivo. 

"Se é o que meu shidi deseja, irei assumir toda a responsabilidade." Sorriu, o mais verdadeiro desde que sua vida virou o caos. 

Pegando o pequeno corpo e o arrumando em seu colo, abraçando-o e aproveitando o doce perfume que dançava pelo ar. 

Não era um desejo. 

Uma paixão ardente. 

Ou um amor que supera mundos. 

Era uma amizade e carinho enormes, que juntou duas almas quebradas, que se curavam na presença um do outro. 

O mestre do fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora