Nível 3.

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4 anos e meio atrás, 18 anos.

Estava concentrada na prova sobre história do design, pelo menos era só um fingimento. A prova era de múltipla escolha e eu tinha terminado antes do tempo mínimo de entrega, logo deu tempo suficiente para minha cabeça ficar voltando ao passado, tal comportamento que estava se repetindo diversas vezes naqueles dias. Voltei a reencontrar Karin depois de alguns meses depois de uma dedicação total que tivemos no início da faculdade e era como se nada tivesse mudado entre a gente. Eu me sentia empolgada em ter minha melhor amiga de volta, mas ao mesmo tempo não me senti bem, no final, acabei me lembrando de meses muito anteriores, tão anteriores quanto o início da faculdade, lá para o final do colegial.

O final do meu relacionamento que mal tinha começado e terminou de forma rápida e indolor para mim, apesar de todo rancor que guardei e ainda guardo dentro de mim.

Não quero me envolver. Dessa vez é sério.

Não quero dar meu coração para pessoas que não fazem parte do meu círculo social, parte da minha pequena redoma. Pessoas machucam e mesmo sendo a megera insensível que já fui acusada algumas vezes, eu saí machucada, se não, nem rancor eu teria guardado.

Karin não estava mais me enchendo o saco sobre garotos desde que terminei com Utakata, mas antes de começarmos algo e mesmo estando juntos, ela tentou me convencer inúmeras vezes que a gente nunca daria certo e fazia isso me apresentando colegas, conhecidos, qualquer cara que ela achasse que combinasse comigo. Ela me apresentou inúmeros amigos, amigos de amigos, diversos caras que pudessem ter algo em potencial comigo aos olhos dela e isso durou quase um ano. Por um tempo estava divertido, mas depois começou a me irritar e mesmo assim, ela não parou. Karin estava levando os meus potenciais ficantes ─ para começar eu não ficava com ninguém ─ para o colégio e depois para nossas saídas, até que um dia feliz Utakata foi até o colégio me buscar e as coisas não acabaram bem. Era ciumento também, apesar da cara sempre séria e com os seus incríveis olhos dourados serenos.

Todos viam algo que eu não via.

"Qualquer cara, menos Utakata" dizia Karin. Na época ela viu uma coisa que todos perceberam, menos eu por ser inocente demais.

Eu era um prêmio de um cara de 20 anos que nunca namorou, mas que não apoiou eu me revelar uma garota para o público na época ─ mesmo depois de terminados ainda não fiz isso ─ pois ele se sentiria humilhado. Eu fui boazinha demais. Ah, como é engraçada a vida. Eu apenas tinha aceitado na época e estava tudo bem, a gente não se via direito por morarmos longe e quantas vezes eu queria sair, ir no cinema, fazer algo e ele preferia tentar me alcançar no ranking nos competitivos dos jogos na época.

Nosso namoro era uma competição de um só jogador. Um estava ocupado tentando superar o outro, enquanto eu, a jogadora ausente, tentava fazer o outro ficar offline.

Grande merda de relacionamento. Utakata era um cara muito bonito e inteligente, não tinha comportamento de um homem, era um garoto que só pensava em si mesmo no fim, mas tinha bom papo e sabia falar sobre qualquer assunto que eu quisesse, mesmo que às vezes contra sua vontade, ele sempre cedia a tudo que eu quisesse falar ou fazer. Começamos a nos falar intimamente quando eu estava com problemas em casa por me sentir solitária demais e ele também, então viramos o ombro amigo que precisávamos. Bom, até que sabemos onde isso foi parar.

Um frio na barriga ridículo, uma paixonite idiota.

Não me arrependo de ter combinado de sair com ele e ter me revelado ao vivo como uma garota, era como se ele esperasse algo do gênero, no caso um garoto afeminado, já que me achava gay. Depois do nosso primeiro encontro nada convencional, tivemos vários outros mais sérios. Ele roubou meu primeiro beijo no cinema, foi meus primeiros amassos, mas não a primeira transa, não consegui me envolver tanto assim. No fim, a insensível estava sempre lá, presente, esperando para voltar.

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