Midoriya olhou de um lado para o outro a procura de alguma coisa, ou alguém. Talvez seus olhos estivessem caçando Bakugou inconscientemente ao visualizar a imagem de Uraraka abaixada na grama, as mãos cobertas por luvas especiais maiores que seus finos dedos para lidar com os espinhos das rosas vermelhas que delicadamente cuidava. Outras, arrancava do solo e posicionava numa cesta ao seu lado.
Izuku ainda não sabia o que sentia em relação a ela. O que deveria sentir, afinal, a não ser uma estranha e distante apatia cravada no relacionamento entre os dois?
Pobre Ochako. Ela o havia o tratado tão bem, mas soava simplesmente incomum para Izuku demonstrar um sorriso verdadeiro quando perto da garota.
— Quem é ela? — A voz de Shouto, sentado logo ao seu lado atrás de uma moita, interrompeu seus pensamentos. Piscou diversas vezes pelo susto.
— Ah. Eu não sei — Não era exatamente uma mentira. — Mas ela parece satisfeita, não parece? As vezes consigo esquecer que as pessoas podem ser felizes em Callas.
— Impressionante a maneira como consegue subestimar seu próprio reino — Murmurou, distraído com a doce melodia que ecoava no ambiente.
— Gostar do reino e gostar do castelo são coisas bem diferentes.
As palavras de Shouto rodavam pela mente de Midoriya.
"Sou o mesmo que ele?"
"Sou tão frio quanto ele?"— Você acha que todos os ômegas cantam bem assim?
— Se considerar versos sussurrados e muito mal aproveitados cantar, então sim. Caso contrário, nem todos os ômegas são artistas — Todoroki a observava com atenção, os lábios levemente abertos. — Talvez seja algo exclusivo das mulheres.
— Eu duvido muito que...
— A conheço de algum lugar — Disse Shouto. Finalmente. Ele havia estado tão concentrado, seguindo o conselho de Deku mais cedo sobre ouvir a si mesmo, e agora finalmente havia se recordado do rosto de Uraraka, se virando para o esverdeado quase que animado com a descoberta. — Sim. Assim que cheguei no castelo, foi a primeira pessoa que vi.
— Deve ter sido uma linda primeira impressão.
— Espere, não é só isso. Ela não estava sozinha, andava com o parceiro, um... cavaleiro. Eles riam juntos. Para ser exato, a primeira impressão que tive de Callas foi o amor.
Midoriya não conseguiu deixar de imaginar a cena que Todoroki vivenciou. Katsuki a xingando, ela retrucando irritada, sorrindo, uma mão no ombro dele. O alfa se inclinando na direção do ouvido dela e sussurrando palavras que ninguém mais poderia ouvir. Ochako queimando em ruborescer.
Amor.
A mulher continuou mexendo nas flores do jardim real, cantando, amando, uma jardineira vinda de lugar nenhum.
O que diabos Izuku sabia sobre o amor? Nada, ele percebia, a encarando com um breve brilho dolorido no olhar. Se os olhos são a janela para a alma, certamente perceberiam que estou machucado.
Foi quando Uraraka os encarou de volta, a música subitamente parando e o sorriso desaparecendo com a surpresa de ter uma pessoa a olhando por trás de uma moita ao longe. A segunda havia se escondido atrás das folhas o mais rápido que conseguiu, e não o suficiente.
— Você acha que ela nos viu? — Izuku sussurrou alto, deitado no chão onde não poderia ser visto. Sua infelicidade surgiu ao olhar para o lado e perceber que seu cúmplice não havia nem ao menos o seguido.
— Estávamos escondidos? — Disse Shouto.
— É claro! Pelos Deuses, Todoroki.
— Sinto muito. Eu não imaginava- ela está acenando para mim.
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3 A.M: O Conto da Lua Escarlate
FanfictionShouto é ômega. Izuku é beta. Em uma sociedade hierárquica onde relacionamentos fora da normalidade alfa x ômega e beta x beta são abominados, Midoriya Izuku se vê perdido em meio a um furacão de importantes soberanos de sangue azul, reis e rainhas...