Destino Negado

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Deku não tinha nada a perder. Não mais. Não seu amor.

Ou melhor, não ainda.

A porta dupla se abriu.

— Izuku, querido, estes são membros da família real Todoroki. Mais precisamente, Todoroki Enji, o respeitoso rei de Flamínia — Clara os apresentou passando por cima da voz e obrigação dos cavaleiros, os braços abertos em um suposto aconchegante abraço a distância. — E Todoroki Shouto, um dos príncipes. É um imenso prazer tê-los em minha casa.

Midoriya seguiu o olhar para a impressionante e potente presença do rei de Flamínia conforme ele andava a passos firmes para o centro do cômodo. Seus olhares se cruzaram por uma fração de segundo, suficiente para fazer com que o beta jurasse ter sentido se arrepiar por inteiro ao mero contato com os olhos grandes e azuis. Era seguido por uma figura pequena atrás. Endeavor, de bela coroa em meio ao cabelo ruivo, trajava um dos mais bonitos manto escarlate que Izuku já vira arrastando pelo chão que ele passava, a gola feita de pele macia o suficiente para fazer com que o esverdeado morresse de vontade de experimentar no próprio pescoço. As roupas por baixo eram negras com detalhes em laranja e vermelho vivo como o sangue, coberto por joias e correntes douradas enroscadas no peito disputando o brilho contra o candelabro de ouro do local.

Cidadãos de Flamínia também eram conhecidos por seu orgulho e narcisismo. Cortes na vestimenta superior de Enji davam vista para as tatuagens em ondas de sua barriga que subiam pelo corpo e terminavam no pescoço e braços, pele a mostra, pele que cidadãos de Callas escondiam. Midoriya gostaria de parar de olhá-lo, e não sabia como.

A expressão fria do rei transparecia pura e sincera superioridade. Seus feromônios? Izuku não sabia. Não os sentia. Mas conseguia ter a ideia de como eles deveriam ser ao olfato: simplesmente melhores.

Até que o príncipe desviou o olhar para a figura menor ao lado dele que, diferente do pai, demonstrou o mínimo de respeito e se curvou breve e rápido. Não abaixou a cabeça ao fazê-lo, e trajava roupas curtas, uma camisa apertada que terminava no topo do estômago e curtos shorts. Quase poderia se passar por um alfa se Deku não houvesse sido ensinado a distinguir as raças, e caso não trajasse uma grossa coleira em volta do pálido pescoço. Acima do pomo de adão o símbolo de Flamínia decorava a coleira do jovem ômega Todoroki Shouto.

Como se pertencesse a alguém.

— Filho — Chamou Clara antes que Midoriya pudesse criar qualquer tipo de conclusão para o príncipe.

— Eh? Ah, eu-, hm...

— As informações que me passaram estavam incorretas — Enji se pronunciou. A voz era exatamente como Izuku imaginou que seria: grossa, levemente rouca. Apenas menos alta que a de Clara, que quase sempre falava como se estivesse dando uma palestra para uma plateia de súditos. — Não me foi informado que o garoto seria tão estúpido ao ponto de não saber falar.

— Pai — Advertiu o outro Todoroki, baixinho. — Não agora.

— Quieto, Shouto — E Shouto obedeceu. — Tivemos de esperar incontáveis horas no caminho para cá, e é isso que recebemos? — O homem se dirigia diretamente para a rainha, igual a todos os outros que pisavam ali, mas apontando o indicador para Izuku. — Minha paciência não dura para sempre, mulher, já aturei suas palhaçadas por tempo suficiente. Diga. Ou o trato está feito, ou não está!

Izuku se surpreendeu. Esperava a resposta mais dura e maluca possível sair dos lábios de Clara, xingamentos (elegantes), que ordenasse os guardas que esperavam do outro lado da porta para expulsarem a pessoa que a chamava de "mulher" como se quisesse insultá-la. Mas ela não o fez. Ao invés disso, abriu um sorriso impressionado por presenciar a temida fúria de Endeavor em primeira mão.

3 A.M: O Conto da Lua EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora