Dois dias se passaram.
Yaoyorozu, atolada em trabalho que não envolvia seu protegido, ainda não havia chegado nem perto de arrumar as malas para sair de férias e viajar para Mahi, sua amada e infinitamente distante terra natal.
Midoriya e Shouto não haviam trocado nem mais uma palavra após o ocorrido na sala de reuniões. Inconsciente Izuku o evitava, desviando olhares quando o via pelos corredores apesar de gostar da ideia nunca realizada de parar como uma estátua e manter-se quieto no aguardo de Todoroki passar por si, analisando as cores distintas no olhar do príncipe de Flamínia.
Ou apenas acenando com a cabeça e exibindo um sorrisinho que pessoalmente achava ridículo, mas que não conseguia evitar. Quando percebia seus lábios já haviam se moldado em seja lá o que aquilo fosse. Vergonha? Timidez?
Mas uma hora teria de acontecer, não? Eles teriam que trocar palavras. Talvez frases em relação ao tal motivo pelo qual Todoroki agora morava no castelo em primeiro lugar: os dois deveriam decidir, juntos, se iriam se casar ou não. Esse era um medo real, não saber o que dizer caso Shouto alegasse que, sim, os reinos seriam melhores se evoluíssem unidos em matrimônio.
E Clara não queria.
Izuku não queria.
Todoroki queria? Mesmo se fosse um "sim", ele realmente desejava a ideia de sacrificar tanto pelo seu povo?
Deixando seus pensamentos rudes e turbulentos de lado, Midoriya decidiu que iria sair para o jardim e aproveitar a linda tarde que iluminava o labirinto de flores. Já se fazia um tempo desde a última vez que dera uma escapada diante dos olhares de cavaleiros que supostamente não deveriam permitir que Izuku saísse do castelo. Steven havia designado dias específicos para o lazer de Midoriya desde o início, mas como Bakugou esteve com ele no início, essas regras nunca haviam sido de fato seguidas.
"Esse Katsuki é uma má influência para ele, Steven. O que iremos fazer?" Clara dizia na época como se Midoriya não estivesse logo ao lado escutando.
"Temos que ocupá-lo com algo. Fazer com que passe menos tempo perto do garoto."Assim, eles fizeram do alfa um cavaleiro. Fizeram com que Katsuki alimentasse o prazer da luta que martelava no peito. Deku chacoalhou a cabeça para todos os lados, sem paciência para lidar com o passado.
Ele escapou por uma janela ligeiramente alta caindo com as botas na grama que amorteceram a queda. Em sua mão direita residia uma espada de madeira para treino que arrastava na terra conforme andava criando um rastro invisível, cantarolava baixinho, a garganta vibrando. Era uma canção familiar, mas que não conseguia lembrar da origem. Poderia ter ouvido quando era criança.
Foi quando Midoriya viu alguém trajando um uniforme que se recordava de ter visto antes, original de Callas. Os tecidos tampavam a pele, deixando para a imaginação de Izuku questionar se tinha tatuagens ou não. Os terrenos e morros entornando o castelo eram enormes, terreno de solo real por dentro dos muros, e ele pôde notar aquela peculiar pessoa em campo aberto treinando com o que parecia ser uma espada de verdade após poucos minutos de caminhada.
Ela estava sozinha, andando para frente e para trás atacando o tronco ferido de uma árvore indefesa. Sua cabeça estava coberta com uma máscara neutra de cores claras que cobria suas feições.
Se ao menos pudesse ver o cabelo eu saberia quem é, Izuku pensou diante de sua nova curiosidade desde que conhecia a quase todos no castelo.
Bom, o que fazer, então? Foi óbvio que Midoriya aumentou a velocidade de seus passos antes entediados, correndo na direção do desconhecido e o pegando completamente desprevenido - não era à toa que costumavam chamar Izuku de leve como uma pena por aparecer em lugares sem ser visto chegando -, e riu breve para não ser confundido por um possível inimigo.
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3 A.M: O Conto da Lua Escarlate
أدب الهواةShouto é ômega. Izuku é beta. Em uma sociedade hierárquica onde relacionamentos fora da normalidade alfa x ômega e beta x beta são abominados, Midoriya Izuku se vê perdido em meio a um furacão de importantes soberanos de sangue azul, reis e rainhas...