Não era novidade alguma para os empregados ou visitantes que passavam tempo suficiente dentro do castelo saber que Midoriya era ágil. Rápido. Sumindo pelos corredores de dia e se esgueirando a noite, leve como uma pena, ganhando de competitivas corridas quando era desafiado pelos cavaleiros no jardim real. Sentindo-se mal com as vitórias, acabava por consolar os de armaduras, homens e mulheres frustrados diante da derrota.
Portanto, naturalmente, era complicado para Shouto acompanhar a velocidade de Izuku.
— Vá mais devagar!
— Não posso. Se diminuirmos o passo vão nos encontrar. Aguente só mais um pouco!
Todoroki encarava a sua frente mesmo que enxergasse pouco, os sentidos confusos após ter sido atacado pela chuva repentina de feromônios de alfas, os reis e rainha poderosos dos dois reinos mais influentes do continente lutando inconscientemente por território e um ômega perdido no meio. Havia sido cruel, o bicolor pensava. Muito cruel.
Por algum motivo que Shouto não conseguiu entender e não teria tempo para pensar, ele não havia sentido o cheiro de Midoriya na sala de reuniões.
Imaginou ter ouvido a voz de Izuku cumprimentando alguém, mas não teve certeza. Sua tortura enfim terminou quando reparou não estar sendo levado para um lugar afastado onde certamente seria machucado caso quisessem se aproveitar de si: tinha sido arrastado até um banheiro do segundo andar. Antes, eles haviam estado no terceiro. Quando Shouto desceu as escadas? Nem ao menos se recordava.
Sua mão subitamente foi solta voltando a se tornar fria e a porta do banheiro fechada, Midoriya se sentando no chão e recostando nela ofegante após a fuga. Todoroki correu até uma das diversas pias na parede, a mais distante, abrindo a torneira com rapidez. Juntou as mãos em concha na água corrente e lavou o rosto diversas vezes, a água gelada o fazendo estremecer.
Shouto respirou fundo. Levantou a cabeça para olhar-se no espelho, lenta e gradualmente voltando ao normal. Estava deplorável com a visão de sua face agonizada pelo mal estar, fios de cabelo molhados grudados na testa, as pupilas dilatadas quais as de um animal descontrolado. Apertou as palmas das duas mãos com força na pedraria da pia elegante, deixando os nós dos dedos brancos, abaixado até estar sentado no chão na ponta dos pés. Com as mãos ainda para o alto, a postura uma vez impecável desapareceu perante os olhos do beta.
— Todoroki, você está bem? — Izuku perguntou o mais formal que conseguiu. Não o conhecia. Também não recebeu uma resposta. — Eu... preciso saber se é necessário que eu chame alguém. Há uma médica por aqui. Por favor.
— Sim — Shouto murmurou. A voz falha era ligeiramente similar à de seu pai. Deku não pôde ver seu rosto desde que se encontrava virado para a parede, mas visualizou Todoroki soltar a pia e agarrar o tecido da camisa na altura do abdômen. — Vou ficar bem. Não estou no cio.
— Certo.
Izuku se pôs a analisar a situação que, de algum modo, não parecia errada ou rachada. Haviam fugido para respirar se recompor. O beta de olhos cerrados parou de encarar Todoroki e abraçou ambos os joelhos. Nenhum dos dois era príncipe naquele segundo, por mais que ambos usassem uma coroa.
— Foi estúpido — Shouto disse, soando um pouco melhor ainda na mesma posição. Talvez, se não observasse Midoriya, poderia esquecer o quão perigoso poderia ser estar com feromônios descontrolados perto dele.
A vida seria definitivamente mais fácil se todos soubessem sobre a verdadeira natureza do príncipe de Callas.
— Te tirar de lá?
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3 A.M: O Conto da Lua Escarlate
Fiksi PenggemarShouto é ômega. Izuku é beta. Em uma sociedade hierárquica onde relacionamentos fora da normalidade alfa x ômega e beta x beta são abominados, Midoriya Izuku se vê perdido em meio a um furacão de importantes soberanos de sangue azul, reis e rainhas...