Calmaria ou Tempestade

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— Você a conhece? Realmente conhece Inko?

— Eu conheço sim. Digo, só conversamos umas duas vezes.

— Preciso vê-la! Não consigo acreditar. Isso é impossível, Uraraka, isso é... — Midoriya riu, exasperado, riu tanto que foi necessário descer de Pandora para não a machucar com seus espasmos de alegria que simplesmente não conseguia conter. Uraraka observava com um misto de alívio e preocupação.

— Escuta, Deku, tenta se acalmaaar.

— Eu a amava! — Ele disse, segurando ambas as mãos de Uraraka com força. Não poderia explicar como verdadeiramente conhecia Inko sem que levantasse suspeitas, mas camuflaria seus sentimentos. — Ela era como uma mãe pra mim. E aconteceu tudo de repente e tivemos que nos afastar, eu vim pro castelo e Clara a mandou embora por tanto tempo que eu imaginei que ela morasse do outro lado do mundo. Nunca pensei que estivesse tão perto de mim esse tempo todo.

— Bem, são dois dias de viagem a cavalo.

— Tão perto.

Izuku deu pulinhos e rodopiou ainda agarrado às mãos da ômega, de um jeito que ela nunca vira antes.

— Vamos agora mesmo — Midoriya disse por fim. — Vamos chegar em um dia só, você vai ver.

— O quê? Vamos acabar machucando os pobres Pandora e Pegasus.

— Tem razão.

— Olha pra mim, Deku — Ochako disse mais alto que a felicidade do beta, o obrigando a encarar os olhos dela. Sorriu. — Já que você ama tanto a Inko assim, vou te levar pra Scarburn e a veremos em dois dias, então voltamos pro castelo com supressores. Ela ainda vai estar lá, não é como se estivéssemos com o tempo contado.

— Temos tempo suficiente — Concordou, se lembrando do que teria de enfrentar assim que chegasse no castelo. — Ok. Se ao menos Pegasus tivesse asas de verdade.

— Eu já disse: ele ainda é muito filhote pra isso.

Olharam para o cavalo marrom, o dobro do tamanho dos dois. Caíram na risada.

— Não se preocupe. Vamos matar essa saudade.

— Vamos — Deku gritou em resposta, logo em seguida sentindo as bochechas esquentarem com vergonha.

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Saudade.

Midoriya Izuku nunca havia conhecido seus verdadeiros pais: aqueles que o abandonaram em um orfanato assim que o tiveram. E nunca conheceria. Ele lia livros com datas antigas e recentes impressas nas capas onde os protagonistas alegavam sentir a mais pura e sincera saudade das pessoas que o trouxeram para o mundo, mesmo que não tivessem um rosto para recordar ou o calor de um abraço como única memória.

Izuku gostaria de sentir tal insanidade algum dia. Talvez aquilo o inclinasse a procurar por seus pais. Mas, até então, a única pessoa que lhe causava tamanha saudade fora Inko e o cheiro do perfume dela. O bom gosto da comida. O estalo do beijo na testa. O som da voz "por onde você esteve, Izuku? Me deixou morrendo de preocupação."

"É um bom menino. Não merece a perda do sentido que a rainha causou a você."

"Venha. Vou lhe contar uma história para dormir cedo."

"Você não tem medo daquele garoto, o Katsuki? Ele vive te batendo."

Deku não saberia o que responder caso a visse novamente. Quais eram as chances de Uraraka Ochako, dentre todas as pessoas, ser a ômega que o levaria de volta para a mulher que o criou na beira da floresta sozinha a tantos anos atrás?

3 A.M: O Conto da Lua EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora