Amigos

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Em Callas a neblina permanecia.

Uraraka e Midoriya, respectivamente cavalgando seus cavalos Pegasus e Pandora, finalmente haviam chegado na cidade central que envolvia o castelo após cinco dias de viagem. Estavam em casa.

Passar tanto tempo ao lado da jardineira, ômega e namorada marcada de Bakugou Katsuki poderia ser definido em apenas uma palavra: realização. Realização de que ela não era maléfica ou terrível como Izuku costumava pensar. Ela era apenas uma mulher forte, gentil e apaixonada. Assim como Deku costumava ser. Agora, sua amiga.

— Uraraka, estou morto de cansaço — Izuku disse. A noite os envolvia com cautela. — Vamos parar em Dragon Field e beber alguma coisa. Vai ser rápido.

— A essa altura só quero uma bebida e minha cama. Nem ligo se acordar com dor de cabeça. Onde fica Dragon Field?

O príncipe os guiou até lá, mesmo que soubesse que provavelmente pediria um leite quente, e não álcool de verdade. Desceram dos animais e os deixaram ali enquanto andaram até um bar três vezes o tamanho das simples casas de Scarburn.

— Você não vem? — Uraraka perguntou já com a porta do estabelecimento aberta e um pé dentro. Midoriya, por outro lado, não teve intenções de segui-la ao olhar dentro por um vidro que mal poderia ser chamado de janela, onde Shinsou, Mina, e três outras pessoas desconhecidas conversavam e riam tão alto no balcão que podiam ser ouvidas do lado de fora.

— Talvez depois. Primeiro vou dar uma olhada por aí, matar as saudades da minha cidade — Sorriu ao perceber que a frase era legítima. Puxou o capuz de coelho para cima de modo que escondesse seus cabelos.

— Tudo bem. Não vá se perder, por favor, ein?

— E você não fique bêbada demais.

— Oi? Não te escutei — Mentiu, adentrando o local.

Izuku saiu andando pela madrugada.

Os locais agora reconhecíveis o deixaram flutuando, dando passos levíssimos até lugar nenhum. Passou pela loja de costura de uma simpática garota, pelo jardim de flores do ômega que vivia chamando Midoriya para entrar e tomar um suposto chá diferenciado e novo (ele nunca aceitava), pelo local onde o festival acontecera por último e subiu as escadas de pedra até onde teve sua primeira discussão com o príncipe do reino vizinho. Observou a quietude e a solidão das árvores de um lado, a frieza do local onde se sentaram e deram as mãos, ignorando a tudo e todos, se autodenominando de lobo e coelho. Saiu de lá rápido. Também andou na frente da casa de Mahina e Himiko Toga. Havia, sim, encontrado uma informação importante além das manchas de sangue no vidro do quarto da garota desaparecida: mas guardaria para si mesmo até encontrar alguém em quem pudesse confiar plenamente para contar. Shinsou, talvez, porque fora ele quem traiu o próprio pai – membro do conselho real – para contar a Izuku sobre a falecida alfa Hana. Um caso ainda não solucionado.

Deku estava de volta, e mesmo que fosse bom, sentia que enfim tinha o que era necessário para seguir em frente e resolver a todos os problemas que rondavam a cidade. Era ele. Quem mais seria o responsável além de Izuku? Os cavaleiros, que apenas obedeciam a ordens da corrupta rainha? Não. Era ele. Tinha de ser.

Encontrou diversas festas ocorrendo por aqui e por ali, nada fora do comum. Parou pra descansar a uma quadra longe de Dragon Field, pois havia retornado para checar Ochako, pavoroso de que ela fosse beber demais e não conseguir montar em Pegasus. Encostou-se em uma parede ao lado de uma caçamba de lixo. Além dela, um beco se estendia com a escuridão típica que não era iluminada pela lua.

— Nunca me considerei sortudo antes — Uma voz interrompeu o silêncio aconchegante, o rasgando em pedacinhos, vindo de dentro do beco. — Mas agora devo admitir que tudo está a meu favor.

3 A.M: O Conto da Lua EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora