Marcha Fúnebre

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"Querido Midoriya Izuku,

Eu admito com prazer que você esteve sempre certo, Vossa Alteza. Assim que pisei os pés em casa fui surpresa pela minha família me aguardando com duas novas coleções de machados pendurados na parede da sala de estar. Não apenas isso: repreendi minha irmã mais nova por ter gasto toda a mesada em uma lança que comprou nos subúrbios da cidade daqui, quando simplesmente poderia ter me enviado uma carta, e eu encontraria uma lança de qualidade mil vezes superior.

Não me entenda mal. Mesmo se estivéssemos de frente um para o outro, eu também admitiria minha possível derrota. Não sou muito boa em prever o futuro, mas certamente me considero boa em aproveitar o presente, e com isso consigo escrever com as mais sinceras palavras que saem diretamente do meu coração e são guiadas pelos meus dedos. Sinto sua falta, Izuku. Mais do que consegue imaginar.

Estar em casa é maravilhoso, mas tenho certeza que você conhece aquela sensação de quando algo está faltando, algo que sempre esteve ali perfeitamente ao lado de repente fora de lugar, fora de sintonia. Uma bela música que é cantarolada sob um tom distorcido ou o corte de uma espada polida que já não corta mais nada. É assim que me sinto de vez em quando ao pensar sobre o senhor. Que se estivesse aqui, a quilômetros e quilômetros de distância do reino de Callas, a horas e horas distante do castelo que tanto te fez mal, então estaríamos ambos felizes e em sincronia. Quero que conheça o reino de Mahi.

Talvez eu esteja sendo imprudente. Peço perdão por isso, mas não consigo evitar. No próximo ano tem que vir comigo e cruzar o oceano, por mais que isso signifique lidar com a peculiaridade da minha família. Como prova de minha eterna devoção como um dia jurei na frente da coroa, deixo aqui a pétala da flor que mais me recordou Midoriya Izuku, meu melhor amigo e príncipe, durante esse tempo que estou em casa.

Espero que esteja bem, Vossa Alteza. Espero que nossa promessa permaneça viva correndo em nosso sangue.

Com carinho,

Yaoyorozu Momo."

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Midoriya passava a maior parte de seu tempo na biblioteca real do castelo.

Já se faziam dias desde a última conversa prolongada com qualquer um deles: Bakugou, Uraraka, Shinsou ou Todoroki. Izuku não havia nem ao menos se despedido de Hatsume Mei e Marumi Mei quando elas retornaram para Gredara, mas Clara o havia informado que ambas pediram perdão por qualquer inconveniente, e que realmente desejavam que as presas do príncipe não fossem eternamente pequenas.

Ele sorriu quando soube. Querendo ou não, aquelas garotas o haviam feito muito feliz na infância.

Izuku pensou que talvez estivesse na hora de voltar ao normal. Não que ele estivesse triste, e muito pelo contrário. Aquele tempo sozinho onde nem ao menos conversava com empregados e visitantes havia restaurado suas energias. Sentia que poderia fazer qualquer coisa.

— Você aqui de novo? — A bibliotecária observou o príncipe por cima da lente dos óculos vermelhos, sentada na cadeira do outro lado da bancada. — Garotos da sua idade não tem nada de muito ótimo pra fazer? Festejar? Ir em bares escondido?

— Quantos anos eu pareço ter, Midnight? — Izuku riu.

— Eu chuto uns dezesseis.

— Minha nossa.

Óculos eram os únicos estereótipos de bibliotecária que se encaixavam em Midnight. De resto, era uma jovem e bela mulher de cabelos pretos volumosos, beta que sempre parecia gostar de flertar com os adultos que apareciam em sua biblioteca – ou talvez o termo "mexer com a cabeça deles e então fingir que nada aconteceu" fosse mais adequado. Ela era a mais ousada que Midoriya já conheceu quando se tratava de roupas e atitudes com pessoas da realeza, pessoas que poderiam facilmente tirá-la do cargo no castelo e jogá-la no fundo do poço, mas Midnight não exibia medo algum, nunca, de nenhum deles.

3 A.M: O Conto da Lua EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora