Quando criança, Bakugou Katsuki não tinha nada para si mesmo além da liberdade.
Ele não tinha as roupas que certas crianças na escola usavam e exibiam. Não tinha os mesmos brinquedos ou se alimentava das mesmas refeições. Não tinha os mesmos momentos familiares, seus pais ocupados demais trabalhando, brigando e reclamando para escutar sobre como Katsuki havia socado o rosto de um garoto que o chamara de "alfa asqueroso" na última aula do dia.
Ele não tinha privacidade quando em casa, um pouco melhor que a moradia das outras pessoas em seu vilarejo, mas ainda pequena, vazia e suja. Solitária.
Ele não tinha muitos amigos.
Não tinha o mesmo orgulho por ter nascido em Flamínia, com sangue puro, como os habitantes do reino costumavam dizer. Sangue puro significava que ambos seus pais nasceram lá, que você queima por dentro, uma virtude e demonstração de força. Superioridade, talvez. O local que ele nasceu era tão pobre e afastado, porém, que nem ao menos se deram ao trabalho de fazer com que Bakugou ganhasse as tatuagens que garantiriam sua segurança com o próprio fogo: sem elas, um dia, ele queimaria até a morte e o único culpado seria ele mesmo.
Era uma história pesada para ser contada para crianças, mas quem ligava? Katsuki acreditava quando era pequeno.
Lia os discursos do rei Endeavor nos jornais que todo dia jogavam na porta da sua casa e pensava, "ah, esse filho da puta nunca vai ter a própria nação do fogo contra si. Nunca vai morrer."
"Mesmo que ele mereça."
A liberdade havia o levado para inúmeros lugares, a liberdade o havia trazido Midoriya Izuku. A primeira pessoa que ele verdadeira e honestamente poderia incluir na lista de coisas que ele tinha, sim, e se orgulhava por isso. Colaria na sua parede a lista se necessário, pois no topo dela estaria o nome de seu amável beta, e nunca o permitiria ver. Sorriria ao olhar para ela.
Mas após chegar em Callas ele percebeu que tinha o direito de muito mais além do que teve na infância. Em toda sua vida, caralho, Katsuki percebeu que poderia ter o mundo se quisesse, na palma das mãos. Pela primeira vez.
Naquela época, Midoriya ainda permaneceria no topo de sua lista?
— Bakugou!
Era Uraraka quem o chamava.
Katsuki ainda digeria a fala da rainha dirigida a si, "a querida da jardineira irá se juntar a nós", como se Ochako não tivesse um nome. "Oh, e você também, cavaleiro". Ele estava com uma carranca, com aversão à ideia de sentar à mesa com princesas mesquinhas que mal conhecia.
Clara sabia seu nome, apenas preferia não dizer. Ela o chamava de Bakugou com aquele terrível sotaque e adicionava o cavaleiro no começo quando Izuku e ele ainda namoravam. Pareciam... séculos, desde a última vez em que esteve de mãos dadas com o beta na frente da rainha.
— Bakugou? — A mulher acenava com ambas as mãos na frente do loiro. — Amor, o que foi? Parece que comeu algo estragado. Ou essa só é sua cara vinte e quatro horas mesmo?
O alfa parecia finalmente ter retornado para a terra, dando um chutinho leve na canela nua de Ochako enquanto ela ria. Não podia xingá-la, brincando, em voz alta ali por mais que quisesse. Clara estava no interior da sala, junto dos príncipes de Callas e Flamínia: o corredor estava vazio a não ser pelos dois.
— Você realmente aceitou ir brincar de faz de conta. Vai ser a terceira princesa?
— Eu já sou uma princesa — A ômega deu uma volta pelo corredor. Andou de lá pra cá, rápido, o salto alto fazendo barulho no piso. O vestido longo e rosa de babados talvez um pouquinho exagerado pra ocasião. Uraraka estava linda. — Brincadeiras à parte, bom... acho que não engano ninguém — Ela coçou a nuca, soando envergonhada.
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3 A.M: O Conto da Lua Escarlate
FanfictionShouto é ômega. Izuku é beta. Em uma sociedade hierárquica onde relacionamentos fora da normalidade alfa x ômega e beta x beta são abominados, Midoriya Izuku se vê perdido em meio a um furacão de importantes soberanos de sangue azul, reis e rainhas...