EXTRA: Hitoshi Shinsou

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Reino de Callas, cidade central

Semanas antes do assassinato de Tokoyami Fumikage

Talvez Hitoshi devesse se dar mais valor, ele sabia ao observar o outro lado do bar que definitivamente não era Dragon Field e ver Midoriya conversando com um cidadão alfa qualquer, flertando com olhinhos brilhantes e despreocupados. Ele sempre fazia isso. Sorria, beijava, ia embora deixando clientes insatisfeitos perguntando ao dono do estabelecimento quando que o bonitinho de cabelos esverdeados voltaria. A resposta era "nunca".

Shinsou olhou para a frente pela primeira vez em diversos minutos, onde um tabuleiro de xadrez o aguardava com paciência. "Então, finalmente somos importantes?", ele imaginou as peças dizendo, pois tudo que fez desde que chegou em um bar que não fosse o da Mina na tentativa de se afastar das conversas dela fora encarar Izuku da mesa mais distante.

Não daria certo assim. Logo as diversas competições de xadrez espalhadas por Callas começariam, e não tinha tempo para ficar perdendo com alguém que não se dava ao trabalho de ao menos cumprimentá-lo. Ou, talvez, Midoriya realmente não tivesse percebido a presença dele, o que seria ainda pior.

Queria beijá-lo. Machucá-lo. Sentar em uma biblioteca escura e poder sussurrar "vem cá" como fazia antes, o assistindo ficar tímido e vermelho e aquela reação compensava o fato de que no final não seria permitido que o tocasse. Por isso odiava alfas. Todos significavam problema adiante, e mesmo assim Shinsou caminhava mais para frente a cada dia.

Odiava quase todos eles.

Foda-se. Hitoshi se levantou e foi embora.

Teve um sonho naquela noite.

Nele, olhava pelo espelho do banheiro e visualizava uma criança de cabelos selvagens roxos. Devia estar com oito ou nove anos de idade, e se quisesse se analisar melhor tinha de ficar na ponta dos pés para alcançar o vidro, e então os trovões começaram fazendo o espelho rachar.

Era como se estivesse chovendo ali dentro das quatro paredes, raios iluminavam o céu por trás da cortina e os barulhos assustavam Shinsou mais do que qualquer coisa. Correu até o quarto no segundo andar e capturou a cobertinha que ganhara de seu pai quando ainda era um bebê, mas essa noite seu pai não estava ali. Como sempre, trabalhava no castelo sendo um membro do conselho, com o rei e a rainha. Quando não trabalhava, sumia.

"Papai", ele se recordou de gritar mesmo assim, desesperado para ser abraçado. Ouviu a voz da mãe alguns quartos adiante e se arrastou até lá com o tecido azulado nos braços. Bateu na porta uma, duas, três vezes, e foi quando a mulher abriu.

Sua mãe era infinitamente mais alta; ou talvez, durante o sonho, Hitoshi encolhia conforme o tempo passava no relógio da casa que andava para trás ao invés de para frente. Ela era maravilhosa. Sempre bem arrumada e apresentável, uma ômega que poderia falar o dia inteiro sobre o quanto se esforçou em fazer tal penteado.

"Estou com medo", Shinsou sussurrou, tremendo.

"Tenho um concerto pela manhã. Preciso treinar, tudo bem? Vá para o quarto." A mãe acariciou os cabelos do filho por um segundo, os bagunçando ainda mais.

"Mas..."

A porta fechou. O que antes eram vozes agora havia se transformado em melodias de violino vindo de dentro do quarto, e a luz do corredor se apagou, deixando Shinsou no escuro, que insistiu em bater na porta mais uma vez e outra. Nada aconteceu. Não foi atendido. Aos poucos percebeu ser um sonho, uma memória, de onde não conseguia mais sair. Ele deitou-se ali e abraçou a coberta.

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⏰ Última atualização: Feb 21, 2022 ⏰

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