Por Você

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Katsuki se lembrava de cada momento que viveu após testemunhar seu beta ir embora em uma grande e luxuosa carruagem, mas ele principalmente se lembrava de sentir solidão.

Pura e genuína, de repente o mundo inteiro parecia querer rejeitá-lo, jogá-lo para fora de uma borda inexistente pois absolutamente ninguém o queria por perto, e aquilo o deixava puto. Bakugou se lembrava de soar exagerado, dramático, dolorido... e odiava saber disso.

Por quê? Sua mãe havia perguntado, descrente de que seu filho alfa que sempre fora a rebeldia em pessoa estar de um dia para o outro, tão diferente. Isolado em seu quarto quando poderia simplesmente sair para brincar e arranjar confusão; afinal, ele sempre saía, ia pra floresta e não voltava até perto ou após o anoitecer. Vamos lá. Desembucha, moleque, o que te fizeram?

Não é nada! Me deixa em paz, velha.

Mas não eram somente as birras e mudanças de humor que incomodavam os pais de Bakugou, como também seus descontrolados feromônios. Eles irritavam e coçavam a pele das pessoas em volta com frequência, poderiam tirar do sério. Seja lá o que estivesse virando o loiro de cabeça para baixo... era melhor que parasse de uma vez.

Mas foi então que Katsuki percebeu, duas semanas após Midoriya ter ido morar no castelo, que deveria ter dito que gostava dele antes. Mesmo que seu ego, então, fosse levemente danificado. Mesmo que custasse uma gota de sua dignidade. Se tivesse sussurrado em seu ouvido, um dia antes, que gostaria de fugir e mandar todo o resto do mundo ir se foder...

Teria se poupado de tanta solidão.

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— Pelos Deuses! — A voz preocupada e geralmente alta de Mitsuki, mãe alfa de Bakugou, ecoou pelos cômodos da casa após abrir a porta de entrada. — Menino, o que houve com você?

— Tudo bem, senhora. Estou bem. Desculpe incomodar, mas eu poderia falar com o Kacch... Katsuki?

— Katsuki? — A mãe esboçou uma expressão confusa, visualizando a imagem de um adolescente que nunca vira na vida sangrando do lado esquerdo do rosto. Era só o que faltava, seu filho havia batido no pobre menino? — Mas é claro. Entre. Seus pais não vieram com você?

Izuku adentrou nada mais que alguns passos, agora levando as duas mãos sujas de gotas secas de sangue para onde estava machucado, temeroso de sujar os móveis ou o chão. Mitsuki gritou pelo nome de seu filho, que às nove da noite, provavelmente já havia dormido. Gritou mais uma vez.

— Mas que inferno! Não se pode nem mais descansar nesse caralho dessa-

Bakugou parou, ainda nas escadas. Sua respiração também parou por um momento, assim como uma pontada de dor atravessou seu peito, o que o fez dar uma careta, e ficar por assim mesmo. Não sabia o que dizer, ou como agir, ou se simplesmente agarrava algo pra estancar o sangue que pingava de Midoriya Izuku.

Mitsuki testemunhou o repetitivo e incômodo evento, "Eu Definitivamente Não Conheço Mais Meu Filho Adolescente", quando observou o garoto de cabelos esverdeados correr pelo meio de sua humilde moradia como se sua vida dependesse disso e pular nos braços de Bakugou.

— Kacchan! Eu consegui, viu só? — Disse Midoriya lentamente, mas alegre. Algo parecia incomodar suas cordas vocais, ou... talvez sua audição, que não reconhecia o próprio tom. — Eu não fui ingênuo como você achou que eu seria.

— Está sangrando.

— Sim.

Katsuki o encarou por alguns segundos, nada mais que surpresa em seu olhar. Estava tão confuso, os acontecimentos rodando em sua mente. Que estranho. Que sentimento estranho.

3 A.M: O Conto da Lua EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora