Begin Again

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RAEL

O jantar de apresentação entre mim e o namorado da mamãe foi muito bacana. De cara percebi que o homem que ia se casar com a minha mãe era legal, estava no nível dela. Naquele dia o filho dele não apareceu, mas logo ele falou que o filho, que se chamava Otto, estava viajando com uns amigos. Tinha tirado um tempo antes da faculdade para se divertir um pouco e conhecer novos lugares.

- Ele passou para Engenharia Civil. - falou Murilo durante o jantar, entre muitos outros assuntos à mesa. - Vai fazer na federal.

- Nossa, sério? - exclamou a mãe de Rael. - Eu já sabia que ele tinha decidido seguir essa área, mas não sabia que seria na federal. Olha filho, vocês vão passar muito tempo juntos então.

- Como assim? Rael também passou pra federal? - perguntou Murilo.

- Pois é, passei. - disse Rael, sorrindo. - Mas diferente do Otto, eu sou de humanas. Passei pra Letras e Literatura.

- Murilo, ele é um exímio escritor. Escreve poemas, contos, histórias... - disse a mãe, toda orgulhosa.

- Eu já sabia que você tinha alma de artista! Sua mãe sempre me contou de você e eu já admirava seu talento. Fico feliz que você esteja seguindo o que gosta de fazer. - disse Murilo.

- Obrigada, mas minha mãe é muito exagerada. Eu não sou um exímio escritor nada. Eu só me arrisco aqui e ali numas historinhas...

- Que é isso, Rael! - falou sua mãe. - Cada coisa linda que você escreve!

A noite se desenrolou assim, entre os assuntos em comum que todos tinham, incluindo Otto, ainda que ele não estivesse presente. Eu consegui ficar bem mais tranquilo quanto ao relacionamento da minha mãe, percebi que ela havia acertado na escolha para novo marido.

Descobri que o casamento já estava marcado para dali duas semanas, para aproveitar que a faculdade só iniciaria dentro de um mês, então eu e o Otto teríamos bastante tempo para nos conhecer e vivermos como uma “família” antes de começar toda a correria das aulas.

Eu e minha mãe também iniciamos nosso processo de mudança, durante esse meio tempo, pois iríamos morar na casa do Murilo, que era melhor e bem mais confortável. Me deu uma dor imensa no coração deixar a casa onde fui tão feliz com a mamãe e o papai, e novamente senti aquele aperto, aquela angústia, aquela sensação de que estávamos, novamente, enterrando o papai e que, de certa forma, ele estava sendo substituído.

Não contei nada disso para a mamãe, claro, mas essa era a parte difícil em aceitar todas essas mudanças nas nossas vidas. Era como se nós estivéssemos, devagarinho, esquecendo o papai. E agora, estávamos esquecendo também tudo o que vivemos naquela casa com ele, já que estávamos saindo. Mas é claro que eu entendia. Sofria, mas entendia. E minha mãe, nossa, ela estava tão feliz, tão animada, tão... Apaixonada! Não tinha como não ficar feliz por ela, por eles dois.

Eu também tinha muita coisa para ocupar a cabeça, já que estava preparando tudo para iniciar na faculdade. Eu e minha mãe já tínhamos ido lá dar uma olhada no campus. Ela era relativamente longe da casa do Murilo, nada que alguns quilômetros de carro não dessem jeito. Não muito longe para ter que morar nos dormitórios da faculdade, mas não muito perto para poder morar em casa. Então, decidimos que sim, eu iria morar nos dormitórios da faculdade, porém ainda estaria morando com a mamãe e como o Murilo (e com o Otto). Todo final de semana eu estaria lá, e nos dias mais importantes da semana também, em alguma data relevante.

Nós três fizemos minha mudança para o dormitório da faculdade, que consistia em um prédio de quatro andares só para homens na ala leste do campus e se chamava FRATER. Havia um dormitório só para mulheres exatamente igual ao nosso, só que ficava na ala oeste e se chamava SOROR. Eu achei engraçada essa tentativa da faculdade de manter a ordem e o controle definindo o espaço masculino e feminino, mas já na mudança percebi que essa separação não existia. O nosso dormitório estava cheio de meninas andando pra cima e pra baixo, dentro dos quartos, sentadas nos corredores com alguns garotos e podia apostar que o dormitório feminino estava cheio de caras também.

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