Invisible String

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Otto

Um mês se passou desde que eu e Rael decidimos realmente ficar juntos, e eu posso dizer que foi o melhor mês que eu tive desde que minha mãe se foi.

Pela primeira vez, eu me sentia feliz, feliz de verdade, com vontade de viver, de fazer várias coisas. Na verdade, depois da morte da minha mãe, eu não vivia mais, eu só existia.

Quer dizer, eu era um adolescente inconformado com a morte da própria mãe, depressivo por ter perdido junto a irmã, que foi embora, e o pai, que também estava preso em seu próprio mundo. Era de se esperar que eu tenha surtado, por isso eu tento não me culpar muito por todos aqueles anos onde eu só arranjava confusão por aí e em casa ou simplesmente me fechava, sozinho.

Consegui lidar com isso depois que comecei a terapia e consegui me perdoar, mesmo que alguns daqueles comportamentos ainda respinguem aqui e ali. Eu sei que ainda preciso trabalhar muito alguns picos de raiva que eu tenho, querendo resolver tudo na impulsividade ou na briga, e devo admitir que conviver com Rael tem me ajudado bastante.

Ele é completamente diferente de mim, e eu acho isso incrível! Ele é calmo, paciente, inteligente emocionalmente, tudo o que eu não sou e isso é perfeito porque nosso relacionamento é muito equilibrado. Quer dizer, tem momentos que nós temos que agir como ele agiria e tem momentos que tem que ser da minha forma. Eu sei que algum dia isso pode causar alguma briga entre a gente, mas isso ainda não aconteceu, e quando acontecer, eu sei que a gente vai conseguir resolver.

Rael tem enchido meus dias e minhas noites com uma paz inexplicável. Eu gosto de acordar e dormir com ele, gosto de ir pra faculdade com ele, gosto de almoçar e jantar juntos, eu gosto de conversar sobre tudo com ele, até sobre coisas que eu não entendo, porque ele me explica tudo com tanta paciência e carinho que eu me pego encantado só em assistir ele falar.

Eu gosto de quando a gente faz coisas juntos, como assistir nossos filmes de terror, ou jogar videogame, ou estudar, ou conhecer novos lugares, e gosto quando fazemos nossas coisas separados também, como quando ele está lendo e eu estou jogando no celular, ou quando nós saímos com nossos amigos sozinhos e eu fico morrendo de vontade de voltar só porque já estou com muita saudade.

Desde que nos conhecemos, principalmente depois que começamos a namorar, raramente eu me percebi me torturando com pensamentos obscuros, raramente eu me vi triste, fechado no meu próprio mundo, raramente eu senti a dor daquele espaço em branco que eu tinha dentro de mim.

Sim, ele ainda estava lá. O espaço. Era a falta da minha mãe, isso nunca ia passar. Mas esse buraco estava diminuindo, ficando cada vez menor, sendo preenchido com Rael em cada cantinho. Às vezes eu me sentia sufocado só de estar perto dele, só de ficar deitado com ele me fazendo carinho, só de beijá-lo. Era tudo tão bom, tão certo, que às vezes doía, mas era uma dor boa, era um aperto bom no coração, era uma ansiedade boa.

Era o Rael na minha vida.

Mas claro, nem tudo eram flores.

Na faculdade, nós vivíamos normalmente, como o casal que todos já sabiam que nós éramos. Mas quando a gente voltava pra casa, no caso, pra casa dos nossos pais, a gente precisava fingir que éramos somente amigos.

Mesmo depois de um mês, a gente ainda não sabia como contar pra eles sobre nós, e também não víamos nenhuma abertura pra isso. Rael queria contar pra mãe dele, ele disse que sempre contou tudo pra ela e se sente meio que traindo a confiança dela, mas contar pra ela significava, literalmente, contar para o meu pai, e eu ainda não estava preparado pra isso.

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