Beautiful Eyes

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Otto


Eu tinha pouco mais de duas semanas antes de iniciar minha vida de universitário, e dentro dessas duas semanas eu precisava aprender a conviver com um completo estranho, meu pai iria se casar de novo e precisava fazer minha mudança para o dormitório do campus. 

Seriam duas semanas muito corridas. Ainda bem. A última coisa que eu precisava agora era de tempo ocioso, minha cabeça precisava de ocupação porque senão eu acabava pensando demais e nada de bom nunca saía disso. Então, eu decidi mergulhar nessas duas semanas e tentar fazer tudo que eu pudesse, e até mais, só pra não ficar sozinho com meus próprios pensamentos. E claro, no meio de tudo isso, eu precisava falar com a minha terapeuta pra não acabar surtando no meio de tanta mudança. E eu já sei o que ela diria pra mim agora :"Tenha calma, Otto. Foque no momento." Como dá pra perceber, sim, eu sofro de ansiedade. Isso começou com a morte da mamãe, mas de lá pra cá tem crescido descontroladamente. Na maioria das vezes eu não consigo focar no momento porque o momento significa eu sozinho pensando o que vou fazer com a minha vida, e como já falei, ficar sozinho pensando só me traz dor de cabeça e confusões posteriores. Mas às vezes, focar no momento dá certo. Como agora. 

No momento, Rael está no meu quarto organizando as roupas dele e algumas coisas na minha cômoda. Por enquanto nós vamos dividir o meu quarto pra que nos acostumemos um com o outro antes de morarmos juntos definitivamente na faculdade. Ele já deve ter falado umas três vezes que vai comprar uma cômoda nova pro dormitório, e que eu não me preocupasse porque ele só iria usar a minha por esses dias. 

Três vezes. 

E eu não estou minimamente preocupado. 

- Já falei pra relaxar. - respondi, pegando algumas peças de roupa da mala e passando pra ele. - A maioria das minhas roupas ficam no guarda-roupas mesmo, eu mal uso essa cômoda. 

- Mesmo assim. - ele respondeu, e depois suspirou. - Eu imagino como deve ser péssimo ter outra pessoa mexendo nas suas coisas. 

- Eu realmente não me importo. - falei, dando de ombros. - Mas você parece se incomodar muito com isso. Nunca morou com ninguém não é? 

- Morei. Em Amsterdã. Mas nunca dividi quarto com ninguém, se é isso que você quer dizer. 

- Minha mãe sempre disse pra Olívia que eu era o presente dela, porque ela jamais deixaria uma criança crescer sem irmãos. Dizia que isso faz bem pro caráter. A propósito, Olívia é minha irmã. 

- Eu sei. - ele bufou, e se virou pra me olhar. - E por acaso você acabou de me chamar de mau-caráter?

Pensei sobre o que eu acabara de falar. 

- Não! - balancei as mãos em negação, rindo. - Não foi isso que eu quis dizer. Mas você parece ter tanta dificuldade em dividir as coisas, que fica bem óbvio sua síndrome-do-filho-único.

- É, eu sei. - ele respondeu e sentou na minha cama, do meu lado. - Vou ter que trabalhar isso em mim. Independente da gente morar junto na faculdade, nós já iríamos morar juntos aqui por causa dos nossos pais, então, é, eu tenho que lidar com isso. 

- Nossa, eu fico tocado com a sua animação em morar comigo. - falei, fingindo estar afetado. - Nem minha irmã, que como toda irmã mais velha, me odiava, achava tão ruim isso. 

- Eu não acho ruim. - ele arregalou os olhos e eu achei engraçado. - Eu acho até legal. Quer dizer, aqui nessa casa, ou lá na faculdade, vai ser bom ter alguém pra passar por essas coisas comigo, ao invés de passar sozinho. Talvez dê um trabalho pra eu aceitar certas coisas, mas é a vida...

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