Champagne Problems

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Otto

Eu e Rael já estávamos morando juntos há pouco mais de um mês e morar com o Rael era, no mínimo, uma experiência excêntrica.

Ele era bem diferente de mim em vários aspectos, por exemplo, ele era organizado, não do tipo de ter toc, mas do tipo de gostar das coisas dele arrumadas e bonitas; ele era caseiro mas não conseguia dispensar convites com facilidade, mesmo que ele estivesse com vontade de ficar em casa deitado; ele era um pouco tímido e se eu não puxasse assuntos com ele, a gente passaria dias e dias sem conversar; ele era muito solícito e prestava atenção nos detalhes e sabia quando eu precisava de ajuda e não se incomodava de ensinar algo várias e várias vezes

Ele era quase o meu oposto, mas não totalmente, tínhamos também muitas coisas em comum e essas semelhanças e diferenças faziam com que a nossa convivência fosse bacana. Mas aos poucos eu percebia que alguma coisa não estava certa comigo, e isso começou a acontecer algumas semanas atrás, logo quando nos mudamos.

Rael era uma pessoa muito social, embora gostasse mais de ficar em casa, quietinho. Então não me surpreendi muito quando ele me contou que tinha marcado de ajudar um cara do andar de cima a se mudar. Percebi que ele realmente queria que eu fosse junto, mas eu já tinha marcado de sair com o Edu naquele dia.

Nós iríamos juntos pra casa dormir lá, mas de manhã cedo eu ia sair com o Edu e ele iria ajudar esse tal carinha. Pela manhã meu pai e Patrícia saíram cedo pra resolver alguma pendência e Rael tinha acabado de sair também para a faculdade. Eu estava no sofá da sala mandando mensagem pra saber quando o Edu ia chegar quando a campainha tocou. Eu sabia que naquela correria pra ajudar o novo amigo o Rael ia acabar esquecendo alguma coisa. Abri a porta rindo já pronto pra fazer uma piada com ele, mas não era ele quem estava ali.

Era a Ana.

Meu sorriso morreu na hora. Não, nada contra a Ana. Mas eu pensava que era o Rael, e ver a Ana ali com aquela cara de pouquíssimos amigos, me deu um pouco de ansiedade.

- Oi. - eu disse, ainda segurando a porta aberta.

- Oi? - ela levantou uma sobrancelha bem feita. - É isso que você tem pra me dizer depois de, sei lá, semanas que a gente não se vê?

- Hm. - eu realmente não sabia o que falar.

- Pode pelo menos me convidar? - ela fez um gesto com a mão pra sala.

- Claro. - abri mais a porta e me coloquei de lado, dando espaço pra ela passar.

Suspirei e fechei a porta, me preparando. Ela jogou a bolsa no sofá e se sentou na outra ponta, cruzando os braços. Eu sentei no sofá de frente e olhei pra ela.

Ana era uma menina muito bonita, embora não fosse padrão, e eu nem ligava muito pra padrão na verdade. Ela era morena, tinha o cabelo cheio, ondulado e volumoso, escuro. Tinha os olhos azuis que super contrastavam com a pele, que era muito bem cuidada. Ela era magra e costumava usar muito cropped, como agora, que estava com um conjunto branco, cropped e calça larga, tênis também branco. Ela tinha um estilo meio despojado e meio patricinha. Os pais dela não eram ricos, mas tinham uma ótima condição de vida, ela não chegava a ser enjoada, mas gostava de estar sempre bonita e se esforçava pra isso.

- Vai só ficar me olhando? - dava pra ver pelo olhar dela que estava furiosa.

Eu suspirei de novo e me inclinei pra frente, descansando os cotovelos nos joelhos e cruzando os dedos das mãos.

- Desculpa, tá bem? - eu falei, sendo sincero. - Eu sei que tenho agido como um merda durante esse tempo.

- Merda é pouco. - ela me cortou, com um sorrisinho de canto de boca.

AfterglowOnde histórias criam vida. Descubra agora