I Know What I Want

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Rael

Fiquei três dias na enfermaria da própria faculdade, mas não recordo como cheguei lá. De acordo com a enfermeira que cuidou dos meus ferimentos, eu só acordei na manhã seguinte, já cheio de curativos, deitado em uma maca. De acordo com ela, meus ferimentos não foram tão graves, embora tenham sido muitos.

Meu olho esquerdo ainda estava muito inchado e dolorido, meu rosto tinha alguns cortes, assim como meu lábio. Eu possuía algumas escoriações pelo tronco, alguns hematomas arroxeados, mas fora isso, eu estava bem. Não tinha nenhum osso quebrado ou nada muito machucado por dentro do meu corpo.

Naquele dia eu já respirava muito melhor, a dificuldade que eu tinha ainda era porque, ao inspirar, doía tudo. A enfermeira me disse que embora eu estivesse melhor do que aparentava, precisava ficar mais alguns dias lá apenas para questão de repouso e ministração de alguns remédios. Depois eu teria alta.

Durante esses dias, Otto não saiu do meu lado. Ele estava lá quando eu acordei, sentado ao lado da minha cama, segurando minha mão. Prestava muita atenção em tudo que a enfermeira dizia pra que ele pudesse tomar todos os cuidados depois, quando ela não estivesse. Eu implorei para que ele não ligasse nem chamasse minha mãe. Pedi por tudo que era mais sagrado que ele mantivesse segredo sobre aquilo e prometi que explicaria depois. Se minha mãe soubesse do meu estado, ou pior, o porquê de eu estar daquele jeito, ela iria surtar. Eu não podia lidar com aquilo agora. Ele respeitou minha decisão, mesmo sem gostar.

Otto me ajudava em tudo. Desde arrumar meus travesseiros quando eu não estava muito confortável, a me alimentar, até a me dar banho. Nas primeiras vezes eu fiquei muito incomodado e tímido, mas ele estava concentrado em me tratar o mais delicadamente possível pra que eu não sentisse dor, ele não parecia nada desconfortável com a situação. Pareceu ficar bravo quando eu disse que iria tomar banho de cueca, mas não discutiu comigo. Quando eu ia fazer minha higiene mais íntima, ele virava as costas como eu tinha pedido, mesmo chateado.

Ele resolveu com a faculdade em relação a esses dias que nós não iríamos comparecer às aulas, e os dias depois, quando a gente pudesse ir pro nosso quarto. Eu tinha meus atestados e ele, tinha atestados de acompanhantes. Eduardo e Ana também estavam lá no primeiro dia, muito preocupado e nervosos, mas nos outros dias precisaram ir pra aula, me prometendo que me visitariam.

Eu percebia como Otro estava preocupado e com raiva. Ele parecia estar com muita raiva. Mas em nenhum momento me perguntou sobre o que aconteceu ou me pressionou. Ele nem tocou no assunto, na verdade, e eu entendi que ele estava me dando tempo e espaço pra me recuperar, estava me dando tempo e espaço pra que eu contasse sobre tudo quando eu quisesse.

E eu me senti muito grato.

Otto era muito preocupado comigo, muito cuidadoso, muito protetor, e eu sabia que ele estava morrendo por dentro pra saber o que tinha acontecido comigo, mas eu não podia ter essa conversa naquele momento.

***

Otto dormiu no chão durante os três dias que eu precisei ficar na enfermaria. Eu detestava aquilo mais do que detestava estar naquela enfermaria.

Eu dormia muito cedo por conta dos analgésicos, então acabava sempre acordando durante a madrugada. Foi na primeira noite, quando me mexi pra deitar melhor na cama, de um jeito que eu não sentisse tanta dor, que eu o vi lá no chão, dormindo.

Ele literalmente só usava uma almofada da poltrona que ficava ao lado da minha maca, como travesseiro. Mais nada. Meu coração apertou quando o vi daquela forma. Ele não tinha sequer um lençol pra se proteger do frio. Inclusive, eu quis ceder o meu a ele mas sabia que ele iria negar, e também não queria correr o risco de acordá-lo, já que ele devia estar cansado depois de passar a madrugada e o dia inteiro cuidando de mim em todos os detalhes. Então só fiquei lá, deitado, olhando ele dormir. Eu sempre me surpreendia com o quanto ele era bonito. Algumas vezes ele franzia a testa naquele sono, e eu imaginava com o que ele estava sonhando.

AfterglowOnde histórias criam vida. Descubra agora