I'm Only Me When I'm With You

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Rael

Naquela noite Otto me contou que ele e Ana decidiram dar um tempo, de novo. Nós ficamos conversando até quase duas da manhã, deitados em nossas camas, separados por minha mesa de cabeceira e a dele e o tapete que ficava no meio, mas ele não soube (ou não quis) me dizer o real motivo daquela separação. Também não consegui perceber se ele estava triste ou aliviado com aquilo, pois, como eu disse, eu já havia notado que o namoro deles era estranho, diferente, quase como se fossem apenas amigos.

Até eu e o Enzo tínhamos mais contato e intimidade do que ele com a Ana. Na verdade, até eu e ele tínhamos mais isso do que ele e a Ana. Eu até pensei em comentar alguns desses meus pensamentos, mas achei que não era o momento pra isso e guardei pra mim. De qualquer forma, ele tinha agora tempo e espaço pra pensar melhor se ele queria mesmo esse relacionamento.

Eu também contei a ele sobre mim, Enzo e o pedido de namoro. Eu também não soube (ou não quis) dizer a ele porque não havia respondido e praticamente fugido depois do pedido do Enzo. Foi bom conversar sobre isso com ele porque, ao falar com ele, eu ia falando pra mim também sobre tudo o que eu sentia e pensava.

É claro que eu gostava do Enzo. Tinha gostado desde que tinha conhecido ele. Ele era muito parecido comigo, era calmo, tranquilo, até um pouco retraído e nossa relação era agradável. Nós tínhamos muitas coisas em comum, desde livros favoritos, a programas de TV, até o que estudávamos. Tínhamos percebido que Literatura e Teatro eram irmãos gêmeos e a gente super conseguia combinar bem nossas conversas sobre esses assuntos.

Sim, eu gostava dele. E eu quis muito que a gente tivesse ficado e enfim a gente tinha ficado, mas...

Mas.

Assim que eu falei esse "mas" na minha conversa com Otto, eu percebi que isso estava errado. Não deveria haver um "mas" depois de dizer que gostava de alguém. Otto pareceu perceber também o que eu percebi, mas não comentou nada.

Depois que ele dormiu, eu fiquei muito tempo pensando naquilo. Porque eu estava hesitando? Se eu gostava do Enzo, se nós combinávanos, se era bom estar com ele... O que estava errado?

Em um certo momento, minha mente escorregou até o Oliver. Outra pessoa que eu tinha gostado demais, era incrível estar com ele e ele me fazia muito bem. Mas nós não tínhamos chegado a namorar. Claro, se eu tivesse continuado em Amsterdã, com certeza nós teríamos um relacionamento firme agora. Eu sorri um pouco ao lembrar dele e também me surpreendi com o quão pouco eu havia sequer pensado nele depois que voltei para o Brasil.

Agora eu estava em uma vida completamente diferente da que eu tinha lá, com outras pessoas, vivendo de outra forma... Tinha até outra pessoa de quem eu gostava agora.

Então porque diabos era tão difícil pra mim pensar em aceitar o pedido?

Otto fez um barulho estranho, como se fosse apneia do sono e eu olhei pra ele. E sorri. Nossa, como alguém podia ficar ainda mais bonito do que já era dormindo, com a boca meio aberta e soltando uns ronquinhos fracos?

Otto foi a grande surpresa dessa minha mudança de vida. Atualmente, quando eu lembro de como eu estava receoso em conhecer ele, preocupado em como seria nossa vida morando juntos, como eu conseguiria viver com alguém tão diferente... eu vejo que me preocupei à toa. Ele era incrível, uma pessoa oposta a mim sim, mas tão gentil, cuidadoso e alegre... Eu nunca tinha convivido com alguém assim e quando penso sobre isso hoje, não consigo imaginar como seria morar com outra pessoa que não ele.

Será que seria tudo bem pra ele se eu aceitasse o pedido do Enzo? Será que ele se incomodaria em conviver com dois homens namorando? Ele nunca demonstrou nada em relação à minha orientação sexual, mas é diferente quando se está de casalzinho.

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