Afterglow

All Too Well

Otto

Saí do banheiro só de samba-canção depois de um banho e encontrei Ana deitada na minha cama, de bruços, os pés pra cima balançando pra lá e pra cá. Ela estava com os cotovelos no colchão, mexendo em alguma coisa no celular. Olhou pra mim, sorriu e fez um gesto com a mão pra eu chegar perto dela. Eu também sorri, sentei na cama e ela me deu um selinho, depois desceu o nariz pelo meu queixo e respirou fundo quando chegou no meu pescoço.

- Huuummm. - ela falou no meu pescoço e inclinei um pouco a cabeça, com cócegas. - Eu adoro seu cheiro pós-banho, amor.

- É por isso que eu gosto de ser um homem higiênico. - eu sorri e fechei os olhos, aproveitando o carinho.

Ela me deu outro selinho.

- Eu estava com saudade de ficar assim com você, sozinha, namorando. - ela disse isso enquanto deslizava os dedos pelo meu braço.

- Esses dias têm sido corridos né? - eu falei, enrolando uma mecha do cabelo dela.

- Uhum.

- Ainda bem que eu tenho o Rael aqui pra puxar minha orelha e me ajudar com esse quarto, senão capaz de isso aqui já ter virado um lixão. - falei rindo e lembrando de como Rael era mandão quando queria.

- Você também não precisa ficar aqui direto, amor. Você pode passar uns dias lá em casa, sabe disso. E faz tempo que você não vai. Desde antes da sua viagem.

- Eu sei. Tô em falta, né?

- Com certeza. - ela encostou as costas na cabeceira da cama e se ajeitou, sentando melhor. - Antes você nem gostava de ficar muito tempo na sua casa. Quem diria que aqui você virou até dono de casa.

Nós dois rimos.

- É que aqui é diferente. Lá em casa sempre tinha um clima chato com meu pai, você sabe. Agora com a Patrícia até que melhorou, mas não se compara a aqui. Rael é muito bacana e é divertido passar o tempo com ele, mesmo se a gente não fizer nada.

Ela fez uma cara estranha quando eu disse isso, e arqueou um pouco as duas sobrancelhas, mas logo falou:

- Sabe o que seria divertido também? - ela me cutucou com o pé. - Se eu dormisse aqui hoje. Você ia gostar, tenho certeza. - ela riu maliciosamente pra mim.

Eu olhei para o relógio que ficava em cima da minha mesa de cabeceira.

- Hoje não, Ana. Rael vai já descer, está ficando tarde.

- Tenho certeza que ele também ia adorar passar a noite lá no Enzo. - ela chegou perto de mim novamente e colocou a mão na minha nuca, subindo e descendo os dedos ali.

- Não sei, acho melhor deixar pra outro dia.

- Porque, amor? - ela falou, arrastado. - Rael não ia achar ruim ficar uma noitezinha fora, ainda mais com o namorado dele.

- Eles não são namorados. - eu a cortei. - E não sei, não gosto muito dessa ideia de ele passar a noite lá.

Ela parou o carinho na nuca assim que eu fechei a boca. Se afastou um pouco pra olhar pra mim.

- E porque?

- Como assim porque? - eu perguntei, confuso.

- O que te incomoda em ele dormir lá?

- Não me incomoda, só acho que não tá na hora disso ainda.

Ela soltou uma risada um pouco irônica.

- Então você tem a chance ter uma ótima noite com a sua namorada e o Rael com o namorado dele, mas você não gosta da ideia?

- Bom, falando assim até parece mesmo que eu tô incomodado, mas não é. Eu só tenho cuidado com o Rael, só isso.