Breathless

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Otto

Na primeira vez em que meu nariz encostou no dele, eu já acordei. Só não abri os olhos. Porque por algum motivo, ele não se afastou. Eu sentia a respiração dele bem no meu rosto, sabia que nós estávamos colados, mas ele não se afastou. Então eu decidi continuar ali, fingindo que estava dormindo, fingindo que estava inconsciente ao me mexer e ficar cada vez mais próximo dele. Fingindo que não sabia o que estava acontecendo, quando na verdade, eu estava fazendo tudo aquilo de propósito.

Algumas semanas se passaram desde que eu descobri o que estava tão errado comigo. Desde que eu descobri que, muito provavelmente, eu estava gostando do Rael.

Naquela noite, quando ele foi tomar banho, quando eu estava tão certo dos meus sentimentos que tinha a sensação que estava sufocando, eu saí pra caminhar. Na verdade eu praticamente corri pra fora do dormitório antes que ele saísse do banheiro. Fiquei andando pelo campus, tentando controlar a minha respiração e o meu coração que batia tão forte que eu achei que podia ter um ataque cardíaco ali mesmo.

É óbvio que eu já tinha percebido alguns sinais do que eu sentia pelo Rael, eu já tinha notado algumas ações e reações minhas em relação a ele, eu só não queria admitir pra mim mesmo porque... Porque era ele, era um homem, e eu tinha uma namorada, e ele era meu irmão, e eu era hétero, e tantas outras coisas que eu simplesmente não podia aceitar o que eu já sabia que estava sentindo.

Eu só não sabia que estava tão na cara assim, até que a Ana me falou o que eu mesmo não pude me falar.

E depois de ter a verdade jogada na cara daquele jeito, era meio impossível não parar pra finalmente encarar o que estava acontecendo.

Então, quando Rael me falou do beijo e do pedido de namoro, quando meu coração disparou daquele jeito e eu tudo que eu queria era segurar o rosto dele, olhar no fundo dos seus olhos e dizer que ele não podia aceitar aquele pedido de jeito nenhum, eu percebi que já era, eu não podia mais fingir que não sabia o que estava acontecendo comigo.

Cheguei à pista de corrida do campus e sentei em uma arquibancada, sozinho, no escuro, iluminado apenas pela lua.

E pensei.

Minha vontade era de ligar pra Estela naquele momento pra pedir pelo amor de Deus que ela me ajudasse, me orientasse e me acalmasse, como sempre. Mas já era mais de meia noite e nem era dia de sessão.

Eu precisava me resolver sozinho.

Eu gostava do Rael. Sabia que gostava. Mais do que eu deveria.

Até então eu não tinha gostado assim de nenhum outro homem. Ah, sejamos sinceros, eu não lembrava de ter me sentido assim com ninguém.

Até aquele momento eu tinha deduzido que era hétero porque só tinha namorado mulheres, só tinha gostado de mulheres, só tinha me atraído por mulheres.

Então, do nada, esse homem chega e eu simplesmente... Fico assim.

Fechei os olhos e baixei a cabeça, encostando ela nos braços, que estavam cruzados, descansando nos joelhos.

Percebi que o mais difícil não era assumir que gostava de um homem, mas que eu gostava de um homem que era praticamente meu irmão, era da minha família agora. Um homem que gostava de outro cara e estava prestes a namorar com ele. E que não pensava em mim dessa forma.

Eu ri sozinho.

Onde que eu resolvi me meter?

Senti vontade de ligar pra Ana também, conversar com ela também iria ajudar, ela era minha melhor amiga e me conhecia como ninguém. Mas eu não podia fazer isso com ela, não quando a gente tinha acabado de terminar e eu sabia que ela era apaixonada por mim.

AfterglowOnde histórias criam vida. Descubra agora