A culpa é sua

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— Filho — O senhor Park chamou, vendo o filho calçando os sapatos perto da porta. — Vai sair?

— Vou, pai — Jimin olhou para o pai, sentado no sofá da sala, vestido nas suas clássicas calças de tecido claro e no pullover branco gelo, quase no mesmo tom dos cabelos lisos platinados, longos a passar dos cotovelos. — Pode avisar a mamãe? Eu certamente vou voltar tarde.

— Vai estar com sua namorada?

— Eh? — Jimin travou por um momento, já com a mão na maçaneta da porta. — Co-como...

— Sua mãe me contou — Ele tirou os óculos de aros finos, jogando a bela franja de prata pro lado e cruzando as pernas longas. — Você não ia me contar, filho?

— E-eu ia... — Jimin engoliu em seco: sabia que aquela voz plena e sorriso de palco do pai eram só pra esconder a profunda indignação que ele estava sentindo naquele momento. — É que... é um pouco difícil pra mim...

— O que é difícil? — Encostou o queixo numa mão, com o cotovelo apoiado no braço do sofá. — Compartilhar comigo o que passa na sua vida?

— Nã-não — "Sim, é muito difícil" — Não exatamente...

— Filho... — Suspirou, deixando escapar um pouquinho, mas só um pouquinho mesmo da chateação. — Você me odeia tanto assim?

— Eu não te odeio, pai — Rolou os olhos. "Como é dramático, credo". — Não tem nada a ver com você, ok?

— Então tem a ver com o quê?

— Tem a ver comigo. Com minhas... — Engasgou um pouco, embargado. — Com minhas próprias inseguranças.

O homem levantou as sobrancelhas, pego de surpresa por aquela reação do filho. Se levantou do sofá, foi até ele.

— Tudo bem, então — Jimin sentiu o pai passando um dos longos braços pelos seus ombros, e com a mão fria afastar os cabelos da sua franja pra beijar-lhe a testa. — Eu vou esperar até que você esteja pronto.

— Pai... — Passou os braços pela sua cintura. Seu pai era alto, e ele tinha um pouco de complexo por aquilo, ainda assim abraçá-lo era confortável. — Você ainda está falando do meu relacionamento, ou...

— Ah, não, não... — Ele entendeu logo — Não vou mais insistir pra que você entre pra minha turma de dança — Acariciou-lhe os cabelos vermelhos, deixando que deitasse a testa no seu peito. — Sua mãe também me falou sobre isso.

— Uhm.

— Mas eu não garanto que o Hoseok não vá te procurar.

— Pai!

— Eu não posso fazer nada! Ele é meu melhor aluno, e viu seu potencial tanto quanto eu.

— Hunf. — Bufou, soltando dele. — Mas ainda vai ser culpa sua.

Sim, era culpa do pai dele não ter tido o menor interesse em entrar pra dança: o que ele faria naquele ramo, quando o pai já tinha tantos prêmios? Ficar na sombra dele? Nem pensar! Se até no basquete ele estava à sombra do casal de atletas, que dirá no esporte deles.

"Por isso também talvez ninguém me dê credito como escritor", pensava enquanto esperava Taehyung atender a porta, já na frente do seu apartamento. "Tipo, fala sério, eu vou me formar em educação física, que tipo de escritor se forma em educação física?"

Ouviu a tranca da porta do lado de dentro.

"Talvez eu devesse ter escolhido fazer letras."

— Am...

Cesta de 3 - VkookminOnde histórias criam vida. Descubra agora