Capítulo 8

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Atena

07 de setembro

O cheiro floral é a primeira coisa que sinto quando me mexo na cama macia e abro meus olhos.

A mão quente e pesada de Jackson está em minha cintura e minha cabeça apoiada em seu peito. Na pequena mesa de cabeceira havia um enorme buque de flores em diferentes tons de roxo e lilás dentro de um jarro de cristal.
Meu peito se aqueceu de emoção e lágrimas escaparam pelo canto de meus olhos.

Não pude acreditar, o dia mal havia nascido, como ele teve tempo de arranjar essas flores, colocá-las ao meu lado e voltar a dormir, tudo isso sem me acordar.

– Bom dia, Sweetheart – Sua voz rouca pelo sono me saúda.

– Você... – Me engasgo com as palavras, a surpresa ainda presente em cada centímetro do meu corpo. – Você fez isso por mim, e eu... Obrigada, Jackson

A mão antes em minha cintura sobe lentamente até que ele toca meu rosto com carinho. Seus olhos fixos nos meus enquanto analiso seu rosto. Em um ato impensado deslizo a mão pela barba macia e áspera em seu rosto. O que sinto é como se ele fosse a eletricidade e eu a água. Meu corpo se arrepia com a sensação da nossa proximidade. 

Me desvencilho dele um pouco sem graça e corro para o banheiro. Escovo os dentes e lavo o rosto. Ajeito os cachos que escaparam da trança e volto para o quarto. O inconfundível cheiro de bacon frito inunda minhas narinas. Desço as escadas correndo até a cozinha para encontrar Jackson usando nada mais que uma calça fina. Ele mistura uma frigideira com tiras de bacon enquanto bate algo em uma bacia em que as vezes ele adiciona mais algum ingrediente.

– Espero que esteja com fome, estou preparando algo para comermos antes que você tenha que ir. Não quero que deixe minha casa com fome.

– Sempre teremos nossa cafeteria – Digo de repente.

Jack se vira para mim com um sorriso genuíno no rosto  

– Sim, nos sempre a teremos.

Me sento na banqueta branca encostada na bancada e fico vendo-o fazer nosso desjejum. As vezes, quando ele não está olhando roubo algumas tiras de bacon ou passo o dedo na vasilha de massa doce.

– Atena – Ele murmura, ainda de costas para mim em um tom reprovador.

– Desculpe – Digo envergonhada por ter sido pega em flagrante, ainda que fosse praticamente impossível ele perceber minha furtividade. – Acho que devo estar mesmo com fome, ou então sua comida é tão gostosa que não consigo resistir.

Ele para de misturar a panela, seus músculos enrijecem e ele murmura uma maldição antes de voltar ao que estava fazendo. Momentos depois seus dedos surgem na minha frente enquanto estou distraída, entre eles tem um biscoito em formato de um pequeno palito. Abro a boca e a fecho em seus dedos na intenção de pegar o biscoito.

Jackson rapidamente se afasta, escuto o som de uma colher esfregando no fundo da panela e logo dois pratos recheados de gostosuras são postos próximos de mim juntamente com dois copos longos de vidro. Um depois o outro é servido com um líquido roxo escuro. Minha bebida preferida. Reconheço. Suco de uva.

Comemos lado a lado, a cada mastigar paro e elogio suas habilidades culinárias.

– Posso fazer uma pergunta? – O sorriso lançado a minha não me dá certeza se ele está esperando que eu a faça ou planejando jeitos de cortar minha língua, já que essa deve ser a quinta pergunta que faço em três ou quatro minutos.

– O que você quiser, Sweetheart  

– Na verdade acho que vou fazer duas perguntas – Decido. – A primeira é, onde você aprendeu a cozinhar, quer dizer, não que homens não possam ser habilidosos quando se trata de culinária, não é isso. Embora meu pai fosse um cozinheiro horrendo, mas Apolo cozinha bem, é isso ou eu sempre como tão pressa que nunca percebi o sabor ruim, porém acho que não. Ele deve cozinhar bem, de fato.

– Minha vez? – Questiona me olhando como se eu fosse a melhor coisa que seus olhos já viram, mas isso seria impossível, já que a melhor visão de todas é claramente ele.

– Sim, desculpe. Meus pais costumavam me chamar de rouxinol, porque não sei se você conhece muitos pássaros, mas os rouxinóis cantam muito e muitíssimo bem, você deveria ver um, eles são lindos e maravilhosos – Um amplo sorriso beija meu rosto. Sempre fico feliz quando me lembro dos tempos que passava com meus pais e Apolo. Minha família

– Acho que não preciso procurar um pássaro com o canto bonito e duradouro como você diz, pois tenho a sensação de ver e ouvir a mais bela das aves cantoras quando você está por perto.

Uma quentura revestiu minhas bochechas. Não estava acostumada a elogios, na verdade, eles não vinham de outras pessoas além de Apolo, Taís e Margot.

– Obrigada.

– Minha mãe quem me ensinou – Jackson responde, após alguns momentos em silêncio – Ela morreu em um... acidente de avião a alguns anos. Ela era de uma família muito rica da Áustria, quando meu pai foi para lá a algumas décadas, eles se apaixonaram, pelo menos foi o que me disseram, mas depois que eu nasci as coisas mudaram, meu pai quase nunca estava em casa e quando estava... eles só discutiam. Minha mãe nunca gostou que eu visse ou ouvisse quando eles brigavam, então quando estava dando a hora do meu pai chegar em casa ela fazia uma grande quantidade de mistura de massas, as vezes de pizza, outras de bolos e pães e me mandava misturar. Eu odiava, não cozinhar, eu odiava que ele gritasse tão alto no andar de cima que nem o barulho das coisas na cozinha conseguia abafar. E então ele saia furioso pela porta e não voltava nos dois dias seguintes. Minha mãe descia as escadas com tanta graça e postura que mesmo com o rosto vermelho e os olhos molhados de lágrimas, ela ainda era a mulher mais bonita do mundo. Meu pai voltava com um buque de flores e uma caixa de chocolates depois de alguns dias, ela o beijava como se nada tivesse acontecido e as coisas ficavam bem por uma ou duas semanas antes de tudo se repetir. Mas o pior de tudo era que eu me ressentia dela, eu costumava pensar, como ela pode perdoá-lo tão facilmente? Até que um dia eu a confrontei sobre isso e percebi que tudo o que ela fazia era por amor a mim.

– Ela me parece adorável – Comento me sentindo emocionada. – Qual era o nome dela?

Jackson parece sair de um transe, ele pisca algumas vezes voltando ao mundo e suas bochechas coram em um tom fofo de rosa.

– Cassie, o nome dela era Cassie – Ele se mexe para levantar, mas embalo sua mão com a minha. – Desculpe, acho que acabei falando demais, nunca contei nada disso a ninguém.

– Nesse caso, me sinto honrada por você compartilhar isso comigo, foi muito especial – O envolvo em um abraço apertado e sussurro em seu ouvido. – Pode sempre contar comigo, Cher, sou sua amiga.

  ♥♥♥

Cher - Querido, geralmente destinado a amigos e colegas

Ti Avrò Per MeOnde histórias criam vida. Descubra agora