Capítulo 9

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Atena

08 de setembro

Me movo pelo camarim nervosamente, o pequeno espaço destino a nos estava lotado. Muitos dos meus colegas pareciam tranquilos com o fato de que nos apresentaríamos em menos de dez minutos. Minhas vestimentas para a apresentação eram perfeitas. A roupa consistia em um azul bebê delicado com detalhes dourados. As novas sapatilhas que Apolo comprou como um pedido de desculpar por não poder vir eram igualmente lindas e se encaixavam perfeitamente em meus pés.

Espiando pela cortina observei diversas pessoas chegando ao pequeno espaço e se dirigindo para seus assentos. Eu o vi, sentado na primeira fila. Jackson havia sido um dos primeiros a chegar e segurava uma linda flor em tom de lilás nas mãos. 

Quando o espetáculo começou alguns dos bailarinos se dirigiram até o palco, fiquei aflita roendo as unhas e estragando o esmalte que Margot havia pintado.

Chegando na parte em que eu deveria entrar respirei fundo e me concentrei nos sons ao meu redor, a música clássica murmurada em meu ouvido pelos alto-falantes, as conversas ao meu redor e o ruído que as sapatilhas faziam pelo chão.

Por fim, me lembrei de como minha mãe sempre parecia ansiosa por cada dança, cada passo. Me concentro no amor que sinto por ela e pela dança. Entro no palco e danço com toda a minha alma. Erguendo a perna direita quando a melodia atinge uma nota alta. Movendo meu corpo no ritmo perfeito. Os suspiros vindos da plateia me deram o combustível necessário. Me entreguei totalmente a minha paixão.

Os aplausos invadem meus ouvidos, suspiro sentindo o ar voltando a meus pulmões. De pé, junto com todos Jack aplaude, me aplaude. Com um grande sorriso estampando seus lábios. Meu coração tem um sobressalto. Jackson é o melhor amigo que eu poderia ter.

Após voltar ao camarim e trocar minhas roupas por um vestido mais simples saio em direção a multidão para cumprimentar a todos.

 – Oi Sra. Liana – Aceno para a pequena senhora de cabelos brancos e rosto enrugado. –É um prazer vê-la aqui.

– Atena, minha querida – Sou esmagada por seus braços pequeninos e retribuo. – Você foi fantástica, sua mãe e seu pai estariam muito orgulhosos.

Liana Manchester é uma senhorinha que conheço desde que me lembro. Ela foi babá da minha mãe quando mais novas e babá de Apolo e eu. Sempre preparava pães de mel e nos trazia brinquedos. A considero minha avô, ela sempre cuidou da nossa família e ainda o faz.

– Gosto de pensar que sim – Respondo. – Tudo o que faço é para deixar a todos felizes.

– As crianças ficarão radiantes com todas as doações e o dinheiro que conseguimos arrecadar – Liana fala contente. Ela é uma das responsáveis pelo orfanato da cidade. Infelizmente o número de crianças órfãs tem aumentado drasticamente. E o dinheiro não tem sido mais o suficiente.

Sempre que posso faço visitas, brinco com as crianças e ensino alguns passos simples. Ver a felicidade nos olhos delas não tem preço.

– Atena – Um sorriso automático surge em meu rosto quando ouço a voz de Jackson atrás de mim.

– Sra. Liana, pode me dar licença por um instante? – Peço e a doce senhora encara um ponto atrás de mim, sorri e assente se afastando.

Me viro para encarar Jack que ainda segura a flor. Ele a prende em minha orelha ao lados dos cachos soltos. Sua mão percorre meu rosto e ele sorri.

– Você foi incrível, Sweetheart. Maravilhosa – Suas palavras trazem quentura a minhas bochechas. Nunca me acostumaria a receber elogios, principalmente vindos dele.

– Obrigada – Digo baixinho. Seus dedos tocam os meus, mas nossas mãos não se unem. Cruzo seu dedo mindinho com o meu e sorrio.

Vagamos pela cidade iluminada com pisca-piscas brancos e coloridos. Qualquer evento promovido na cidade era motivo de festas e enfeites. Confesso que essa é uma das coisas que mais gosto desse lugar.

Nossas mãos ainda se tocavam de vez em quando. Uno sua mão com a minha me aproximando mais dele. O calor de sua mão quente com a minha pequena e fria era algo novo. Novo e bom.

Paramos perto da fonte no centro da praça. O anjo branco com o arco e a flecha apontados para a lua nova era lindo.

–  Sabe – Digo, depois de vários minutos de um silêncio confortável. – Meu pai costumava me contar histórias quando eu tinha pesadelos e não conseguia dormir. Ele dizia que um certo deus se apaixonou pela jovem Lua, mas ele havia sido amaldiçoado por uma feiticeira, a maldição dizia que todos por quem o deus se apaixonasse ficariam muito doentes e acabariam morrendo. Certa vez, a Lua se declarou ao deus, disse que o amava e que daquela vez as coisas seriam diferentes. Juntos eles quebrariam a maldição e seriam felizes para sempre. Por cerca de um século isso aconteceu. Lua não ficou doente nem sequer uma vez. Eles se casaram e então, depois de um tempo ela descobriu que teriam um filho. A notícia não poderia ser mais empolgante para o casal apaixonado, porém, em uma certa noite, na véspera do nascimento do pequeno bebê, a feiticeira que havia amaldiçoado o deus retornou e ficou muito irritada ao saber que ele estava feliz e apaixonado. O deus certa vez a rejeitou e a feiticeira prometeu nunca se esquecer disso e voltar para se vingar. E ela voltou pronta para cumprir a promessa. Levou embora a vida do bebê e jogou um tipo diferente de praga nos dois apaixonados. Eles poderiam viver e continuar amando um ao outro, mas jamais ficariam juntos. Ela transformou Lua em um corpo celeste e a aprisionou na noite. O deus poderia ver sua amada, mas nunca se aproximar, todas as manhãs ele a procurava e todas as noites era forçado a dormir. Meu pai dizia que até hoje eles lutam para se reencontrar.

– É uma bela história, mas também muito triste – Jackson murmura, seus olhos agora fixos na lua brilhante acima de nos. – Amar alguém proibido é algo muito difícil, Atena.

Me pergunto se ele fala por experiência própria. Será que ele já se apaixonou por alguém que não deveria amar?

♥🌙♥

Ti Avrò Per MeOnde histórias criam vida. Descubra agora