Sorria

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A única forma de fazer Ryan se animar era trazê-lo a um parque de diversões. Fazia bastante tempo desde que viemos em um, então que ideia melhor a ter uma diversão em família?

Aquilo claramente não faria com que Ryan se esquecesse de ver Lúcifer tirando a vida de Greg, porém fora nossa melhor jogada para tirá-lo daquele maldito quarto.

Além do mais... coisas ruins sempre ocorrem em parques de diversões, durante a noite...

Olhei para Ryan.

— O que está achando?

— Entediante. Vamos embora!

— O que acha de ir na tenda do riso?

Ele encarou Ludovica, achando que ela estava apenas tirando sarro dele.

— Falei sério, Ry. Você gostava de ir.

— Ver um palhaço idiota fazendo imbecilidades e jogando aquele gás esquisito em todos era divertido quando éramos mais "jovens".

— Faça isso por mim, meu irmão, por favor.

Ele pareceu hesitar ao máximo. Claramente não queria estar onde estava, porém como ali não era Ludovica Conrad, sua prima e sim Ludovica Allen, sua irmã, ele se sentiu obrigado a fazer um esforço.

Nos aproximamos da enorme tenda de circo. A primeira coisa que olhei, foi o palhaço desenhado na parede.

— Eu odeio esse palhaço. — Eu e Lucas dissemos em uníssono.

Mirei o outro, notando seu desconforto semelhante com o meu ao visualizar o tal palhaço.

— Vai me contar o motivo disso, ainda.

— Você também.

Benjamin negou com sua cabeça, entrando na tenda, fazendo com que restasse apenas Lucas e eu para fora. A coragem fora tomada e fiz o percurso para dentro da escuridão.

Todos já estavam sentados nas cadeiras. Sentei ao lado de Ryan. Ao seu lado havia uma jovem baixa de cabelo longo e negro. Ela vestia uma jaqueta de couro branca estilo cropped e uma calça jeans preta, combinando com a bota tratorada vermelho vinho.

Virei para o picadeiro, não entendendo o motivo de eu ter reparado tanto na jovem.

As luzes permaneceram apagadas. A única iluminação que se acendeu fora a de um grande holofote que mirou apenas vermelho. Fumaça começou a se espalhar por todo o picadeiro.

Demorei para perceber que não era fumaça, e sim gás.

— Ryan, você...

— Sim, estou me divertindo.

O olhei, este que estava sério, os braços cruzados. Encarava o picadeiro como se desejasse que nada de mais ali fosse acontecer. Mas infelizmente aconteceu...

Pogo saiu de trás das cortinas. Ele estava vestido como da primeira vez que o vi. Aquele maldito traje de palhaço. Ele deu uma risada mais agonizante do que divertida, parecia até estar louco.

Franzi o cenho, sentindo o cheiro do gás agora ficando bem presente, porém não estava mais visível, se encontrava agora disfarçado no ar e aquele maldito palhaço era quem o estava controlando.

Senti alguém bater a cabeça contra meu banco, me dando um susto. Virei para trás, reparando que Lucas cobria a cabeça com as mãos e escondia o rosto que se encontrava mirando o chão.

Pogo não estava se apresentando. Ele apenas estava parado no meio do picadeiro, olhando para todos. Ele deu outra risada, apontando para alguém que estava sentado mais ao alto. A luz se apagou, um grito alto ecoou por toda a tenda, fazendo outros gritarem apavorados. Uma onda de riso predominou, como se de alguma forma, todos resolvessem rir da situação.

Quando o grande holofote vermelho havia sido reacendido, a estranha jovem cujo me prendeu atenção caiu para frente. Seu rosto não passava de uma massa de carne e músculos. Algo havia a dilacerado.

Dessa vez, eu fui quem gritou, levantando da cadeira e caindo no chão ao ver que praticamente todos estavam com um grande sorriso no rosto.

Não! Não! É exatamente como o meu sonho!

A tenda continuava apenas sendo iluminada pelo holofote vermelho. Pogo havia sumido do picadeiro. Outro grito saiu de minha boca quando ele apareceu ao lado da jovem. Ali, no meio de toda aquela bagunça onde antes havia um rosto, estava um sorriso onde se via apenas os dentes. Seus dentes tortos que davam calafrios.

— Saia! Saia de perto de mim!

Ryan se virou para mim.

— Vamos rir juntos, Parker. Você não está se divertido?

Uma tontura fez com que minha cabeça parecesse girar. Corri desesperadamente para fora da tenda, esbarrando em alguém que caiu no chão ao meu lado.

— Dimitri? É você??

— O que faz aqui fora?

Lucas parecia mais branco do que o normal. Ele parecia estar... com medo.

— Aquele palhaço... ele vai me pegar. Ele e os malditos sorrisos! Estão por toda a parte!!

— Lucas, se acalme, é apenas o gás bagunçando as funções de seu cérebro. Nada disso é real.

Ele gritou, correndo para longe.

Assustado, virei para trás, o vendo. Era a última coisa que eu queria estar vendo. Aquela sensação de desespero apertou meu peito e eu senti como se não conseguisse me mover. Eu estava agonizando.

E Chase Heylel era a causa...

— Me deixe em paz! Por que você insiste em aparecer na minha frente com esse maldito sorriso?!

Ele não respondia. Ele estava petrificado. O sorriso endiabrado em seu rosto. Suas roupas estavam manchadas com sangue e fora nesse momento em que ele se moveu pela primeira vez, colocando o indicador sobre os lábios, exigindo silêncio.

Cobri minha cabeça com meus braços assim que o vi correr até mim, sorrindo. Era apenas minha ilusão. Mais uma vez, era apenas uma ilusão...

Chase não estava aqui e nem nunca esteve... eu realmente estava enlouquecendo.

Ouvi risos familiares, seguidos de passos sendo silenciados.

— Dimitri?

Afastei meus braços do rosto, vendo Ryan ao lado da jovem de cabelo negro e rosto dilacerado. Ela estava com um dos braços passados pelos ombros do moreno ao seu lado, ambos sorrindo.

— Por que está aí no chão?

— Eu... eu não sei. Onde estão Lucas e Benjamin?

— O que tem a gente? — O acobreado questionou, saindo da tenda ao lado de Lucas, os dois com um sorriso no rosto.

— Por que estão sorrindo sem parar? Não percebem o quanto isso é horrível?

— Horrível? Ah, se refere a isso? Relaxa, o rosto dela se regenera. Ela consegue regenerar qualquer parte do corpo.

— Por que todos vocês estão cobertos de sangue?

— Pogo fez chuva vermelha na hora que abriu o guarda-chuva. Você não viu??

— Não.

— Estava dormindo quando aconteceu?

— Ryan, eu saí dali de dentro.

— Sim, mas foi quando faltavam uns dez minutos para o final. Sua roupa também está toda molhada de tinta vermelha.

O que eu realmente vi? O que está acontecendo comigo? Eu estou vendo coisas, estou me sentindo cada vez mais humano e agora... estou parecendo um verdadeiro lunático!

Meus olhos se arregalaram no mesmo instante que a vi. Me olhava de forma culposa. Não. Eu não estava louco.

Minha irmã ou o que quer que seja aquilo... estava me olhando com desprezo e raiva...

A Paixão do Imortal 3: Vidas DestruídasOnde histórias criam vida. Descubra agora