Meu Verdadeiro Eu

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Era a primeira vez que estava me sentindo mal comigo mesmo. Mal pelo que eu havia causado. Mal por finalmente estar sentindo o maldito remorso que Callie dizia tanto.

Ludovica mantinha as mãos em meus ombros, já havia percebido que eu não estava me sentindo bem. Desacelerei as estocadas, começando a soluçar, deixando-a mais preocupada.

  — A culpa foi minha! Eu matei meus pais!



Ela não conseguia me olhar, cobria a boca com a destra e a cabeça virada para o lado.

— Ludovica, por favor, me deixe explicar!

— Há quanto tempo eu te conheço? Há quanto tempo estamos juntos? E você me conta isso agora?! — Ela gritava suas perguntas, me deixando pior.

— EU PRECISEI! Porra! Eu precisei fazer!

Ludovica derramou uma lágrima, não sabendo o que dizer.

— Eu posso explicar. Mas você precisa me ouvir! Eu disse que eu não era o que você pensava.

— Eu nunca pensei maravilhas de você... mas isso não. Eu sei que você matou sua irmã, mas eu realmente acreditei quando disse que seus pais haviam sofrido um acidente.

— Eles não eram os pais que você imagina que eram. Minha família não era perfeita. Meu pai era adúltero, minha mãe era uma viciada, minha tia era uma bruxa e minha irmã, uma garota problemática.

— Esqueceu do ponto principal. O assassino de todos eles!

Abri minha boca, porém não consegui me pronunciar.

— Eu sei quem você é Dimitri Parker.

Suspirei, tirando os óculos falsos e os deixando sobre a bancada, a olhando seriamente.

— Está certa. Matei minha família. Matei o policial que foi investigar o acidente, matei a primeira e única namorada que tive antes de conhecer você e matei meu melhor amigo. Pense o que você quiser, mas esse é quem eu sou! Eu sou um psicopata e não vou mudar. Eu gosto de quem sou. Ah, e sabe aquele garoto que dava em cima de você enquanto ainda não namorávamos?

— O William?

— Exato. Ele foi o primeiro corpo que tive que me livrar antes de matar a Lucrécia. Eu não sabia o que era esse sentimento. Sabe por quê? Porque eu não me aceitava. Eu duvidava das minhas ações e de mim mesmo. Mas agora, depois de tudo isso... eu sei quem sou!

Ela não conseguia achar palavras para dialogar, então apenas me escutava. Já não queria tentar debater. A decepção já havia a consumido.

— Eu tinha oito anos quando matei minha tia e dez anos quando matei meus pais. Minha pobre tia que morreu aos 52 anos... muitos suspeitavam que ela havia cometido suicídio ou sido forçada a fazê-lo.

Ludovica caiu sentada na cama, encarava o chão.


Eu não disse nada, apenas olhei quais foram os arrependimentos que lhe passaram pelos olhos.

Ele mirou os lumes em mim, ambos cheios de opacidade, enquanto eu empurrava a faca contra sua bexiga, sorrindo cínico.

"P-por quê?"

E agora, eu finalmente conseguia responder essa pergunta.

"Por diversão"

Você é livre para fazer suas escolhas... entretanto, será eternamente prisioneiro das consequências... era o que minha mãe sempre me dizia... será por isso que ela fazia o que fazia? As drogas a faziam pensar nesse ditado? Provavelmente.

"Dimitri, pare!!" Minha mãe gritava, enquanto eu continuava a esfaquear meu pai.

Vi ela correr para o andar de cima, assustada.

"Mamãe" cantarolei "mamãe, não fuja de mim. Sou eu, seu Dimie"

No momento em que eu a achei, ela estava com uma fresta da porta aberta. Bati contra ela, acertando a quina da porta em uma de suas mãos que estava entre o vão aberto.

Sangue escorreu pelo batente, enquanto ela gritou, caindo sentada no chão, segurando a destra.

"Ai... te machuquei, mamãe"

Olhava para ela, segurando a faca apontada para baixo. Com um riso infantil que consegue arrepiar qualquer um, avancei contra ela, a esfaqueando umas vinte vezes. Não conseguia lembrar, nem contei, apenas fiz.

Sangue respingava por todas as minhas roupas.

"Nada disso teria acontecido se vocês não fossem pais horríveis que passavam mais tempo com prostitutas e traficantes do que com os próprios filhos" berrei, ainda a esfaqueando.

Parei ao sentir a ponta afiada da faca bater contra o osso de sua costela.

Foi bem naquele momento...

Naquele momento de silêncio...

Em que eu finalmente tive paz...

A Paixão do Imortal 3: Vidas DestruídasOnde histórias criam vida. Descubra agora