Através do Espelho

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Ter ser corpo tomado de si deve ser uma das sensações mais angustiantes... não deveria ser possível. Não era possível.
Então por que aquilo havia acontecido?

Me aproximei do espelho, fazendo um círculo de vapor, o olhando seriamente.

— O que você quer? — A expressão era nitidamente alterada, como se o espelho pudesse ser atravessado. Como se eu pudesse desfocar sua imagem com a ponta de meu indicador.

— Alguém está de mal-humor...

— Você estaria de que jeito se acordasse e alguém tivesse se apossado de seu corpo e prendido você em uma droga de espelho??

— Relaxa, aí. Faz tanto tempo desde que nos vimos pela última vez e está com raiva de mim? Que gracinha.

— O que quer de mim?

— Criar uma segunda vida que não é.

— Então por que não me devolve a porra do meu corpo?

— Gosto dele. Posso agir como um ser humano normal e não como uma ilusão de sua cabeça deturpada.

— Eu odeio você, Parker.

— Que adorável. Sou grato pelo seu carinho. Talvez isso não dure muito tempo. Talvez dure menos do que você imagina... ou quem sabe não.

Ele bateu no espelho, me fazendo rir.

— Você é patético. Agora entendo o motivo de tantos te acharem ingênuo e tolo.

Tirei os óculos e os larguei na bancada.

— Bem melhor. O que achou? Muito diferente?

— Eu não sei como acreditam que você sou eu.

— Porque eu sou você, Dimitri. Só que melhor.

— Você não passa de uma versão má minha, cujo meu cérebro inventou para eu não me sentisse mal pelas coisas que fiz!

— Olha... não está errado, porém também não está certo. Digamos que sim, mas não sou uma "versão má sua".

Batidas na porta me fizeram desviar o olhar, certamente desinteressado pelo que seja que estava a me interromper.

— Entre.

Ludovica abriu a porta, antes de andar até mim. Fiz questão de deixá-la de costas para o espelho, apenas com a intenção de fazer meu querido hóspede ter esperança de que se mirado, conseguiria ser visto.

Pobre criança, ainda continha inocência dentro de si...

— Eu e Lucas vamos sair essa noite. Quer vir com a gente?

— Seria um grande prazer, minha bela dama.

Ela me deu um casto selar e saiu do quarto.

Meu sorriso permanecera estampado no rosto, enquanto voltei a mirar o espelho.

— Se eu conseguisse sentir pena... talvez você até me comovesse.

— Ainda não sei como consegui ter um demônio pessoal tão filho da puta.

— Talvez seja porque não sou um demônio pessoal, Dimitri.

Ele me olhou de forma ameaçadora. A raiva em seus olhos era nítida.

— Essa noite vai ser interessante. Eu até competiria... mas nós dois sabemos quem fode melhor...

A Paixão do Imortal 3: Vidas DestruídasOnde histórias criam vida. Descubra agora