Real
Três meses.
Esse era o tempo em que estava na Primaveril desde Sob a Montanha. Era o tempo em que eu acordava todas as noite com os pesadelos e caminhava até o amanhecer do dia nos jardins – apenas aproveitando a luz do luar e o brilho do céu estrelado. Três meses de uma noite em que Lucien e eu deixamos o vinho e nossa fraqueza falar mais alto que nós mesmos – uma noite que nunca mais foi falada –. Três meses do meu pedido a Rhys. Um pedido que nunca foi atendido. E eu o odiei um pouco por isso, porque eu precisava, mas eu não tinha direito nenhum de reclamar.
Minha mente ainda parecia uma confusão do que era real e do que não era, e por mais que Lene tente me convencer de que nada aconteceu naquele mês que passei sozinha, eu simplesmente não consigo evitar de imaginar os mais diversos cenários. A maioria deles acabando com a morte de alguém que eu amo.
Real. Real. Real. Real. Real.
Eu tentava me convencer enquanto deixava minha cabeça pender para trás. O suor frio descendo por todo meu corpo, meus ouvidos zunindo com os gritos e choros que ecoavam.
Eu saí. Isso é real.
Minhas mãos limpas espalmadas contra o chão. Real. A luz que vinha do quarto já todo aceso. Real. A camisola de seda que grudava no meu corpo por conta do suor. Real. A respiração de algum dos feéricos da casa. Real.
Eu achava que meus poderes sendo mestiça já eram fortes, mas com o corpo inteiro feérico algumas coisas se tornavam insuportáveis. A força, a audição, o olfato e até a sensação de água perto. Tudo parecia me irritar atualmente.
Preciso sair daqui. Foi a primeira coisa que pensei enquanto lavava meu rosto e encarava meu reflexo no espelho. Preciso ir para qualquer lugar longe daqui. Mas as pessoas não me deixavam sair dos arredores da mansão, não me deixava ir fazer as patrulhas com Lucien, ou ajudar na reconstrução dos pequenos vilarejos. Eu não podia sair. Estava presa novamente.
Tentei procurar uma resposta naquela ponte dentro de mim que me ligava a Rhysand, mas estava tudo quieto. Nenhum sussurro sequer passava por ali. Cheguei a me perguntar se ele havia me escutado da primeira vez, mas não ousei tentar conversar com ele novamente. Já havia me convencido de que não o veria novamente, mesmo com o acordo, e teria que me adaptar a viver na Primaveril, presa; até porque Tamlin havia proposto casamento à Feyre.
Presa como estava em Sob a Montanha. Presa dentro daquela cela. Sozinha com o silêncio e a escuridão.
Estiquei os dedos e fiz meu caminho até os jardins.
Real.
Todo o jardim era real. As flores, as árvores, o céu, os bancos que estavam espalhados, as pequenas luzes que o davam um ar quase mágico. A brisa que ia e vinha levemente, balançando meu cabelo e adentrando meus pulmões.
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Corte de Mudanças e Sonhos - Versão Antiga
FantasíaA maldição foi quebrada e Amarantha está morta. De volta a Corte Primaveril, Layla tenta viver com seus novos pesadelos e seu novo corpo. Ela só se sente segura em um lugar, mas ela pode ir para lá apenas uma semana em cada mês. Mesmo morta, a Grã-R...