Uma amizade inesperada

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Um belo dia quando eu passava pela janela do meu quarto,me deparei com a vizinha da casa da frente,varrendo a calçada.Logo me veio na memória,o que tinha acontecido com o seu marido.

E isso me deixou extremamente triste.

Nossa realidade agora é bem parecida,somos mães viúvas, tentando engolir o sofrimento,para dar o melhor para as nossas filhas.

Devido as dolorosas circunstâncias,tínhamos algo em comum.

Talvez se eu tentar uma aproximação,podemos nos tornar amigas,e até enfrentar isso juntas.

Até porque ninguém entende melhor a sua dor,do que eu.

___Oi.

___Oi.

Ela me lançou um olhar vago e continuou a varrer a calçada.

____Desculpa,eu não me apresentei,meu nome é Nora - Estendi a mão pra ela, enquanto tentava equilibrar Maria no outro braço.

Ela olhou para a minha mão e depois pra mim,mas não apertou.

____Olivia.

Era obvio que ela estava incomodada com a minha presença ali,mas mesmo assim eu insisti.

____Não sei se você lembra de mim,a gente nunca conversou,mas eu moro aqui na frente - Apontei com um sorriso no rosto.

___Você é a mulher de Cristian,não é mesmo ? - Perguntou se apoiando na vassoura.

___ Sou sim - Confirmei com um nó na garganta.Voce o conhece?

___Só de vista,mas o Victor,meu marido conhecia melhor do que eu - Ela disse com um olhar perdido.Eles eram amigos sabe.

____Estranho,Cristian nunca me falou dele,enfim sinto muito pelo o que aconteceu - Lamentei

____Ah obrigado - Ela se virou e olhou para a filha que brincava de molhar as plantas,depois voltou a olhar pra mim, com os olhos cobertos de lágrimas.

___Eu sei como é perder alguém que a gente ama - Desabafei.

___O que quer dizer? - Ela secou as lágrimas com a blusa depois me olhou confusa.

____Cristian ele... - Fiz uma pausa pra respirar um pouco,antes de continuar.  Bom ele se foi - Completei com a voz embargada.

Ainda era muito difícil falar sobre o assunto,sem derramar um rio de lágrimas.

___Ai que droga,me desculpa - Sorri entre as lágrimas.

____Nossa,eu não sabia,sinto muito mesmo - Lamentou.Ele parecia ser um homem decente.

____Ele era - Solucei. Ele era o meu mundo.

_____Então é  por isso veio falar comigo, acha que só porque temos algo em comum,que deveríamos ser amigas. Ela voltou a varrer a calçada indiferente.

Agarrei sua mão subitamente,e ela me olhou assustada.

____Não,não é nada disso,acredite,eu vi o seu marido sair com o carro,eu me sensibilizei com a sua dor,só não me aproximei antes,porque..porque eu não sabia como fazer isso,nunca tinha passado por nada parecido,mas agora eu sei,e é por isso que eu estou aqui,pra te dizer que você não está sozinha nessa.

Ela puxou o braço de maneira brusca.

____Muito gentil da sua parte,Nora,mas eu não preciso da sua pena,e agora se me da licença, eu preciso entrar.

____Nãooo, por favor.

As lágrimas desceram sem parar pelo meu rosto.E por um momento isso a comoveu.

Ela olhou para Maria nos meus braços,e seu rosto se contorceu com pena.

Sorriu eufórica em meio as lágrimas.

____E não sabia,que vocês tinha uma filha.

____Descobri a gravidez,depois que ele morreu.

____Que triste,ele não ter a conhecido,ela é linda.

Senti uma angústia tão grande corroer o meu peito,que comecei a chorar desesperada.

E mesmo sem nenhuma intimidade,ela me abraçou,e eu me senti a vontade para despejar toda a minha tristeza sobre seu ombro.

_____Eu não sei o que fazer,estou tão perdida - Berrei.

____Calma,entre eu vou preparar um chá, pra você se acalmar . Ofereceu passando a mão em meu cabelo.

Nossas filhas ficaram no sofá assistindo a um desenho, enquanto nós duas conversávamos na cozinha.

Como a filha dela tinha crescido,a última vez que eu a vi,ela parecia ter a idade que Maria tem agora.

_____Como ela se chama? Perguntei,olhando para ela na sala.

Olivia se posicionou do meu lado,secando as mãos no avental.

____ Alícia.

A menina que aparentava ter uns três anos,me olhou genuinamente e sorriu,depois voltou os olhos para o desenho.

____Que nome bonito.

____O pai dela quem escolheu - Olivia suspirou.

A garotinha era loira e tinha os olhos esverdeados.Parecendo mais uma boneca.

____Sente-se Nora - Ordenou Olívia sorridente da cozinha.Sorri timidamente para ela e me sentei no sofá.

Corri os olhos pela decoração da casa,e vi várias fotos do Victor espalhadas.

Ele era um rapaz bonito,com expressão fechada, que revelava sua personalidade forte.

" Como ela consegue,olhar para ele todos os dias."

____É o meu papai,você sabia que ele morreu? - Disse Alícia com toda inocência do mundo. Mamãe disse que ele virou um estrelinha brilhante,e foi para o paraíso dos unicórnios.

Ela disse com tanta naturalidade,que eu até me assustei.

___Eu..

____Aqui Nora,quentinho - Olivia disse me oferecendo uma xícara de chá.

Coloquei Maria em um canto do sofá,protegida por algumas almofadas.

____Ah muito obrigado.

_____Se quiser pode deixa-la com a Alícia,ela adora crianças.

Olhei para alicia que me lançou um sorriso doce.

____Está bem.

Coloquei Maria sentada no  tapete da sala e fiquei olhando pra ela de longe.Enquanto tomava o chá.

Pois ela estava começando a dar os primeiros passos,e já tinha nascido alguns dentes.

Sua segurança era minha prioridade.

____Contou para ela? Perguntei sem tirar o foco das crianças.

_____Acredite é melhor contar,conforme vão crescendo,surge as perguntas,e eu não quero que a minha filha chegue um dia da escola chorando,por que alguém disse que ela não tem pai.Aí eu prefiri contar a verdade,hoje ela entende que ele se foi e não vai mais voltar,se agarrando ao fato de que irá encontrá-lo algum dia,no paraíso dos unicórnios - Ela sorriu emocionada.Não importa quão dolorosa a verdade possa ser,ela sempre precisa ser dita, é claro que eu contornei uma pouco,por ela ser uma criança,mas assim que ela crescer mais um pouco,eu vou contar toda a verdade.

Senti que suas palavras,eram como uma indireta pra mim.

____Eu comecei a ir na igreja,depois que Victor faleceu,e confesso que tem me ajudado bastante,ligar a morte dele como algo divino, foi a melhor maneira que encontrei pra lidar melhor com a dor,você poderia ir comigo,um dia desses.

____Sim claro,eu adoraria - Sorri abertamente com o convite.

____Otimo,combinado então - Ela abriu um sorriso amarelado,e apertou a minha mão.

Depois desse dia,viramos grandes amigas,passei a frequentar a igreja todos os domingos,junto com ela e Alícia ,e também a sua casa.

Pouco a pouco íamos construindo uma linda amizade.

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