— Por Deus, que mira extraordinária... — Algernon murmurou para si mesmo, examinando um documento contra a luz adamascada que entrava pela janela.
— Esse só pode ser o trabalho de um militar ou caçador. Alguém que realmente sabia o que estava fazendo — Harper prosseguiu.
— A bala percorreu cerca de catorze metros, o que, considerando a largura da rua e a altura até o ponto onde Thomas estava — Charlotte disse, apontando para um esboço que fizera mais cedo —, implica uma inclinação de aproximadamente 26° para chegar até o segundo andar.
Ela fez uma pausa antes de continuar e, fechando os olhos, pôde visualizar o corpo sem vida de Thomas Somerset caído ao chão como o de um dançarino. Seus olhos fixos no teto do quarto, como os de um pássaro alheio ao véu cinzento da cidade. Charlotte sabia que a impressão que tivera não possuía base científica alguma, mas ela achava interessante observar como as feições de Thomas exibiam um tipo alegria assustadora. Talvez fosse mais confortável acreditar que o garoto não havia sofrido, que não tivesse premeditado aquilo, mas Thomas realmente vivia em poesia. Na poesia ilusória que criara para si mesmo e que o tornava alheio ao negrume da cidade na mesma medida com que a Natureza erroneamente torna o pássaro alheio ao véu cinzento. Alheio à arma de caçador que em instantes o abate.
Aquela cena a recordava de algo distante. Anos distante.
— Pela posição do corpo no chão, Thomas Somerset me parece ter sido um alvo ainda mais difícil — Algernon iniciou.
Charlotte revirou os olhos, discreta. Ele dissera exatamente o que ela estava pensando em dizer.
— Com certeza. Pela posição de suas pernas, entrelaçadas e retorcidas, Thomas Somerset esteve em movimento antes de morrer — ela respondeu.
— Mas a questão é: por quê? Que tipo de movimento ele poderia estar fazendo no meio da madrugada?
— Depende de seu estado psicológico.
— Acho que seria um capricho irracional querer uma informação desse tipo.
— De qualquer maneira, só existem duas possibilidades. Ou Thomas Somerset estava preocupado, ou estava empolgado. Ambos os extremos podem explicar seu movimento. Thomas certamente esteve andando, provavelmente de um lado para o outro do quarto. Se apenas estivesse parado em frente à janela, a quantidade de fiapos em suas meias não seria tão grande.
— Os fiapos nas meias... O carpete realmente não era dos melhores — provavelmente da Benny's, aquela loja de esquina... Bom, ele claramente esteve andando; ou por preocupação ou empolgação. Pode ter estado andando em círculos também. Em todo caso...
— Isso só prova o quão admirável é a mira do assassino de Thomas Somerset — Charlotte completou.
— Mas por que exatamente ele estaria andando? — Algernon tinha as sobrancelhas franzidas. — Acha que Thomas sabia de algo? No caso da hipótese de preocupação.
— Se soubesse de algo sobre o próprio assassinato, Thomas não teria estado em frente à janela.
A conversa entre Charlotte e Algernon mais parecia uma furiosa partida de xadrez, na qual mal era possível identificar o movimento de um jogador antes que o outro atacasse engenhosamente, mas de maneira impulsiva.
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O Cisne do Submundo
Mystery / ThrillerMagdalene Walters nunca se destacou na sociedade, isso até seu pai ganhar uma fortuna no submundo inglês; fortuna grande o suficiente para fazer com que sua lista de pretendentes se tornasse impossível de contar nos dedos. Alguns poderiam proporcion...