IV

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Alejandro deitou-se sobre os lençóis brancos da cama arrumada. A hotelaria poderia não ter uma das melhores fachadas, mas era confortável por dentro. Deixou as malas em um canto do quarto, perto da janela, essa coberta por uma persiana limpa, mas levemente surrada nas pontas, provavelmente devido ao tempo. Jogou-se sobre o colchão, ouvindo as molas rangerem em resposta ao peso. Tentou organizar seus pensamentos, mas eram muitos para colocar em ordem. Uma quantidade absurda. Incontável, por assim dizer.

A verdade é que não tinha planejado nada daquilo. Não havia se preparado para qualquer situação futura. Havia se precipitado ao ponto de deixar sua cidade natal sem a certeza de uma oportunidade de emprego. "Mas isso é o que todos fazem, não?" Era a pergunta que fazia a si mesmo como forma de conforto.

Ainda assim, em seu interior, as críticas pesavam ainda mais. Todos os vizinhos e familiares imaginavam que sua repentina mudança de país pelo menos lhe garantiria um trabalho braçal rapidamente. Mal sabiam que essa não era a realidade da "Terra Próspera" da qual tanto haviam ouvido falar. A verdade era que a fuligem cinzenta da Londres industrializada escondia demônios extraordinários. Tentava, a todo custo, driblar a inevitável conclusão à qual seus pensamentos insistiam em levá-lo: se não tinha certeza de que Londres poderia lhe proporcionar um emprego, por que havia deixado a mãe para morrer? "Assassino". Mais uma vez, tentara recorrer aos pensamentos reconfortantes que usualmente contrariariam as paranoias inescapáveis, porém o estoque parecia ter se esgotado.

Desde criança, ouvia familiares dizerem que era um jovem garoto muito determinado e que conseguiria tudo o que quisesse. Talvez essa reputação tivesse desvanecido em meio aos boatos que corriam pela vila que deixara há alguma semanas, entretanto, a determinação com certeza não o tinha deixado. Nem mesmo se fosse para contrariar aqueles que disseram que Alejandro não prosperaria na Inglaterra; ele sabia que se desdobraria para conseguir uma vaga. Onde quer que fosse. E, para isso, precisaria se apressar. E, talvez, contar com quem quer que fosse.

Ouviu-se o tilintar das chaves quando puxou o molho da mesa de cabeceira e encaixou a maior delas no buraco da fechadura, saindo em direção ao corredor.

* * *

— Com lincença, senhor — voltou-se ao balconista que o tinha recebido cerca de uma hora atrás.

— Olá, meu jovem — respondeu, tirando o cachimbo dos lábios enquanto rabiscava algo em um papel. — Precisa de algo?

Alejandro, que antes poderia ser considerado o ser humano mais resoluto e seguro de si, um verdadeiro senhor de si mesmo, agora suspirava inseguro, olhando para os lados, como se as paredes pudessem desabar sobre seu corpo.

— Fique à vontade — incetivou o senhor por trás do balcão.

— Bom, indo direto ao ponto, preciso de um emprego. Sei que o senhor não é o mais indicado para resolver meu problema, mas...

Antes que Alejandro pudesse terminar seu discurso, o homem deu uma risada estridente.

— Sabia que respondo a essa pergunta praticamente todos os dias?

O homem saiu de trás do balcão e fez menção para que Alejandro se sentasse em uma poltrona.

— Pessoas como você chegam aqui aos montes — disse, apoiando as pernas sobre uma mesa de centro de madeira, provavelmente feita pelo próprio proprietário da hotelaria. — Mas não se engane. Apenas os mais sortudos conseguem pisar aqui.

O Cisne do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora