— Vejo que caçar lhe fez bem. O senhor não parece tão pálido quanto antes.
— Não é possível curar essas coisas com uma caça, Fernando, mas agradeço imensamente pela disponibilidade. Suas intenções sempre serão as melhores — Sebastian apertou o pescoço do faisão que carregava na mão esquerda.
— Eu sinto muito. Não posso imaginar o quão difícil deve estar sendo para você e Magdalene...
— Na verdade, nós não éramos tão próximos, mas eu vi o garoto crescer — ele suspirou pesadamente.— Saber que Thomas morreu tão jovem e de maneira tão... tão...
— Brutal?
— Brutal e... súbita... é terrível. Parte de mim ainda não acredita que isso aconteceu. Embora não nos encontrássemos com frequência, ainda espero vê-lo em um dos nossos jantares... puxando a cadeira para a mãe se sentar e cortejando Magdalene quando os adultos já estavam bêbados demais para se importar — ele abriu um sorriso melancólico.
— Lady Eva deve estar arrasada — Fernando falou, passando a mão por uma árvore em cujo tronco se liam as iniciais M e F inscritas.
— Com toda a certeza. Apesar do dinheiro e do título, Lady Eva Somerset não tinha nada. O filho era sua única fonte de alegria. Mesmo se perdesse tudo... desde que tivesse Thomas por perto, ela seria feliz... — Sebastian parou subitamente sob uma clareira — Isso fica entre nós, escutou, garoto?
Fernando anuiu.
À medida que se distanciavam do córrego em torno do qual caçavam, a mata ia se tornando progressivamente menos densa, e as árvores de tronco torto iam ficando para trás, banhadas pelo incomum sol de inverno. Seria um belo dia não fosse pelos resquícios do assassinato que impregnavam o ar seco da manhã.
— Uma pena que a memória de Thomas não vá ser preservada com dignidade — Fernando iniciou.
Sebastian não respondeu, e um pássaro chilreou em seu lugar.
— Mesmo se os boatos forem verdadeiros, as declarações do marquês de Warren são completamente indelicadas, não concorda, Sr. Walters?
Não houve resposta. Do alto de uma faia, o pássaro chilreou novamente, produzindo um som semelhante ao de uma risada. Sebastian parou no meio da trilha e apontou o rifle para o galho mais alto da faia. Logo após o disparo, ouviu-se o som abafado de algo caindo sobre a neve.
— O que você quer dizer com isso?
Fernando cessou a caminhada, com Sebastian a poucos metros atrás de si, e hesitou por alguns momentos antes de responder:
— As más-línguas dizem que Thomas Somerset esteve envolvido no escândalo da Cleveland Street*. Talvez seja por isso que o marquês declarou que não lamenta a morte do neto. Ora, isso é absurdo! É claro que muito foi encoberto para poupar o nome das famílias, mas acusar o falecido neto de coisas tais baseado apenas em um boato é um tremendo desrespeito. O marquês ainda disse que, se pudesse, teria deserdado...
— Thomas nunca foi um santo, e Eva nunca soube colocá-lo na linha. Bem, se soubesse, essa fatalidade provavelmente não teria acontecido... Quem mais teria motivo para assassinar um aristocrata de vinte e poucos anos? Com certeza algum daqueles pervertidos imundos a quem Thomas vendeu o que sobrou de sua dignidade.
— Sr. Walters, acredito que não seja civilizado colocar um assassinato dessa maneira.
— Civilização, Fernando? Como é possível falar em termos de civilização sobre alguém como Thomas Somerset? — Sebastian cobriu o rosto com uma mão. — Não se trata de um mero boato. Não estamos falando de... de traição. Um bordel homossexual! Pelo amor de Deus, onde foi parar o respeito aos bons costumes?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Cisne do Submundo
Misteri / ThrillerMagdalene Walters nunca se destacou na sociedade, isso até seu pai ganhar uma fortuna no submundo inglês; fortuna grande o suficiente para fazer com que sua lista de pretendentes se tornasse impossível de contar nos dedos. Alguns poderiam proporcion...