PRÓLOGO

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BEATRIZ

– Hora do óbito 3:45 – falo com a voz desanimada e olho para a jovem mulher deitada sobre o leito cirúrgico e solto um suspiro desanimada.

Durante quatro horas tentamos salvar a vida da mulher e do bebê, mas não foi possível, o acidente de carro foi muito feio e ela já chegou nas minhas mãos em estado crítico, mas ainda sim eu tinha esperança que desse certo. Olho para a obstetra que me encara espelhando a mesma tristeza que eu, deixo a paciente para que seja fechada e encaminhada para o necrotério.

– Você fez um bom trabalho – a instrumentista, que é uma amiga desde que comecei a trabalhar aqui, fala enquanto retiro minhas luvas e o restante do equipamento cirúrgico e coloco no local adequado.

– Mas ela não sobreviveu. Há três anos sou cirurgiã  e nunca fica fácil, pode passar o tempo que for eu nunca vou me acostumar a perder alguém na minha mesa de cirurgia.

Me lavo e saio do centro cirúrgico indo até a recepção no caminho pego a ficha da paciente porque até agora eu só sabia o nome dela: Janine Oliveira Peres, paro um segundo e faço uma oração para que ela esteja em um bom lugar com o seu bebê, limpo a lágrima solitária que cai, me recomponho e vou avisar a família sobre o que aconteceu.

– Onde estão os familiares de Janine..Começo a falar com a enfermeira, mas algo me faz parar, sentado em uma cadeira próxima onde está o meu noivo e a irmã dele, deixo a prancheta sobre o balcão e me aproximo dele.

- Amor, o que aconteceu? O que houve com o seu rosto? – ele tem um grande curativo na testa, seu rosto está sujo de sangue e seu nariz com certeza está quebrado. Começo a passar a mão sobre seu rosto tentando ter a dimensão do estrago

– Doutora Beatriz, esse é o namorado e a cunhada da paciente Janine.

– Não, é algum engano – respondo sem olhar para ela ainda concentrada nos machucados do meu noivo,mas algo no olhar que ele me dá faz meu coração bater acelerado.

– Não é um engano doutora o senhor Lucas era quem estava dirigindo o carro. – Quando as palavras da enfermeira me alcançam eu largo o rosto dele como se a pele tivesse eletrocutado os meus dedos.

Meu mundo inteiro desabou sobre a minha cabeça com essas palavras foi como levar vários tapas no rosto me deixando desorientada e confusa, não pode ser verdade, o homem com quem eu irei me casar não pode estar me traindo. Não pode, não pode.

– Beatriz eu sinto muito, eu... – ele pega no meu braço e assim eu acordo pra realidade mais uma vez.

– Senhor Lucas Andrade – falo colocando minha máscara super profissional no rosto, mesmo que eu esteja desabando por dentro aqui é o meu local de trabalho e tem uma mulher morta lá dentro e eu preciso dar a notícia. – A paciente Janine Oliveira chegou aqui com o quadro bastante grave, ela chegou com o quadril quebrado o que afetou o bebê a minha colega obstetra fez uma cesariana de emergência, mas infelizmente o bebê era muito pequeno e não resistiu.

Vejo ele se dobrar de dor e eu quero me dobrar de dor, a irmã segura em seus ombros e eu a olho com tanta mágoa e rancor, ela estava tomando sol comigo na beira da piscina no sábado enquanto sabia que o irmão estava me traindo e seria pai.

– É a Janine, onde está a minha mulher. – ele fala e eu ofego como se alguém tivesse chutado o meu abdômen com toda a força.– Não Beatriz eu não quis..

- Trabalhei junto com o cirurgião de trauma para tentar salvar a Janine, mas a situação dela piorou e não conseguimos controlar a hemorragia interna, sinto muito, mas ela não resistiu.

Ele cai de joelhos à minha frente, gritando e se debatendo, eu permaneço parada no mesmo lugar incapaz de chorar, incapaz de sair andando, incapaz de dizer alguma coisa; a parte racional do meu cérebro sabe que eu estou em choque e preciso me afastar para que eu não sofra mais, mas a parte emocional tomou conta de mim controlando todo meu corpo.

– Você fez de propósito? Você a deixou morrer?

– O que? Não – falo com voz fraca e fecho os olhos quando as lágrimas começam a cair, mas pisco os olhos quando sinto meu corpo ser empurrado e percebo que quem fez isso foi o Lucas, enquanto ainda estou atordoada ele volta a gritar.

– Foi algum tipo de vingança? Você já sabia sobre nós e matou o amor da minha vida!

Os seguranças do hospital vem é o tiram de perto de mim,minha amiga Juliana abraça os meus ombros me afastando de toda a confusão, meu corpo age no automático, minhas pernas se movimentam sozinhas, viro a cabeça para trás e são precisos três seguranças para conter o meu noivo, aliás ex noivo agora, que grita para todo o hospital ouvir:

– assassina, você é uma maldita assassina.

– assassina, você é uma maldita assassina

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