Capítulo 2

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GREGÓRIO

– Lorran vem rápido, você já está atrasado – grito pela segunda vez pelo meu filho e dou uma espiada em direção a escada e vejo ele descendo arrastando a mochila pelos degraus, quando ele finalmente senta a mesa percebo a cara de desanimo dele – vamos se anima não é tão ruim, você sempre gostou de ir a escola.

– Não quando está rolando o torneio interclasses, eu não posso ficar em casa só essa semana?

– O filhão você sabe que não, a escola conta a presença e você não pode levar sete faltas e se a sua turma passar para a próxima fase vão ser quinze dias de faltas o que é inadmissível, sem contar que o conselho tutelar ia bater na nossa porta.

– Haammm. – ele grunhe um barulho indecifrável, mas abaixa a cabeça e começa a consumir seu café da manhã, mas o silêncio dura pouco – seu pudesse pelo menos jogar e não ficar que nem um otário na arquibancada.

– Olha o palavreado Lorran.

– Mas é a verdade, não tem palavra que descreva melhor que otário, todos os meus amigos vão jogar e só eu vou ficar lá sentado, vou ser a torcida de um homem só. – ele diz chateado e meu coração se aperta por não poder fazer nada a respeito.

– Filho você sabe que está cada vez mais perto da gente resolver o seu problema, aguenta mais um pouco, o pai ta juntando o dinheiro. – Passo a mão por seus cabelos crespos, mas ele desvia a cabeça e eu suspiro chateado é horrível quando você não pode realizar um desejo tão simples do próprio filho.

– Eu já tenho dez anos pai, a minha vida tá acabando eu não aproveitei nada.

– Que história é essa da sua vida estar acabando? A gente já chegou até aqui, não fala uma besteira dessa.

– Tá acabando sim pai, eu já tenho dez anos, com mais dez eu vou fazer vinte anos e então já vou ser um velho careta que tem que trabalhar.

Não sei se eu fico chocado ou chateado por ele achar que aos vinte anos já se é velho, imagina então eu que já estou na casa dos trinta. Mas ao mesmo tempo é reconfortante saber que ele é tão jovem que não entende nada da vida, é um frescor presenciar o imediatismo infantil.

– Papai, acho que estou ficando com febre – ele fala me tirando dos pensamentos.

– Lorran nunca brinque ou minta sobre a sua saúde.– falo bravo.

– Desculpa papai, mas você não pode me culpar, eu tinha que tentar.

– Vá escovar os dentes que a gente sai em dois minutos.

Deixo o Lorran na escola e corro para o trabalho literalmente corro, pois estou cinco minutos atrasado, o bom é que em cidade pequena tudo é perto e o colégio onde dou aula fica apenas uma rua de distância. Para dizer a verdade tecnicamente leciono na mesma escola que o meu filho estuda só que em prédios diferentes, enquanto ele fica no prédio que chamamos de infantil, pois é onde estão as turmas de ensino infantil e fundamental, eu dou aula no prédio onde se encontram as turmas de ensino médio.

A semana é de torneio interclasse, os alunos jogam vários esportes as turmas competem entre si, no final tem premiações é uma festa de encerramento . para os alunos tudo é sobre diversão, competição e dias sem aula, mas para nós professores é uma semana de muito trabalho e como eu sou o professor de educação física sou o responsável por organizar tudo isso.

Como o esperado o meu dia foi um loucura os alunos estavam em polvorosa e se já é difícil nos dias de rotina controlar adolescente bagunceiros e com os hormônios a flor da pele imagina quando reunimos todos na quadra de esportes e os pedimos para competir, a euforia tomou conta de todo mundo teve muitos gritos, comemorações e algumas brigas. Estou louco para comer e tomar um banho gelado, mas antes de ir para casa preciso passar no supermercado, pois a geladeira está quase vazia e meu filho não pode ficar comendo porcarias.

MEUS PARA CUIDAROnde histórias criam vida. Descubra agora