Capítulo 1

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BEATRIZ


– Você não pode fugir assim Beatriz, eu sei que o que aconteceu foi horrível e eu vou socar a cara daquele canalha assim que eu tiver a oportunidade, mas você não é a errada dessa história. Você não pode agir como um covarde e fugir.

– Jura Bento? Você vai me dar lição de moral sobre abandonar as responsabilidades e fugir, logo você? – grito na cara do meu irmão, ele pode ser mais alto e mais velho que eu, mas não vou deixar de bater de frente com ele.

– Ela tem razão, você não tem moral, deixa que eu falo. – Benício se intromete no meio da conversa, mas o que penso para o Bento vale para ele também.

– Você também não tem moral, deixou sua mulher fugir grávida por sete anos só porque não conhece o significado de diálogo ou até mesmo exame de DNA. Nenhum de vocês tem o direito de vir aqui me julgar.

– Ai, essa doeu..

– Não estamos te julgando meu amor, estamos preocupados com você. Ficamos uma semana sem notícias suas, quase reviramos Curitiba atrás de você só para descobrir que você estava aqui em Minas. – Bento fala e me abraça, eu aconchego a cabeça em seu peito respirando fundo tentando não chorar.

Depois do que aconteceu com meu ex-noivo eu tentei manter uma rotina, voltei ao trabalho e caminhei pelos corredores do hospital fingindo não notar o olhar de pena dos meus colegas e amigos, eu engoli meu choro para que meus sobrinhos não soubessem que a tia estava triste, eu ignorei as mensagens e ligações que aquele homem fez, me blindei para que a existência dele fosse excluída totalmente da minha vida.

Por um mês eu consegui fazer com que todos ao meu redor acreditassem que eu estava bem, superando, chegou a um ponto que até eu acreditei que estava bem, tá que eu chegava todos os dias em casa e chorava no meu travesseiro até dormir revivendo tanto a traição quanto a perda da paciente. É válido dizer também que engordei cinco quilos, pois não fiz uma refeição decente durante esse tempo e só me alimentava de comida congelada o que me fazia sentir culpada já que eu via todos os dias no meu trabalho o que esse tipo de alimentação desregrada faz com o coração de uma pessoa, voltando ao assunto apesar dos meus momentos depressivos eu pensei que estava lidando bem com o assunto.

Mas a exatamente vinte dias atras eu simplesmente me desliguei o peso de tudo bateu sobre minha cabeça e foi como se o meu cérebro ficasse em branco, isso não seria um problema se eu estivesse a noite em casa, ou se eu estivesse com um dos meus irmão ou cunhadas ou mesmo se eu estivesse em um bar enchendo a cara de gin, cachaça e cerveja com as minhas amigas. Mas isso aconteceu quando eu estava na sala de cirurgia com o paciente aberto na minha mesa.

Depois disso eu não me lembro de nada só de acordar cinco dias depois na minha cama, esses dias foram um total borrão na minha cabeça eu nem me lembro se fiz minhas necessidades no banheiro ou se alguém teve que me limpar. Fiquei sabendo depois que o paciente estava bem, pois por sorte outro cardiologista estava livre no hospital, mas eu tive que passar por uma avaliação do hospital e a minha carreira exemplar agora tem uma mancha.

– Eu só precisava de espaço, tá legal, peço desculpas por não ter avisado, mas eu estava com a cabeça muito cheia. O hospital me deu "férias" de noventa dias – faço aspas na palavra férias por que na real fui praticamente obrigada a me afastar das minhas funções – eu quase matei outra pessoa caramba.

– Ei, olha pra mim – Bento fala colocando as mãos em meu rosto e me fazendo olhar em seus olhos castanhos parecidos com os meus – você não matou ninguém, nunca mais repita isso. Você fez de tudo para salvar aquela mulher, você não sabia quem ela era e tenho certeza que se soubesse teria lutado o dobro para salvá-la.

MEUS PARA CUIDAROnde histórias criam vida. Descubra agora